01/03/2024 - 13:55
Dois terços do avanço de 2,9% registrado pelo Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023 tiveram influência do setor externo, enquanto a demanda interna contribuiu com apenas 0,9 ponto porcentual. O resultado do PIB no ano passado foi divulgado nesta sexta-feira, 1, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a política monetária restritiva contribuiu para essa menor contribuição da demanda doméstica no PIB, enquanto setores exportadores se sobressaíram.
Sob a ótica da demanda, o salto recorde de 15,1% da Agropecuária deu contribuição fundamental para o avanço do PIB, cerca de 1 ponto porcentual, enquanto a expansão de 8,7% nas indústrias extrativas ajudou com mais aproximadamente 0,5 ponto porcentual.
Considerando as 12 atividades econômicas, apenas duas tiveram retração em 2023, construção (-0,5%) e indústria da transformação (-1,3%), justamente as mais sensíveis a uma política monetária restritiva, apontou Palis.
“Os juros começaram a baixar, mas ainda estão num patamar considerado alto”, disse a coordenadora.
No caso da agropecuária, Palis lembrou que a atividade teve ganho de peso no PIB em meio à pandemia, por ter sido o setor que menos sofreu com as restrições.
“A agropecuária teve algumas vantagens em relação às outras atividades durante a pandemia. A extrativa também foi uma das atividades menos afetadas pela pandemia”, disse Palis.
Embora o desempenho da agropecuária dependa muito do clima, que foi bastante favorável no ano passado, Palis menciona que houve um conjunto de fatores que beneficiou o segmento.
Ela cita o crescimento da indústria alimentícia em 2023 e o avanço no consumo das famílias. Segundo Palis, os programas de transferência de recursos no governo e a alta na renda proveniente da melhora no mercado de trabalho ajudaram a aumentar a aquisição de produtos essenciais, como os alimentos.
“A gente teve um tempo com os preços altos de produtos agropecuários, isso incentivou investimentos (na lavoura)”, completou.
O PIB da Agropecuária chegou ao quarto trimestre de 2023 em nível 16,4% abaixo do pico visto no primeiro trimestre de 2023, quando houve concentração da supersafra de soja.
“Um terço do crescimento da economia em 2023 se deveu ao crescimento da agropecuária”, disse ela, lembrando que a agropecuária e a extrativa somaram juntas metade do crescimento da economia no ano passado.
O PIB como um todo se manteve, no quarto trimestre de 2023, no patamar recorde da série histórica, assim como o PIB de Serviços.
No ano de 2023, o PIB de serviços cresceu 2,4%, tendo como destaque os serviços de atividades financeiras (6,6%) e de atividades imobiliárias (3,0%).
As atividades financeiras foram o grande destaque nos serviços, situando-se entre ramos que mais contribuíram para a alta do PIB, com desempenho bastante puxado pelo ganho das seguradoras. Houve maior contratação de seguros, com redução na ocorrência e pagamento de sinistros, explicou Palis. Também houve crescimento na parte da intermediação financeira, via bancos intermediando empréstimos, gerando ganhos diante dos juros mais elevados.
“As pessoas têm feito mais seguros, e não tem tido tanto sinistro. Acaba tendo ganho para seguradoras”, explicou “Atividades imobiliárias tiveram ganho, que foi compatível com o aumento que tivemos no número de domicílios”, acrescentou.