O dólar à vista apresentou ligeira valorização nesta abertura de semana, em dia marcado por sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior e por um pequeno avanço das taxas dos Treasuries. Na ausência de indicadores relevantes nos EUA, investidores absorveram nova rodada de comentários cautelosos de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em relação aos próximos passos da política monetária.

Entre o fim da manhã e o início da tarde, o dólar até ensaiou uma queda no mercado local e rompeu pontualmente o piso de R$ 5,10. Operadores relataram internalização de recursos por exportadores, estimulada pela valorização do minério de ferro, e ajustes pontuais de posições no segmento futuro. O real acabou perdendo força ao longo da tarde. Analistas afirmam que a taxa de câmbio ainda carrega prêmios de risco associados à questão fiscal e à piora de expectativas de inflação, chancelada nesta segunda-feira pelo Boletim Focus.

No fim da sessão, o dólar à vista era negociado a R$ 5,1047, em alta de 0,05%, após ter encerrado a semana passada com desvalorização de 1,09%. As oscilações foram bem contidas, com variação de pouco menos que quatro centavos de real entre a mínima (R$ 5,0914) e a máxima (R$ 5,1045). No mês, o dólar ainda acumula baixa de 1,69%. No ano, avança 5,18%.

No exterior, o índice DYX – termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – passou o dia em leve alta, com máxima aos 104,649 pontos. A moeda americana avançou na comparação com maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, que, na sexta-feira, haviam se beneficiado do anúncio de estímulos ao setor imobiliário na China.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que o DXY experimentou certo alívio recente com dados de emprego e inflação mais moderados nos EUA, mas que ainda se mantém em nível elevado, o que contribui para que a taxa de câmbio apresente “rigidez” no mercado doméstico.

Para Velho, com a agenda de indicadores norte-americana esvaziada nesta segunda e na terça-feira, os investidores devem adotar uma postura mais cautelosa e evitar aumento da exposição ao risco à espera da divulgação, na quarta-feira, 22, da ata do Federal Reserve.

“Vejo o Fed mais duro, com diretores mais ortodoxos que o próprio mercado. A curva americana já está precificando queda de juros em setembro. A ata deve reforçar esse tom cauteloso do Fed, sem compromisso de queda de juros. E com isso não há espaço para o dólar ter uma queda consistente”, afirma Velho.

Dirigentes do Fed reiteraram nesta segunda-feira que é preciso mais confiança no processo de desinflação para que haja uma alteração na política monetária americana. À tarde, a presidente da distrital de São Francisco, Mary Daly, afirmou que ainda não vê recuo sustentado da inflação em direção à meta e, por isso, não há pressa em ajustar a taxa de juros. Em tom mais duro, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse que o BC americano pode manter ou até aumentar os juros, caso haja estagnação ou reversão do progresso obtido no controle da inflação.

Por aqui, o Boletim Focus trouxe aumento das expectativas para o IPCA neste ano (de 3,76% para 3,80%) e no próximo (de 3,66% para 3,74%). A projeção para a taxa Selic em dezembro subiu de 9,75% para 10%, apenas 0,50 ponto porcentual abaixo do nível corrente.

Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, adotou postura mais conservadora em conversas com investidores no fim da semana passada, reiterando que o BC vai agir contra a desancoragem das expectativas.

“O BC faz bem em indicar uma Selic terminal em nível maior. Teoricamente, isso levaria a uma queda do dólar. Mas existem outros fatores, como a curva de juros americana e o fluxo cambial mais fraco neste ano, que dão rigidez ao dólar. Não tem nada que puxe a taxa de câmbio para baixo de forma sustentada”, afirma Velho, da JF Trust.