Nem mesmo a queda do dólar nesta sexta-feira,  21, em meio a ajustes técnicos após os avanços mais recentes, impediu que a divisa norte-americana tivesse a quinta semana consecutiva de elevação ante o real, com as cotações refletindo o desconforto dos investidores com o cenário fiscal e com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Banco Central.

+ Veja cotações

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4413 na venda, em baixa de 0,38%, após ter atingido na véspera o maior valor de fechamento em quase dois anos. Na semana, a moeda voltou a acumular alta, de 1,12%. Em 2024, o dólar já acumula elevação de 12,15%.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira, confirmando o primeiro ganho semanal desde meados de maio, com o desempenho da sessão ajudado pelo avanço de Localiza e Itaú, assim como Sabesp, na iminência da oferta de ações que privatizará a companhia de saneamento básico do Estado de São Paulo.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa terminou com elevação de 0,74%, a 121.341,13 pontos, tendo oscilado de 120.061,04 pontos na mínima a 121.580,05 pontos na máxima, acumulando na semana ganho de 1,4%. O volume financeiro somou R$ 30,3 bilhões.

O dólar no dia

A moeda norte-americana abriu a sexta-feira em queda, com investidores ajustando posições e realizando lucros após os avanços recentes, em um dia de agenda relativamente esvaziada no Brasil e no exterior. Às 11h01, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,4232 reais (-0,71%).

No início da tarde, porém, o dólar zerou as perdas, em movimento semelhante ao visto na véspera, quando a moeda chegou a cair quase 1% no início da sessão, refletindo a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a taxa Selic, mas recuperou força durante a sessão.

Por trás do fortalecimento do dólar nesta sexta-feira estava novamente a desconfiança do mercado em relação ao ajuste fiscal e o mal-estar com declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

“A questão fiscal ainda não foi resolvida. E o dólar é o grande termômetro do sentimento de aversão a risco. Por isso o dólar se ajusta a conta-gotas”, disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, ao justificar o fato de a moeda não ter passado por ajustes de baixa mais consistentes após a reunião de quarta-feira do Copom.

Na ocasião, o colegiado votou de forma unânime pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano, como demandava o mercado. A curva de juros brasileira reagiu positivamente, com redução de prêmios, mas o dólar tem demonstrado dificuldades para ceder ante o real.

“O ajuste maior do dólar pode ocorrer quando houver um encaminhamento maior da questão fiscal, com algum corte de gastos efetivo”, acrescentou Quaresma.

Às 12h28 o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 5,4623 reais (+0,01%), após Lula ter voltado a criticar, durante entrevista pela manhã, o fato de a Selic estar em 10,50% ao ano “sem nenhuma explicação e sem nenhum critério”, em suas palavras.

À tarde, Lula disse em outra entrevista que o “nervosismo especulativo” em relação ao dólar não vai afetar a economia brasileira.

“Nós estamos tranquilos, ou seja, esse nervosismo especulativo que está acontecendo não vai mexer com a seriedade da economia brasileira”, disse Lula em entrevista à rádio Mirante News FM, em São Luís.

Ao longo da tarde, o dólar voltou a cair ante o real, mas o movimento esteve longe de apagar os fortes ganhos das últimas semanas.

“Se fosse depender apenas dos dados econômicos, com certeza o dólar teria que estar bem abaixo do que está cotado agora. O que está fazendo o real ficar pressionado é o clima político, especificamente as declarações do presidente da República esta semana”, avaliou Alexandre Viotto, head de banking e câmbio da EQI Investimentos.

Para Viotto, as falas de Lula têm gerado insegurança no mercado, que demonstra ansiedade para saber quem será o substituto de Campos Neto no comando do BC em 2025. Um dos receios é de que o nome indicado por Lula tenha um perfil mais tolerante com a inflação.

“Isso se reflete no principal termômetro do mercado, que é o dólar”, disse Viotto.

No exterior, no fim da tarde, o dólar subia ante as moedas fortes e ante boa parte das demais divisas de emergentes e exportadores de commodities.

Às 17h15, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,15%, a 105,790.

Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.

O Ibovespa no dia

Para o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, o Ibovespa descolou de Nova York nesta sessão, em movimento técnico de vencimento de opções sobre ações na bolsa paulista. Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, fechou em queda de 0,16%.

Apesar da alta no acumulado da semana, Chinchila considerou que a semana foi “um pouco mais travada”, com investidores ainda “bem cautelosos com as questões fiscais, troca de presidente do Banco Central e incômodo com alta do dólar que pode pressionar inflação à frente”.

Em entrevista a uma rádio nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o “nervosismo especulativo” em relação ao dólar — que tem subido, entre outras razões, por preocupações fiscais — não vai afetar a economia brasileira. E voltou a criticar o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Na próxima semana, uns dos destaques da agenda local será a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada na última quarta-feira, em que a Selic foi mantida em 10,50% ao ano, em votação unânime do colegiado. Também em foco estarão o IPCA-15 de junho e o Relatório de Inflação do BC.

Destaques

– LOCALIZA ON valorizou-se 5,22%, tendo de pano de fundo relatório do Bank of America com analistas afirmando que as vantagens competitivas e a forte cultura da empresa permanecem. Eles acrescentaram que esperam uma rápida recuperação do retorno sobre o capital investido (ROIC) de volta aos níveis históricos, especialmente quando os preços dos automóveis pararem de cair.

– SABESP ON subiu 3,87%, diante do lançamento iminente da oferta de ações que privatizará a companhia de saneamento básico do Estado de São Paulo. A empresa de saneamento Aegea e a Equatorial Energia estão entre os investidores interessados na operação, que terá uma primeira etapa para potenciais acionistas de referência apresentarem suas propostas. A expectativa é de que o anúncio ocorra nesta sexta.

– ISA CTEEP PN avançou 3,89% tendo no radar decreto que vai regular os novos contratos de distribuidoras de energia elétrica. O índice das empresas de energia elétrica na B3 fechou em alta de 1,27%. ENERGISA UNIT ganhou 2,06% também reagindo a dados mostrando que o consumo consolidado de energia elétrica, cativo e livre nas áreas de concessão do grupo cresceu 12,4% em maio ano a ano.

– ITAÚ UNIBANCO PN fechou em alta de 0,58% reforçando o sinal positivo do Ibovespa dada a sua relevante participação no índice, enquanto BRADESCO PN terminou com decréscimo de 0,08%.

– PETROBRAS PN valorizou-se 0,6%, cravando a quinta alta seguida, descolando da queda dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou negociado com baixa de 0,55%. O presidente Lula voltou a mostrar disposição de explorar petróleo na chamada Margem Equatorial, mas ressalvou que num primeiro momento o que se deseja é fazer a medição da área, para confirmar se há riqueza a ser explorada.

– VALE ON caiu 0,93%, após os futuros do minério de ferro recuarem na China, em meio a rumores no mercado sobre um limite à produção de aço bruto no principal consumidor da commodity. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com queda de 1,7%, a 811,5 iuanes (111,76 dólares) a tonelada, o menor valor desde 17 de junho. Na semana, a queda foi de 1,8%.

– CSN ON recuou 2,69%, após uma semana de forte valorização, puxada principalmente por decisão do STJ de acatar um recurso da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para reconhecer o direito dela a uma indenização no valor de cerca de 5 bilhões de reais a ser paga pela Ternium em uma questão referente à entrada desta última na Usiminas. A Ternium afirmou que irá recorrer da decisão.

– ZAMP ON, que não está no Ibovespa, disparou 12,8%, após o conselho de administração da operadora das redes de fast food Burger King e Popeye’s no Brasil eleger Paulo Sergio de Camargo como novo presidente-executivo da companhia em substituição a Ariel Grunkraut. Camargo, que liderou a divisão brasileira da Arcos Dourados, operadora da rede de fast food McDonald’s, tomará posse no dia 28 de junho.