24/07/2024 - 17:27
O dólar fechou a quarta-feira, 24, em alta firme no Brasil, ultrapassando novamente a barreira dos R$ 5,60, em um dia de pressão para as moedas de países emergentes em função da fraqueza das commodities e do avanço do iene no exterior.
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O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,6568 na venda, em alta de 1,24%. Esta é a segunda maior cotação de fechamento em 2024, abaixo apenas dos R$ 5,6665 de 2 de julho. No mês, o dólar acumula alta de 1,18%. Veja cotações.
Às 17h03, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,25%, a R$ 5,6615 na venda.
O Ibovespa fechou quase estável nesta quarta-feira, com a pressão das fortes perdas dos pregões norte-americanos sendo atenuada pelo desempenho positivo de petroleiras, principalmente Petrobras e Prio.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com declínio de 0,13%, a 126.422,73 pontos, após marcar 126.822,5 pontos na máxima e 126.217,81 pontos na mínima da sessão.
O volume financeiro somou apenas R$ 18,32 bilhões– mais uma vez abaixo da média diária do ano, de R$ 23,4 bilhões.
O dólar no dia
Com a agenda econômica esvaziada no Brasil, o mercado se voltou para o exterior, em mais um dia de fraqueza das commodities e apreciação do iene.
As preocupações em torno da demanda da China fizeram o minério de ferro — produto importante da pauta exportadora brasileira — ceder 1,65%, a 775,5 iuanes (106,61 dólares) a tonelada, na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE).
Os preços do petróleo avançaram no mercado internacional, mas ainda se mantiveram em níveis baixos, próximos dos vistos no início de junho.
Já o iene teve mais um dia de avanço firme em meio à expectativa de que o Banco do Japão possa adotar na próxima semana um primeiro movimento no sentido de elevação de juros. Isso penalizava o dólar em sua relação com o iene, em meio à desmontagem de operações de carry trade realizadas entre Japão e EUA.
No carry trade, investidores tomam recursos em países como o Japão, onde as taxas de juros são baixas, e reinvestem em países onde a taxa de juros é maior — caso dos EUA, mas também dos países emergentes.
Assim, como em sessões anteriores, a desmontagem de operações de carry em iene também afetou moedas de países emergentes como o real e o peso mexicano, conforme alguns profissionais.
“O real e o peso mexicano foram as moedas que mais apanharam para o dólar hoje. O motivo são as operações de carry trade com iene”, comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
“O investidor toma dinheiro no Japão a custo zero e vem para os emergentes ganhar dinheiro. Mas quando acontece algo por lá, ele pega os recursos e vai para o Japão zerar posições”, acrescentou.
Neste cenário, após começar o dia na mínima de 5,5878 reais (+0,01%) às 9h, o dólar à vista subiu à máxima de 5,6637 reais (+1,36%) às 15h52.
“Mais do que a questão do iene, a queda das commodities tem sido relevante para a baixa das moedas emergentes”, avaliou Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
A desistência do presidente Joe Biden em disputar a reeleição nos EUA é outro fator de influência sobre o câmbio.
“Há uma insegurança relacionada à desistência de Biden e de como será a política fiscal nos EUA, dependendo de quem vencer. (O ex-presidente Donald) Trump está na liderança e há dúvidas sobre a agenda comercial a ser adotada por ele”, lembrou Massote.
“Isso faz com que os EUA sejam um pouco mais incertos, mas ainda assim é um destino mais seguro para investimentos que os emergentes, que podem ser afetados pelas políticas de Trump”, acrescentou.
No fim da tarde o dólar seguia em alta firme ante o peso mexicano e outras divisas de emergentes, mas caía ante uma cesta de moedas fortes, em grande parte por conta da disparada do iene. Às 17h28, o dólar tinha queda de 1,02% em relação ao iene, a 153,99.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.
À tarde o BC informou que O Brasil registrou fluxo cambial total negativo de 834 milhões de dólares em julho até o dia 19, com saídas líquidas de 2,139 bilhões de dólares pelo canal financeiro e entradas de 1,304 bilhão de dólares pela via comercial.
O dia do Ibovespa
De acordo com o gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, a bolsa brasileira sofreu com a contaminação do mau-humor externo, em razão da frustração de investidores com os resultados da Tesla e perspectivas da Alphabet.
Ele destacou que a recuperação do petróleo no exterior ajudou as ações da Petrobras, mas a fragilidade dos preços do minério de ferro na Ásia evitaram uma recuperação mais robusta dos papéis da Vale.
Em Nova York, o S&P 500 caiu 2,31% e o Nasdaq recuou 3,64%, para mínimas em várias semanas, com dados da Tesla e da Alphabet minando a confiança de investidores nas megacaps de tecnologia que têm endossado recordes em Wall Street.
Analistas do Itaú BBA afirmaram no relatório Diário do Grafista que, após a queda da véspera, o receio de que o cenário de realização de lucros poderá se estender ganhou força.
“Para voltarmos à tendência de alta de curto prazo, será fundamental a superação da resistência de 130 mil pontos. Isso colocará o principal índice de ações do Brasil novamente em contexto otimista”, afirmaram.
DESTAQUES
– PETROBRAS PN subiu 0,8%, tendo como pano de fundo a recuperação dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent avançou 0,86%, a 81,71 dólares. Analistas do Goldman Sachs estimam que a Petrobras anunciará 2,6 bilhões de dólares em dividendos quando divulgar seu resultado do segundo trimestre em agosto. PETROBRAS ON subiu 1,01%. No setor, PRIO ON fechou em alta de 5,02% e PETRORECONCAVO ON ganhou 3,76%.
– VALE ON encerrou com acréscimo de 0,61%, em dia de recuperação, mesmo com nova sessão de queda nos futuros do minério de ferro na China, enquanto agentes financeiros aguardam balanço da mineradora na quinta-feira, após o fechamento do mercado. Analistas do BTG Pactual afirmaram que observaram recentemente algumas melhorias no perfil “bottom-up” da Vale, mas preferem esperar por um pouco mais de visibilidade sobre alguns dos “overhangs” pendentes antes de mudar a marcha.
– SANTANDER BRASIL UNIT fechou em alta de 0,35%, reduzindo o fôlego da abertura, quando subiu 3% na esteira do resultado do segundo trimestre, com lucro líquido recorrente de 3,33 bilhões de reais, acima das previsões do mercado. Em teleconferência com analistas, o CEO disse que o banco quer consolidar o ROE no patamar dos “mid-teens” (em torno de 15% a 17%) e então buscar um nível “mid to high teens” ao longo dos próximos trimestres.
– ITAÚ UNIBANCO PN terminou com variação negativa de 0,13%, enquanto BRADESCO PN subiu 0,08% e BANCO DO BRASIL ON recuou 0,41%.
– CARREFOUR BRASIL ON caiu 7,25%, aprofundando as perdas desde a véspera, primeiro pregão após reportar seu resultado trimestral — que foi avaliado positivamente por analistas. O Goldman Sachs reiterou recomendação de compra para a ação após o balanço e elevou o preço-alvo de 14 para 15 reais, conforme relatório a clientes. As duas quedas ocorrem após o papel acumular um ganho de quase 19% no mês. No setor, ASSAÍ ON perdeu 4,58% e GPA ON cedeu 1,38%.
– HAPVIDA ON subiu 0,77%, com analistas da XP reiterando em relatório com prévias de empresas de saúde que a companhia deve ser um dos destaques positivos para a temporada de resultados do setor, assim como REDE D’OR ON, que, por outro lado, caiu 1,08%. Na segunda-feira, a Hapvida anunciou acordo com a gestora de recursos Riza para o custeio de dois novos hospitais nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro na modalidade “build to suit”.
– MULTIPLAN ON recuou 4,35% antes da divulgação do balanço do segundo trimestre na quinta-feira, após o fechamento, acompanhando o movimento mais negativo para papéis sensíveis a juros. O índice do setor imobiliário, que inclui papéis de construtoras e de shopping centers, cedeu 1,6%, assim como o índice do setor de consumo, bastante amplo, perdeu 0,87%. No varejo, PETZ ON fechou em baixa de 5,6% e MAGAZINE LUIZA ON terminou em queda de 4,19%.
– IRB(RE) ON perdeu 2,8%, em meio a dados mostrando lucro líquido de 28,4 milhões de reais em maio, após resultado positivo de 31,6 milhões de reais em abril. O índice de sinistralidade caiu de 66,1% para 63,8% entre abril e maio.