09/08/2024 - 17:22
O dólar à vista emplacou nesta sexta-feira, 9, a quarta sessão consecutiva de queda ante o real, chegando a oscilar abaixo dos R$ 5,50 durante o dia, com as cotações refletindo novamente a busca por ativos de risco em todo o mundo.
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A moeda norte-americana à vista fechou o dia em queda de 1,05%, cotada a R$ 5,5151. Esta é a menor cotação de fechamento desde 17 de julho, quando encerrou em R$ 5,4850. Veja cotações.
Com o recuo dos últimos quatro dias, o dólar à vista acumulou baixa de 3,43% na semana. Foi a primeira queda semanal após três semanas consecutivas de ganhos.
Às 17h05, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,38%, a R$ 5,5285 na venda.
E o Ibovespa engatou a quarta alta consecutiva nesta sexta-feira e fechou na máxima desde o final de fevereiro, acima de 130 mil pontos, em meio à repercussão de uma bateria de balanços corporativos, com Vivara e Lojas Renner entre os maiores ganhos após resultados trimestrais acima das expectativas de analistas.
Na contramão, Petrobras encerrou em baixa, um dia após reportar o primeiro prejuízo trimestral em quase quatro anos, além de ter cortado previsão de investimentos e anunciado R$ 13,57 bilhões em remuneração a acionistas, utilizando para o pagamento R$ 6,4 bilhões das reservas de capital.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou em alta de 1,52%, a 130.614,59 pontos, maior patamar de fechamento desde 27 de fevereiro (131.689,37), acumulando um acréscimo de 3,78% na semana, após três semanas acumulando sinal negativo.
Na máxima do dia, chegou a 130.631,17 pontos. Na mínima, a 128.661,52 pontos. O volume financeiro no pregão somou R$ 26,6 bilhões.
O dólar no dia
A semana foi marcada por forte volatilidade nos mercados globais, que se refletiu nos negócios também no Brasil. Na segunda-feira, os receios de que os EUA possam estar a caminho de uma recessão fizeram o dólar chegar a ser cotado a 5,86 reais durante o dia.
Desde terça-feira, no entanto, novos dados sobre a economia norte-americana reduziram a expectativa por uma recessão iminente nos EUA, o que fez os investidores retomarem a busca por ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes como o real, o peso chileno e o peso mexicano.
O enfraquecimento do iene ante o dólar em sessões anteriores era outro fator, apontado por profissionais do mercado, para que as moedas de emergentes como o real tenham se fortalecido nos últimos dias. O movimento interrompeu desmontagens de operações de carry trade que, nas últimas semanas, vinham penalizando as divisas de emergentes.
No carry trade, investidores tomam recursos em países como o Japão, onde as taxas de juros são baixas, e reinvestem em países como o Brasil, onde a taxa de juros é maior. Na desmontagem destas operações, o real vinha sendo penalizado.
Nesta sexta-feira, a busca por risco deu novamente o tom nos mercados globais, o que fez o dólar cair ante a maioria das demais divisas.
“Iniciamos a semana com um sentimento muito ruim em relação à recessão nos EUA, mas isso deu uma normalizada, o que se reflete nos juros e no câmbio”, comentou durante a tarde Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, ao avaliar a queda firme do dólar ante o real e o fechamento da curva de juros brasileira nesta sexta.
“Por mais que ainda tenha problemas fiscais, o Brasil ainda é um país com entrada de capital estrangeiro”, acrescentou.
Neste cenário, o dólar oscilou em baixa durante toda a sessão. Após marcar a cotação máxima de 5,5552 reais (-0,33%) às 9h05, pouco depois da abertura, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,4917 reais (-1,47%) às 14h19. Depois de tocar abaixo dos 5,50 reais, no entanto, a moeda recuperou um pouco de força.
A baixa firme do dólar era vista também no exterior em relação às divisas de países emergentes e ante uma cesta de moedas fortes. Às 17h22 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,14%, a 103,140.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.
Também pela manhã, com efeitos reduzidos no câmbio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o índice oficial de inflação, o IPCA, subiu 0,38% em julho, registrando a maior taxa desde fevereiro, após alta de 0,21% em junho. No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA teve alta de 4,50%, ficando no teto da meta de inflação do Banco Central.
Os números vieram um pouco acima das expectativas apontadas por economistas em pesquisa da Reuters, de aumento de 0,35% em julho e de alta de 4,47% em 12 meses.
O dia do Ibovespa
O cenário externo favorável a ativos de risco endossou a performance das ações brasileiras, com alta nos pregões em Wall Street, recuo nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, avanço do petróleo. A queda do dólar ante o real e o alívio na curva de juros no Brasil reforçaram o tom positivo.
A equipe da Santander Asset Management afirmou que segue com posicionamento neutro na bolsa brasileira, conforme carta mensal enviada a clientes.
Eles avaliam que tanto o valuation das empresas como as projeções de lucros seguem construtivos, podendo sustentar uma eventual alta do Ibovespa. No entanto, ponderam que o patamar elevado de juros no Brasil e nos EUA retira a atratividade por investimentos em ativos de risco.
“Ainda não observamos um fluxo relevante do investidor estrangeiro na bolsa local e seguimos com poucos gatilhos que possam impactar positivamente o Ibovespa no curto prazo”, afirmaram, chamando ainda a atenção para incertezas em relação à política fiscal.
Na pauta doméstica, o IPCA acelerou mais do que o previsto no mês passado, com alta de 0,38%, colocando a taxa em 12 meses em 4,50%, no limite da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, o que referenda perspectivas de manutenção da taxa Selic em patamar restritivo, com risco de aumento.
Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, o IPCA contribui para a percepção de que o processo desinflacionário no Brasil será, de fato, mais desafiador e reforça a cautela externalizada pelo Banco Central, bem como a expectativa de que a Selic permaneça em 10,5% até o fim do ano.
DESTAQUES
– PETROBRAS PN caiu 0,92%, após prejuízo líquido de 2,6 bilhões de reais no segundo trimestre, seu primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2020, principalmente por impactos tributários e cambiais. Em termos recorrentes, teve lucro de 15,7 bilhões de reais, abaixo do esperado no mercado. A Petrobras também cortou previsão para investimentos em 2024, mas sem efeito na curva de produção. Analistas do UBS BB chamaram a atenção para o uso da reserva de capital para o pagamento de dividendos ordinários, avaliando que tira referência para previsões e adiciona incerteza sobre yields. O CFO da companhia disse que a estatal poderá distribuir dividendos extraordinários ao fim do ano se o caixa ficar acima do necessário para a empresa.
– VIVARA ON disparou 7,38%, marcando uma máxima desde meados de março, tendo no radar resultado do segundo trimestre com lucro líquido de 210,96 milhões de reais, quase o dobro do montante registrado um ano antes e maior do que projeções no mercado. A companhia também reportou uma expansão de 23,9% no Ebitda ajustado, para 164 milhões de reais, com a margem nessa métrica passando de 23,6% para 25%.
– LOJAS RENNER ON saltou 6,55%, alcançando uma máxima em três meses, reagindo ao lucro líquido de 315 milhões de reais no segundo trimestre, que superou as previsões de analistas. As vendas no conceito mesmas lojas cresceram 2,7% ante tombo de 6,8% no segundo trimestre de 2023.
– B3 ON avançou 5,9%, um dia após reportar lucro líquido recorrente de 1,23 bilhão de reais nos meses de abril a junho deste ano, alta de 5% ano a ano, contra expectativa média de analistas consultados pela LSEG de lucro de 1,17 bilhão de reais no período. A receita líquida cresceu 10,2%. A companhia ampliou programa de recompra em até 110 milhões de ações.
– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 2,7%, em sessão positiva para o setor no Ibovespa, com BANCO DO BRASIL ON valorizando-se 1,37% e SANTANDER BRASIL UNIT fechando em alta de 1,38%. BRADESCO PN avançou 2,46%, tendo ainda como pano de fundo acordo com a John Deere Brasil S.A, que prevê um aporte de capital para deter 50% de participação do Banco John Deere, a fim de fortalecer seu posicionamento nos setores de agronegócio e construção. BTG PACTUAL UNIT, que divulga balanço na próxima semana, encerrou com acréscimo de 0,35%.
– CYRELA ON ganhou 5,42%, após a construtora divulgar avanço de 47% no lucro líquido do segundo trimestre em relação ao reportado no mesmo período do ano passado, para 412 milhões de reais, acima das previsões de analistas. O CFO da companhia disse que a Cyrela tem observado uma alta nos custos de construção, tema que é visto com preocupação pela liderança, mas isso não deve impactar as margens futuras.
– ALPARGATAS PN cedeu 4,35%, mesmo após divulgar lucro líquido de operações continuadas de 23,4 milhões de reais no segundo trimestre, revertendo prejuízo apurado um ano antes.
– YDUQS ON recuou 3,46%, após divulgar uma queda de 22,5% no lucro líquido do segundo trimestre em relação ao apurado no mesmo período do ano passado, para 24,8 milhões de reais. Excluindo efeitos não recorrentes, o lucro subiu 9,1%.
– ASSAÍ ON perdeu 1,72%, enquanto agentes analisavam o balanço do segundo trimestre, que mostrou queda de 21,2% no lucro líquido do segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para 123 milhões de reais.
– VALE ON terminou com variação positiva de 0,37%, seguindo o tom mais positivo na B3, em dia de desempenho misto do minério de ferro na Ásia, onde o contrato mais negociado em Dalian, na China, fechou com acréscimo de 0,27%, enquanto o vencimento de referência em Cingapura caiu 0,78%.