A abolição da escravidão ocorreu no Brasil há 136 anos, após mais de 350 anos de prática. No entanto, até hoje, as pessoas negras ainda enfrentam as consequências daquele período.

Desigualdades sociais e raciais enraizadas em políticas e práticas racistas implementadas ao longo da história continuam presentes em todas as esferas da sociedade. A desbancarização, que afeta de forma desproporcional a população preta, é um reflexo dessa desigualdade.

+Mais valiosa que alguns bancos: fintech britânica Revolut é avaliada em US$ 45 bilhões

Segundo o Censo de 2022, o Brasil tem 20,6 milhões de pessoas pretas e 92,08 milhões de pessoas pardas, que movimentam cerca de R$ 1,46 trilhão na economia. Para enfrentar o desafio da desbancarização entre a população preta, nasceu, em 2017, a fintech Conta Black.

Segundo a CEO, Fernanda Ribeiro, a ideia surgiu após seu marido, Sérgio All, ter o crédito em um banco tradicional negado, mesmo sendo cliente antigo e ter movimentado grandes quantias. “Percebemos que havia muitos empreendedores como o Sérgio, sem acesso a crédito ou à possibilidade de abrir uma conta bancária. Vimos nisso uma oportunidade de negócio e assim nasceu a Conta Black”, explicou.

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no Brasil, empreendedores negros têm o crédito negado três vezes mais que brancos nas mesmas condições. Inicialmente, a fintech, fundada com investimento próprio, oferecia cartões pré-pagos recarregáveis, permitindo a empreendedores e pessoas físicas acesso a serviços essenciais, como aplicativos de mobilidade e refeição, como Uber e iFood.

“Nosso grande objetivo é proporcionar inclusão financeira para pessoas pretas e periféricas”, destacou a executiva.

Em 2019, após receber investimento anjo, a Conta Black desenvolveu seu próprio aplicativo, oferecendo conta digital, produtos de pagamento, investimento e seguros. Atualmente, a fintech conta com cerca de 60 mil clientes em todo o Brasil, entre empreendedores, pessoas jurídicas e pessoas físicas. A maioria dos clientes são mulheres e grande parte da receita vem dos empreendedores.

“Isso nos enche de orgulho, pois reflete a realidade do Brasil, onde 57% da população se autodeclara negra e 50% são mulheres”, afirmou a CEO, que comemora o crescimento ao longo dos anos de maneira orgânica. E agora estima encerrar esse ano com um crescimento de 30%.

Parceria

A parceria com a Genial Investimentos impulsionou o lançamento da Conta Black 2.0, que permite investimentos a partir de R$ 10, além de promover educação financeira. A fintech conta com assessores pretos e periféricos para ajudar os clientes em suas decisões de investimento. Outro produto da parceria é o fundo de microcrédito, lançado em setembro do ano passado, com um capital inicial de R$ 100 milhões, que visa fornecer crédito a pequenos empreendedores.