O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula ao cargo de presidente do Banco Central, passou por uma sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal nesta terça-feira, 8.

As perguntas dos senadores abordaram temas como risco fiscal, independência do Banco Central, as relações com o presidente Lula e os relatórios recentes sobre os aplicativos de apostas online, as chamadas “bets”. Veja algumas frases de Galípolo:

+Em sabatina, Galípolo fala em liberdade na gestão do BC e compromisso com o povo

Juros altos no Brasil

“A gente vai encontrar diversos dados que sugerem uma economia que não está em um processo de desaceleração, está pujante. Não é ruim, mas a bola que o BC tem que estar com o olho é a inflação. O que isso sugere? Que a gente deve assistir um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Ao BC não cabe correr risco. A função dele é ser conservador, com a taxa de juros no patamar necessário para atingir a meta definida.”

Críticas do presidente Lula ao BC

“Eu sinto que gerei uma grande frustração na expectativa de que existia que, ao entrar no BC, eu iria começar um grande reality show, com disputas e brigas ali dentro. Infelizmente, tenho uma informação chata para dar a todos: a minha relação com o presidente é a melhor possível, com o presidente Lula e o presidente Roberto.”

Autonomia do Banco Central

“Eu sou relativamente novo na vida pública, mas eu aprendi que nos debates da vida pública existem palavras que são quase gatilho. […] Aprendi que autonomia é uma palavra que é uma dessas. Eu costumo brincar que a gente precisa de quase um rebranding, precisa reexplicar a ideia de autonomia do Banco Central.”

“O Banco Central tem autonomia operacional para buscar as metas que foram estabelecidas pelo poder democraticamente eleito. A gente só pode até a adolescência achar que a gente faz o que entende do jeito que a gente bem entende, depois não dá para pensar isso.”

“Eu sou daqueles que defende que o Banco Central não devia nem votar meta de inflação dentro do CMN. Pensando numa corporação, é muito estranho que quem vai ter de perseguir a meta vote para estabelecer a meta que tem que perseguir.”

Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo, durante sabatina no Senado nesta terça-feira, 8. (Crédito:Adriano Machado/Reuters)

Risco fiscal

“O papel do Banco Central é menos avaliar efetivamente, do ponto de vista de uma análise própria, a função fiscal, e muito mais reforçar sua função de reação, tanto do ponto de observância como de ações, ao fato que o fiscal pode impactar tanto a inflação corrente como expectativas.”

Independência financeira e orçamentária do BC

“Eu acho um avanço institucional relevante o que está sendo discutido hoje no Banco Central. É necessário a gente dar as condições para que as pessoas possam trabalhar, não só do ponto de vista remuneratório delas, mas da infraestrutura necessária. Entendo que hoje está se discutindo muito mais o formato que vai se dar essa evolução institucional.”

Bets

“O Banco Central não tem qualquer atribuição ou papel sobre a regulamentação das bets — é importante deixar isso claro — mas sim sobre qual é o impacto no consumo e endividamento das famílias. Dialogamos com bancos e instituições financeiras para obter os dados e os números realmente impressionam.”

Reforma tributária

“Esse é um tema debatido de forma constante por nós no Banco Central, qual o impacto nos preços e de que forma se dará essa distribuição dos impostos entre os setores. É uma atenção que temos, precisamos de estudos para reunir informações sobre esses futuros impactos .”

Transição energética

“As projeções sobre o que vai acontecer na economia já são bem complexas de ser feitas, agora a gente tem que adicionar também as projeções climáticas junto com as econômicas, o que dá uma exponencialidade na dificuldade.”

“Eu vejo para o Brasil uma grande oportunidade de se firmar como um polo, porque o Brasil tem hoje tanto uma segurança alimentar quanto energética, contando com uma matriz energética mais limpa. Então, esse custo de transição seria menor, em um mundo em que você corre o risco de ter várias pressões inflacionárias.”

Inflação pós-pandemia

“É um grande debate global o quanto aquele processo inflacionário correspondia a um choque de oferta pela desarticulação das cadeias produtivas e dificuldade de produzir, e o quanto correspondia a uma questão de demanda decorrente dos programas de transferência de renda e socorro por causa da pandemia. A minha posição, eu recorro sempre a uma frase do Churchill: a verdade é uma adúltera, nunca está com uma pessoa só.”