O dólar fechou a segunda-feira, 14, em queda ante o real, retornando para abaixo dos R$ 5,60, após reportagem da Reuters informar que o governo Lula se prepara para apresentar medidas de contenção de gastos depois das eleições municipais.

+ Juros futuros caem com notícia de que governo prepara pacote para conter gastos

O recuo no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, a moeda norte-americana estar em alta ante a maioria das demais divisas.

O dólar à vista fechou em baixa de 0,59%, cotado a R$ 5,5827. Em outubro, porém, a divisa acumula alta de 2,45%.

Às 17h06, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,39%, a R$ 5,5940 na venda.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta segunda-feira, após operar sem definição pela manhã, com alívio na curva de juros doméstica em meio à notícia da Reuters sobre contenção de gastos do governo.

Os negócios ainda foram apoiados por avanço dos índices acionários nos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,78%, a 131.005,25pontos. Na máxima do dia, chegou a 131.219,61 pontos. Na mínima, foi a 129.728,80 pontos. O volume financeiro somava R$ 19,35 bilhões.

O dólar no dia

A moeda norte-americana perdeu força e migrou para o território negativo no Brasil ainda pela manhã, na esteira de comentários do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que reforçou o compromisso da autarquia com a meta de inflação de 3%.

Em sua primeira fala pública após ter tido sua indicação para assumir a presidência do BC em 2025 aprovada pelo Senado, Galípolo também reiterou que a desancoragem das expectativas segue preocupando.

“A taxa de juros básica aqui está se movendo basicamente observando o que está acontecendo do ponto de vista da atividade e olhando para as projeções da inflação dentro do horizonte relevante”, disse, em evento promovido pelo Itaú BBA.

Galípolo afirmou ainda que o BC não persegue um nível de câmbio e atua no mercado apenas em casos de falta de liquidez ou excesso de volatilidade.

Tanto o dólar quanto as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) perderam força após os comentários de Galípolo, mas o principal gatilho do dia surgiu no início da tarde, em matéria da Reuters informando que o governo prepara medidas de contenção de gastos obrigatórios. As medidas devem ser apresentadas após a realização do segundo turno das eleições municipais, no fim deste mês.

Um primeiro pacote buscará tratar pontualmente de gastos específicos, iniciativa que deve ser acompanhada de um segundo eixo com propostas mais estruturais e “mais duras”.

“O que elevou o dólar até a última sexta-feira foi a preocupação com o fiscal. Então hoje, com esta notícia, o mercado aproveitou para realizar lucros”, comentou à tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

“Com o governo falando em cortar gastos, o mercado realizou e o dólar caiu, em total descompasso com o exterior”, acrescentou.

No melhor momento da sessão, às 14h47, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,5654 reais (-0,89%). Até o encerramento a moeda recuperou um pouco de fôlego, mas ainda assim terminou em baixa ante o real, na contramão do exterior.

Às 17h21 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,15%, a 103,190.

Pela manhã, também no evento do Itaú BBA, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo ainda está na etapa de análise para elaboração do projeto de reforma do Imposto de Renda, com estudos que incluem avaliação sobre a eficácia das deduções atuais, além da análise de modelos internacionais de tributação de dividendos.

Já o Banco Central informou que o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado um sinalizador do PIB, avançou 0,2% em agosto sobre o mês anterior, em dado dessazonalizado. A leitura foi melhor do que a expectativa de estabilidade em pesquisa da Reuters, marcando uma retomada ante a queda de 0,6% de julho, em dado revisado.

No fim da manhã, o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.

O dia do Ibovespa

Depois de uma manhã sem grandes oscilações, o Ibovespa engatou alta pela tarde, na sequência de notícia da Reuters de que o governo prepara medidas de contenção de gastos para serem apresentadas após o segundo turno das eleições municipais, no fim deste mês, citando fontes do Ministério da Fazenda.

Analistas destacaram o tom positivo das medidas em torno de maior disciplina fiscal. “É justamente a linha de discurso que faltava para trazer mais previsibilidade para o mercado”, afirmou o analista Renato Nobile, da Buena Vista Capital.

Estiveram no radar ainda declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento promovido pelo Itaú BBA.

Haddad disse que o governo pode rever mais uma vez a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, após a Fazenda elevar em setembro sua projeção para o PIB em 2024 a 3,2%, ante estimativa anterior de 2,5%.

Já Galípolo, em sua primeira fala pública após ter indicação à presidência do BC aprovada pelo Senado, destacou que os diretores da autarquia estão de olho nas projeções de inflação e na atividade econômica para definir os juros básicos.

No mercado de juros, a percepção mais benigna sobre o fiscal refletiu alívio na curva dos DIs, fortalecendo ações de empresas de setores cíclicos, mais sensíveis a juros, com a taxa para janeiro de 2025, de curtíssimo prazo, em 11,132% no final da tarde, ante 11,146% do ajuste anterior.

No exterior, a alta dos principais índices acionários norte-americanos selou o ambiente favorável para a bolsa paulista, com o índice de referência SPX subindo 0,77%.

Investidores aguardam uma série de balanços corporativos nos EUA esta semana, assim como dados econômicos importantes, em busca de indicações sobre a saúde da maior economia do mundo.

Na visão de Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, o comportamento benígno das bolsas norte-americanas ofereceu algum apoio ao índice acionário doméstico, mas o maior foco esteve no sinal de maior responsabilidade fiscal do governo brasileiro.

 

DESTAQUES

– VALE ON caiu 0,32%, na contramão do avanço dos futuros do minério de ferro, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 1,97%, a 800,5 iuanes (113,08 dólares) a tonelada.

– PETROBRAS PN subiu 0,24%, destoando dos preços do petróleo no exterior após pregão volátil, diante de uma série de anúncios da estatal nesta segunda-feira em entrevista coletiva, entre eles, o de que a companhia poderá antecipar operação de nova plataforma em Búzios para este ano e que avalia mudanças para distribuição de dividendos extraordinários. A empresa também deve reduzir os investimentos previstos em 21 bilhões de dólares no ano que vem, disseram fontes à Reuters. No mercado de petróleo, o barril do Brent fechou em queda de 2,29%, a 73,83 dólares, refletindo no setor, com PRIO ON em queda de 1,88% e BRAVA ENERGIA ON desvalorizando-se 0,92%.

– BANCO DO BRASIL ON valorizou-se 0,72%, BRADESCO PN subiu 1,49%, ITAÚ UNIBANCO PN avançou 0,64% e SANTANDER BRASIL UNIT ganhou 1,15%, em dia positivo para o setor bancário.

– ASSAÍ ON avançou 6,25%, tendo como pano de fundo acolhimento pela Receita Federal de recurso apresentado pela empresa solicitando o cancelamento de decisão que determinava o arrolamento de ativos do varejista no valor de 1,265 bilhão de reais em razão de contingências tributárias em discussão do GPA, que encerrou estável.

– SEQUOIA LOGÍSTICA ON, que não faz parte do Ibovespa, afundou 9,35%, após anunciar pedido de recuperação extrajudicial para reestruturar dívidas com credores não financeiros da ordem de aproximadamente 295 milhões de reais.