Em mais uma sessão negativa para os ativos brasileiros, o dólar subiu quase 1% ante o real nesta terça-feira, 29, e marcou o maior valor de fechamento desde março de 2021, cerca de três anos e meio, refletindo o desconforto do mercado com o cenário fiscal brasileiro e o avanço da moeda norte-americana também no exterior, em meio ao nervosismo com a disputa presidencial nos EUA.

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O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,95%, cotado a 5,7625 reais. Em outubro, a divisa acumula elevação de 5,75%. Veja cotações.

Às 17h03, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,91%, a 5,7645 reais na venda.

Ibovespa fechou com um declínio modesto nesta terça-feira, em mais uma sessão de volume financeiro abaixo da média, com agentes financeiros ressabiados à espera de medidas fiscais, enquanto Santander Brasil recuou 4% após resultado trimestral e visão conservadora para expansão do crédito.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa cedeu 0,37%, a 130.729,93 pontos, após avançar a 131.764,7 pontos na máxima e recuar a 130.693,36 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somou 17,12 bilhões de reais, de uma média diária de 23,5 bilhões de reais no ano.

O dólar no dia

A moeda norte-americana chegou a oscilar pontualmente em baixa ante o real no fim da manhã, mas as cotações se mantiveram em alta na maior parte do tempo, acompanhando o viés positivo visto também no exterior.

Por trás do movimento estava a percepção de que o Federal Reserve tende a ser mais cauteloso em seu ciclo de corte de juros, além da expectativa de que o republicano Donald Trump será o vencedor da disputa presidencial com a democrata Kamala Harris, na próxima semana.

Trump tem prometido adotar medidas consideradas inflacionárias, como o aumento das taxas de mercadorias chinesas, a redução de impostos e o bloqueio da mão de obra imigrante. Neste cenário, os rendimentos dos Treasuries têm ganhado força, assim como o dólar.

Além do exterior, a falta de medidas concretas do governo Lula para conter o déficit primário ajudava a sustentar as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e o dólar ante o real.

Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o conjunto de medidas ainda está em análise e não há uma data para divulgação.

“O governo falou que iria anunciar (as medidas de contenção de despesas) depois do segundo turno. Mas ainda não anunciou e o mercado fica ansioso”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

Assim, após atingir uma cotação mínima de 5,6977 reais (-0,19%) às 11h22, o dólar à vista escalou até uma máxima de 5,7683 (+1,05%) às 16h24 — já após Haddad ter falado sobre as medidas fiscais em Brasília, novamente sem apresentar ações concretas ou uma previsão de data.

No exterior, às 17h42 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — tinha variação positiva de 0,02%, a 104,280.

No fim da manhã o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.

O dia do Ibovespa

“O mercado aguarda ansiosamente medidas de cortes de gastos para equilibrar as contas públicas”, afirmou Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3, acrescentando, porém, que o mercado está preferindo adotar posições mais cautelosas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que o conjunto de medidas de contenção de gastos a ser apresentado pela área econômica do governo ainda está em análise pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não há uma data para ser divulgado.

Haddad e outros integrantes da equipe econômica afirmaram anteriormente que trabalham na elaboração de um pacote para fortalecer o arcabouço fiscal, com um foco principalmente nas despesas, ponto que tem causado desconfiança de analistas sobre a capacidade do governo de honrar seus compromissos fiscais.

No exterior, Wall Street teve um encerramento misto, com o S&P 500 subindo 0,16% e o Nasdaq avançando 0,78%, enquanto o Dow Jones recuou 0,36%, em um pregão volátil, com investidores digerindo uma série de balanços corporativos e aguardando os números da Alphabet.

DESTAQUES

– SANTANDER BRASIL UNIT caiu 5,13%, após balanço do terceiro trimestre, com o CEO afirmando que o banco deve continuar nos próximos trimestres com uma postura conservadora na expansão de sua carteira de crédito, em meio aos esforços do banco para ganhar rentabilidade e diante dos sinais de piora do ambiente macroeconômico do país.

– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,06%, enquanto BRADESCO PN perdeu 1,45% e BANCO DO BRASIL ON recuou 0,57%.

– VALE ON caiu 0,35%, em dia de baixa dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado em Dalian encerrou as negociações diurnas em queda de 0,77%, a 777,5 iuanes (108,89 dólares) a tonelada.

– PETROBRAS PN recuou 0,22%, com agentes repercutindo dados de produção e vendas da estatal do terceiro trimestre, enquanto a CEO estimou que a produção tem uma tendência de crescimento em 2025 com a entrada em operação de plataformas relevantes já a partir deste ano. No exterior, o barril de petróleo Brent fechou em baixa de 0,42%.

– AZUL PN perdeu 4,58%, após disparar quase 14% na véspera, na esteira de acordo com credores para obter financiamento adicional.

– MARFRIG ON avançou 2,98%, tendo de pano de fundo anúncio da véspera de que recebeu 5,68 bilhões de reais com a conclusão da venda para unidade da Minerva de instalações de abate de bovinos e ovinos na Argentina, Brasil e Chile. O negócio também contemplava ativos do Uruguai, mas esses ativos ainda não tiveram autorização para venda por autoridades do país. MINERVA ON subiu 3,02%.