O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ficou em 0,9% no terceiro trimestre, vindo dentro das expectativas do mercado e mostrando uma economia ainda aquecida. Especialistas ouvidos por IstoÉ Dinheiro destacam, contudo, que o crescimento econômico deve desacelerar e, com essa perspectiva já no radar do Banco Central (BC), a autarquia não deve mudar a trajetória da taxa básica de juros – na verdade, só reforça a aposta de uma alta mais intensa da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em 10 e 11 de dezembro.

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Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, comenta que no que se refere à dinâmica da indústria, o avanço de 1,3% do setor de transformação, refletiu possivelmente uma combinação ainda dos juros mais baixos, antes do ciclo atual de aperto monetário, e a taxa de câmbio mais favorável às exportações.

“A dinâmica da demanda, no acumulado em quatro trimestres, mostra forte avanço do consumo das famílias, de 4,5%, com o governo apresentando alta de 2,9% e os investimentos, de 3,7%. As exportações subiram 4,8% e as importações aumentaram mais de 10%. O crescimento puxado pela demanda tende a arrefecer”, comenta.

Salto destaca ainda que os dados da atividade econômica indicam que, até o encerramento de setembro, a economia ainda apresentava desempenho bastante robusto, mas que esse quadro deve se alterar entre o fim de 2024 e o próximo ano. “O ciclo anterior da política monetária, que havia viabilizado taxas de juros menores, pode ajudar a explicar o bom desempenho”, completa.

A expectativa é de que até o final de 2024, o PIB deverá crescer acima de 3% e, para 2025, “a economia deve sustentar um desempenho ainda positivo, mas mais próximo dos 2%”, avalia o economista.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, explica que o destaque positivo foi o crescimento dos setores de serviços, entre eles TI, o que contribuiu para o desempenho pelo lado da demanda, com o maior crescimento do investimento.

“O IBGE também revisou o crescimento do ano anterior de 2,9% para 3,2%, o que faz com que a restrição do aumento real do salário mínimo e indexação de benefícios seja ainda mais relevante para não pressionar mais os gastos em 2025 e 2026”, diz Vitória.

A projeção do Inter é de que no acumulado de 12 meses o crescimento do PIB é de 3,1% e projetamos 3,2% para o ano.

“O maior impulso fiscal desde 2023, via aumento de gastos do governo, vem contribuindo para o forte crescimento do PIB nos últimos dois anos”, destaca.

Rafael Perez, economista da Suno Research, adiciona que o bom desempenho do Consumo das Famílias está ligado ao mercado de trabalho aquecido, com o desemprego em mínimas históricas, o crescimento dos rendimentos do trabalho e da massa salarial, além das melhores condições de crédito e da expansão das transferências sociais.

“Em geral, a combinação de um mercado de trabalho aquecido, condições de crédito mais favoráveis e o impulso fiscal explicam essa expansão mais forte da economia ao longo de 2024. Por isso, elevamos nossa projeção para o PIB de 2024 para uma alta de 3,4%”.

PIB reforça tese de Selic mais alta

Salto, da Warren, comenta que, tendo em vista a pressão das expectativas de inflação e o dólar elevado, “o Banco Central deve endereçar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade”.

Vitória, do Inter, reforça que o crescimento mais acelerado da economia já está no radar do Banco Central e não deve mudar a trajetória de nova alta na Selic esperada nas próximas reuniões do Copom.

A casa mantém a expectativa de alta de 0,75 ponto percentual (p.p.) na Selic na reunião de dezembro, encerrando o ano em 12%.

“Nos comunicados anteriores, o BC já comenta sobre o hiato estimado positivo, sendo ponto de atenção, pois nesse cenário, o crescimento do consumo mantém a inflação de serviços pressionada, o que, por sua vez, gera a necessidade de maior aperto monetário via juros. Uma alternativa ao maior aperto monetário seria a redução dos gastos fiscais, o que ainda está em dúvida, mesmo após o anúncio do pacote de medidas do governo, que ainda é insuficiente”.

Atualmente o consenso de mercado espera que a Selic feche o ano em 11,75%, conforme a edição mais recente do Boletim Focus. Para o ano que vem, a projeção é de 12,63% – representando a terceira semana consecutiva de elevação da projeção.