O republicano Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez nesta segunda-feira, 20, trazendo para o país e para o mundo uma série de impactos econômicos. Desde as eleições, os agentes econômicos já notavam quais seriam esses impactos, inclusive cunhando o termo ‘Trump Trade‘.

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O termo em questão se refere ao movimento dos mercados com relação à expectativa de um retorno do nacionalismo econômico, com foco no protecionismo, cortes de impostos, desregulamentação e aumento nos gastos com infraestrutura e defesa.

Ou seja, nesse contexto há expectativa de uma pressão inflacionária maior, por conta do crescimento da demanda interna gerado pelos cortes de impostos e aumento dos gastos públicos.

Por consequência, isso pode levar a um aumento de juros, já que o Federal Reserve pode precisar conter a inflação com taxas mais altas – logo após manter os Fed Funds no patamar mais alto para as últimas décadas e iniciar um ciclo de cortes no segundo semestre de 2024.

Acerca do câmbio, a percepção do mercado é de que o dólar tende a se valorizar ante o real e outras moedas, impulsionado por expectativas de um crescimento mais rápido da economia dos EUA e de um ambiente mais favorável a investimentos internos.

José Victor Cassiolato, estrategista da RGW Investimentos, avalia que Trump, do momento da vitória até sua posse, não implementou grandes mudanças na sua postura econômica.

“A plataforma econômica que elegeu Trump deve seguir durante o mandato e sofreu poucas alterações desde sua concepção no primeiro mandato. É notável, porém, uma aproximação do candidato com o universo da tecnologia e da inteligência artificial, cuja presença se fez notar na sua posse”, comenta.

O especialista sinaliza que os primeiros 100 dias de governo serão cruciais para ‘saber qual será a priorização entre essas políticas econômicas e como seus impactos sobre os preços’.

Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, também endossa a tese de que a postura de Trump sobre a economia é praticamente inalterada.

“Com relação à desregulamentação, que é uma pauta importante, acreditamos que será positivo para a economia, especialmente que os líderes de grandes empresas de tecnologia estiveram acompanhando a posse. Vemos que ele segue com a mesma postura”, explica.

“Esse [Trump Trade, que pressiona a inflação] é um dos principais pontos de atenção. O banco central norte-americano [Fed] vem adotando uma postura mais rígida no que tange ao cumprimento das metas de inflação, deu inicio a um processo de corte de juros, os juros permaneceram em níveis elevados por um período mais longo do que o mercado projetava anteriormente, e hoje o BC norte-americano deve realizar em ao longo de 2025 um volume menor de cortes de juros”, completa.

O especialista aponta que não há uma relação mecânica e imediata entre as políticas de Trump e a política monetária, todavia, os efeitos das decisões do presidente podem causar efeitos econômicos como inflação de salários e um mercado de trabalho aquecido, então mudando variáveis de grande peso nas decisões do Federal Reserve (Fed).

Trump e a guerra das tarifas

Com uma visão econômica pautada no nacionalismo, o republicano acena frequentemente para uma imposição de tarifas que aumente a competitividade de americanos e prejudique a competitividade de players internos.

Durante sua campanha, ele chegou a declarar que irá implementar tarifas de 25% sobre produtos do México e Canadá e 60% sobre produtos da China.

No seu mandato anterior, ele havia travado uma intensa guerra comercial com a China – com tarifas pesadas em produtos como aço, alumínio e bens eletrônicos – e agora a tendência é que ele retome essas diretrizes.

Trump também prometeu tarifas de 10% sobre todos os produtos importados pelos EUA, pressionando países como Canadá, México e também o bloco econômico da União Europeia a renegociarem acordos comerciais.

O cenário todo deve gerar um aumento nos preços de produtos importados para os consumidores dos Estados Unidos, tendo impactos diretos, especialmente em tecnologia, automóveis e bens de consumo.

Recorde do bitcoin

A vitória de Trump fez com que o bitcoin e outras criptomoedas disparassem, renovando as máximas históricas dia após dia. Nesta segunda, 20, dia da posse, o bitcoin renovou seu recorde novamente, chegando a alcançar uma cotação de US$ 109.225 durante o dia.

Isso ocorre porque o republicano tem se mostrado amigável ao mercado de criptomoedas, sinalizando inclusive que quer tonar os EUA um ‘hub’ de criptomoedas.

Durante sua campanha presidencial de 2024, o republicano tornou-se o primeiro candidato presidencial a aceitar doações em ativos digitais, incluindo bitcoin.

Além disso, segundo o New York Times, sua gestão ensaia a criação de uma “Reserva Federal” de bitcoin, adquirindo a criptomoeda para fortalecer as reservas do governo dos Estados Unidos e mostrando uma integração direta da classe de ativo com o sistema financeiro do país.

Relações comerciais com o Brasil

Com o republicano voltando à Casa Branca, as relações comerciais com o Brasil devem ser afetadas.

O agronegócio brasileiro, que já tem uma forte presença nas exportações para os Estados Unidos, deve ter impacto das tarifas e barreiras comerciais.

Em um cenário de uma eventual nova guerra comercial entre EUA e China, o Brasil pode levar vantagem. Se os EUA impuserem tarifas sobre produtos chineses, a China pode buscar alternativas, como a soja brasileira, o que poderia aumentar a demanda por produtos agrícolas brasileiros, como soja, milho e carne.

Na contramão, a postura protecionista de Trump pode prejudicar exportações brasileiras para os Estados Unidos. Caso Trump reforce tarifas sobre produtos importados, isso pode reduzir o acesso do Brasil ao mercado norte-americano, especialmente olhando para produtos como carne bovina, açúcar e etanol.

Política fiscal expansionista

Olhando para as expectativas para a política fiscal e tributária deste novo mandato, há mudanças significativas esperadas.

Isso, já que Trump tem um discurso protecionista que contempla eventuais cortes de impostos, prometendo a redução do imposto corporativo de 21% para 15% para empresas que mantêm sua produção nos Estados Unidos.

Com isso, a arrecadação dos cofres públicos deve cair, considerando também o agravante de que o político acena para maiores gastos militares.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) projeta um déficit orçamentário de US$ 1,865 trilhão para o ano fiscal de 2025, antes de quaisquer mudanças propostas por Trump.

Bolsa de valores

Com a vitória de Trump, o mercado acionário teve uma resposta positiva. Apesar de um certo receio de volatilidade – por conta da pressão das suas políticas em variáveis como câmbio, inflação, juros e cotação de commodities -, de forma geral a avaliação tem sido positiva, conforme refletido pelos preços.

Após a eleição do republicano, o índice Dow Jones avançou 0,8% no dia seguinte, ao passo que o S&P subiu 1% e o Nasdaq avançou 1,5%. Desde o dia em que o resultado das eleições foi divulgado, a performance dos índices foi de :

  • Dow Jones: +3%
  • S&P 500: +3,7%
  • Nasdaq: +6,5%

Com o nacionalismo econômico, a visão de investidores é que o mandato deve fornecer um cenário favorável para a indústria nacional, especialmente em setores como energia, infraestrutura e tecnologia.

Olhando para setores em específico, o governo Trump tem um histórico de fortalecer o orçamento de defesa e de políticas mais favoráveis ao setor – conforme sinalizado em campanha – o que dá margem para alta de ações de companhias do ramo, como a Lockheed Martin.

Além disso, no segmento de energia e combustíveis, o republicano também aponta para políticas favoráveis ao setor – especialmente petróleo e gás natural -, com incentivos à produção doméstica.

No segmento de infraestrutura, com promessas de grandes investimentos, companhias do ramo também têm surfado altas – como o rali de mais de 8% dos papéis da Caterpillar após o anúncio da vitória do republicano.

Por fim, o setor financeiro também deve ter um ambiente favorável com a vitória de Trump. Ações de bancos como JPMorgan Chase e Bank of America subiram com a expectativa de políticas monetárias mais favoráveis e desregulamentação no setor financeiro. Desde a vitória do republicano, em novembro de 2024, esses papéis sobem 17% e 11%, respectivamente.