18/02/2025 - 14:32
Numa sessão de agenda esvaziada no Brasil, o dólar voltou a ceder ante o real nesta terça-feira, 18, e fechou no menor valor do ano, novamente abaixo dos R$ 5,70, após leilão de venda de moeda com compromisso de recompra promovido pelo Banco Central, enquanto investidores monitoravam as negociações no exterior para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.
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O dólar à vista fechou em baixa de 0,42%, aos R$ 5,6887 — menor cotação de fechamento desde 7 de novembro de 2024, quando encerrou em R$ 5,6759. Em 2025 a moeda norte-americana acumula queda de 7,93%.
Às 17h06 na B3 o dólar para março — atualmente o mais líquido — cedia 0,45%, aos R$ 5,6980.
O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, reflexo de realização de lucros, após voltar a superar os 129 mil pontos no melhor momento da sessão, encerrando uma sequência de três altas, quando renovou máximas no ano.
As ações do GPA ocuparam a ponta negativa antes da divulgação do balanço e com “downgrade” do JPMorgan, sendo acompanhadas de perto pelos papéis do Assaí, enquanto BB Seguridade capitaneou as altas após balanço, previsões para 2025 e anúncio de dividendos.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,89%, para 128.315,03 pontos, de acordo com dados preliminares, tendo marcado 129.293,71 pontos na máxima e 128.012,49 pontos na mínima do dia.
O volume financeiro somava 20 bilhões de reais antes dos ajustes finais.
Mesmo com tal desempenho, o Ibovespa acumula em fevereiro um ganho de 1,7% até agora e sobe 6,87% em 2025.
O dólar no dia
No exterior, as atenções estiveram voltadas às conversas entre Estados Unidos e Rússia em Riad, na Arábia Saudita, com o objetivo de colocar fim à guerra na Ucrânia. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse que nenhum acordo de paz pode ser feito pelas costas de seu país e adiou para 10 de março a visita à Arábia Saudita, antes planejada para quarta-feira.
Já a Rússia endureceu as demandas para um acordo de paz, exigindo que a Otan negue uma promessa feita numa cúpula em Bucareste, em 2008, de que a Ucrânia se juntaria à organização no futuro.
Em meio às tensões geopolíticas, o dólar se manteve em alta ante boa parte das demais divisas e, no Brasil, marcou a cotação máxima do dia de R$5,7259 (+0,23%) no mercado à vista às 11h07.
O leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) realizado pelo Banco Central pela manhã, no entanto, ajudou a tirar pressão no mercado brasileiro, na visão de alguns profissionais.
O BC vendeu US$3 bilhões pela cotação da taxa Ptax das 10h, de R$5,7046. A operação foi feita para rolagem de vencimentos programados para 6 de março. A recompra pelo BC será feita em 2 de outubro de 2025.
“O DXY (dólar index) está em leve alta, então estamos um pouco na contramão do exterior”, comentou no início da tarde Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. “Muito disso se dá por conta do leilão de dólares do BC. Depois disso vimos uma queda da moeda, e estamos com a agenda bastante esvaziada”, acrescentou.
Às 12h18, o dólar à vista marcou a mínima de R$5,6755 (-0,65%).
Com a agenda do dia sem grandes catalisadores, o dólar não teve força para buscar níveis mais baixos.
Na visão de Gomes, um dólar próximo dos R$5,60 ou R$5,70 está mais de acordo com os fundamentos atuais, após os picos vistos no fim de 2024.
“Não vejo nenhuma queda no curto prazo mais acentuada. Não temos indicador que corrobore isso”, avaliou.
Pela manhã, o Tesouro Nacional anunciou a emissão de títulos em dólares no mercado internacional, com prazo de 10 anos, vencendo em 2035.
“O objetivo da operação é dar continuidade à estratégia do Tesouro Nacional de promover a liquidez da curva de juros soberana em dólar no mercado externo, provendo referência para o setor corporativo, e antecipar financiamento de vencimentos em moeda estrangeira”, informou o Tesouro em comunicado.
Já o BC, além do leilão de linha, vendeu 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de abril de 2025.
Às 17h12, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,30%, a 107,040.
Leilão do BC
O Banco Central vendeu nesta terça-feira um total de US$ 3 bilhões em leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) realizado durante a manhã, informou a autarquia em comunicado, no que foi a terceira intervenção cambial da gestão do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo.
No operação, que ocorreu de 10h30 às 10h35 e tem como data de recompra o dia 2 de outubro de 2025, o BC aceitou cinco propostas, a uma taxa de corte de 5,411%.
A venda foi realizada com base na taxa de câmbio da Ptax das 10h, que marcava R$ 5,7046.
Esta operação, que havia sido anunciada na véspera, busca rolar outra operação de linha realizada em 16 de dezembro, quando a autarquia vendeu US$3 bilhões ao mercado com compromisso de recompra em 6 de março deste ano.
Ao realizar o leilão desta terça, o BC garante liquidez ao mercado e evita que a demanda adicional por dólares possa estressar as cotações da moeda norte-americana.
O BC ainda fará nesta sessão um leilão de até 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1 de abril de 2025.
Em 20 de janeiro, na primeira intervenção no câmbio sob Galípolo, o BC vendeu um total de R$ 2 bilhões em dois leilões de linha, em operação realizada no mesmo dia da posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em 29 de janeiro, a instituição vendeu outros US$2 bilhões, desta vez para rolagem de um vencimento de 4 de fevereiro.
Às 11h01, o dólar à vista subia 0,02%, a R$ 5,7140 na venda, em movimento semelhante ao observado antes da realização do leilão.
O dólar no dia
Autoridades norte-americanas e russas se reuniam nesta terça-feira na capital saudita, Riade, para suas primeiras conversas sobre o fim da guerra na Ucrânia, enquanto Kiev e seus aliados europeus observavam ansiosamente do lado de fora.
As conversas ressaltam o ritmo acelerado dos esforços dos EUA para interromper o conflito, menos de um mês após a posse de Trump e seis dias após ele ter conversado por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin.
Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, o conflito tem provocado volatilidade nos mercados globais em diversos momentos, principalmente devido à sua influência nos preços de commodities, como grãos e petróleo.
Um fim negociado para o conflito seria bem recebido pelos investidores, que teriam um fator de volatilidade a menos a ser ponderado em suas decisões.
Também continuam no radar notícias sobre os planos tarifários de Trump, que orientou sua equipe econômica na semana passada a estudar as taxas e outras barreiras comerciais impostas aos produtos norte-americanos, o que pode levar à implementação de tarifas recíprocas.
Os mercados têm interpretado as ameaças de Trump como uma tática de negociação, mas ainda temem a possibilidade de uma guerra comercial ampla ou os efeitos de tarifas de importação sobre os preços de diversas mercadorias.
“Continuamos a acreditar que Trump buscará tarifas no nível do produto e contra países com os quais os EUA têm déficits comerciais significativos, concentrando-se nos setores automotivo, de energia, farmacêutico e de chips”, disseram analistas do BTG Pactual em relatório.
“O principal risco é que Trump possa aumentar e impor tarifas a nível do país”, completaram.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,23%, a 106,970.