O dólar à vista teve uma leve alta ante o real nesta sexta-feira, 21, oscilando em margens estreitas e fechando a semana com ganhos, à medida que investidores continuaram demonstrando cautela diante das diversas incertezas no exterior, que abrangem questões comerciais, geopolíticas e macroeconômicas.

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O dólar à vista fechou em alta de 0,45%, a R$ 5,7304. Na semana, a moeda acumulou ganho de 0,58%, interrompendo sete semanas consecutivas de perdas semanais. Veja cotações.

Às 17h04, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,42%, a R$ 5,736 na venda.

O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feria, contaminado pelo viés negativo dos pregões em Wall Street e com as ações da Lojas Renner capitaneando as perdas com folga após divulgar resultado trimestral abaixo das previsões de analistas.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,37%, a 127.128,06 pontos, após marcar 127.654 na máxima e 126.483,02 na mínima do dia. Na semana, acumulou um declínio de 0,85%.

O volume financeiro somou R$20,8 bilhões nesta sexta-feira, em sessão também marcada pelo vencimento mensal de contratos de opções sobre ações na bolsa paulista.

O dólar no dia

Com uma agenda novamente vazia no Brasil, os investidores voltaram suas atenções para o cenário externo nesta sessão.

A maior incerteza neste início de ano diz respeito aos planos tarifários do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem realizado ameaças constantes de impor tarifas sobre países e setores econômicos, mas tem até o momento apenas uma nova taxa — de 10% sobre produtos chineses — já em vigor.

Diante das inúmeras manchetes sobre o presidente norte-americano, que em sua mais recente declaração prometeu impor tarifas sobre madeira e produtos florestais, os agentes financeiros têm operado com cautela.

“É um reflexo da falta de qualquer gatilho aqui para o curto prazo que possa deflagrar um movimento de compra ou venda que impacte a liquidez”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

“Acho que dá para dizer também que o mercado segue ‘ponderando’ sobre os planos tarifários do Trump… o movimento de hoje reflete nitidamente o momento do mercado de compasso de espera, sem gatilhos firmes”, completou.

Os mercados globais também aguardam o desenvolvimento das conversas recém-iniciadas entre EUA e Rússia pelo fim da guerra de quase três anos na Ucrânia, em que uma resolução de paz poderia trazer impulso para ativos mais arriscados.

A perspectiva do fim do conflito tem piorado nos últimos dias depois que Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, passaram a trocar críticas e insultos, dificultando um acordo, o que também explicaria o movimento de cautela nos mercados.

Na agenda desta sexta, os investidores ainda puderam analisar uma série de dados econômicos dos EUA, incluindo uma pesquisa de confiança ao consumidor e outra sobre a atividade empresarial, que vieram mais fracos do que o esperado.

Mas, apesar de terem impactado os rendimentos dos Treasuries, que recuavam na esteira dos números, os dados poucos influenciaram o mercado de câmbio.

Na contramão dos rendimentos dos Treasuries, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,23%, a 106,590.

Entre emergentes, ainda pesavam as fortes quedas do preços do petróleo nesta sessão, com perdas em torno de 3%, o que prejudica países exportadores da commodity como o Brasil.

Com isso, o dólar oscilou em margens estreitas no Brasil, com máxima de R$5,7358 (+0,55%), às 15h29, e mínima de R$5,6944 (-0,18%), às 12h31.

Na cena doméstica, investidores acompanharam comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do diretor de Política Monetária, Nilton David, ao longo do dia. Mas diante de todas as variáveis no exterior, as declarações tiveram pouca influência no mercado nacional.

“Hoje especificamente acho que não veio nenhuma surpresa”, comentou Bergallo sobre as falas das duas autoridades brasileiras.

Pela manhã o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 20.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de abril de 2025.

O dia do Ibovespa

Em Wall Street, o S&P 500 encerrou com declínio de 1,71%, após renovar máximas na semana, com dados mostrando uma economia mais fraca. O Dow Jones Industrial Average cedeu 1,69% e o Nasdaq Composite perdeu 2,2%.

Na próxima semana, a agenda de balanços corporativos no país vem carregada, incluindo pesos pesados como Petrobras, WEG, Ambev, Cosan, Localiza, BRF, entre outros, enquanto, do lado macro, a inflação é destaque no Brasil (IPCA-15) e nos Estados Unidos (PCE).

DESTAQUES

– LOJAS RENNER ON desabou 14% após divulgar recuo de 7,5% no lucro do quarto trimestre, que ficou abaixo das expectativas do mercado. A margem bruta de varejo cedeu 0,1 ponto percentua. A varejista de moda também anunciou programa de recompra de até 75 milhões de ações. De acordo com analistas do Citi, executivos da empresa sinalizaram na teleconferência que o mercado deve esperar uma margem bruta relativamente estável em 2025 ante 2024.

– RUMO ON caiu 2,27%, na esteira do lucro de R$206 milhões no quarto trimestre, abaixo das previsões de analistas. A companhia projetou que terá um volume transportado de entre 82 bilhões e 86 bilhões de TKUs em 2025, bem como Ebitda este ano de R$8,1 bilhões a R$8,7 bilhões. Executivos da operadora ferroviária demonstraram em teleconferência confiança sobre suas previsões para o ano, citando sinais positivos sobre o andamento da safra de soja do país e para o plantio de milho

– AZUL PN fechou em queda de 2,16%, no último pregão antes do balanço do quarto trimestre, previsto para segunda-feira, antes da abertura da bolsa. O conselho de administração da companhia aérea aprovou na quinta-feira um aumento de capital até R$3,37 bilhões por meio da emissão de novas ações, em operação que faz parte da reestruturação extrajudicial que trocou quase US$550 milhões em dívida em ações.

– B3 ON recuou 0,62%, mesmo após mostrar crescimento de 28,7% no lucro do quarto trimestre, para R$1,18 bilhão. Em termos recorrentes, o resultado ficou em R$1,2 bilhão, avanço de 13,6%.

– ENERGISA ON avançou 1,56%, após três quedas seguidas, período em que acumulou declínio de 3,4%, em dia mais positivo para o setor, com o índice de energia elétrica da B3 terminando com acréscimo de 0,9%.

– ENGIE BRASIL ON subiu 0,16%, endossada pelo balanço do quarto trimestre, com Ebitda ajustado 18,1% superior na comparação anual e acima das previsões dos analistas. A companhia estimou em teleconferência sobre os resultados que os cortes de geração renovável impostos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) devem se situar em 2025 em níveis próximos aos de 2024, com uma média de 10% da produção total.

– VALE ON avançou 0,73%, beneficiada pela alta dos futuros do minério de ferro na China. Investidores também digeriram os resultados da mineradora conhecidos na noite de quarta-feira, assim como o anúncio de dividendos e de recompra de ações. Na véspera, o papel havia disparado quase 3,7%.

– PETROBRAS PN cedeu 0,29% após renovar máxima de fechamento na véspera, tendo como pano de fundo o recuo dos preços do petróleo no exterior.

– ITAÚ UNIBANCO PN recuou 0,3% em dia mais negativo no setor, com BRADESCO PN perdendo 0,92%, BANCO DO BRASIL ON caindo 0,07% e SANTANDER BRASIL UNIT registrava variação negativa de 0,68%.

– NUBANK, que é negociada em Nova York, desabou 18,89%, mesmo após divulgar na véspera um salto de 87% no lucro líquido ajustado no quarto trimestre, com analistas chamando atenção para receitas abaixo das previsões. Excluindo efeitos cambiais, a receita somou US$2,99 bilhões, alta de 50%, mas abaixo da estimativa média do mercado, de US$3,29 bilhões. Goldman Sachs e JPMorgan também destacaram que a receita com juros (NII) ficou aquém das expectativas.

– MERCADO LIVRE, também listada no mercado norte-americano, saltou 7%, em meio à recepção positiva para o balanço do quarto trimestre, com lucro líquido de US$639 milhões, melhor do que o esperado e quase quatro vezes acima do apurado no mesmo período de 2023. A receita líquida da empresa chegou a US$6,1 bilhões, 37% maior que um ano antes e também superando projeções de analistas.