Apesar dos dados operacionais positivos, a Petrobras amarga uma queda de 7% e fica na lanterna do Ibovespa nesta sexta-feira, 8, refletindo os resultados divulgados pela companhia. A visão do mercado é de que, apesar da alta na produção celebrada pela CEO, o balanço veio ruim na parte financeira – inclusive nos dividendos.

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A XP resumiu o resultado da Petrobras como ‘melhor operacionalmente, pior financeiramente’, destacando que o fluxo de caixa e os dividendos (cerca de US$ 1,6 bilhão, yield de 2%) ficaram abaixo das expectativas.

Dessa forma, a queda em PETR4 e em PETR3 era esperada pelos analistas – e está sendo concretizada no pregão.

“Os investidores têm se concentrado principalmente na geração de FCFE e no pagamento de dividendos – isso é verdade para o setor de petróleo e gás, e particularmente para a Petrobras. A empresa ficou abaixo das expectativas no segundo trimestre de 2025, com dividendos trimestrais de US$ 1,6 bilhão (ante US$ 2,2 bilhões da de projeções da XP e US$ 2 bilhões do consenso)”, observam os analistas Regis Cardoso e João Rodrigues, da XP.

A visão é de que o fluxo de caixa operacional mais fraco do que o esperado, de US$ 7,5 bilhões, foi o grande detrator do resultado da Petrobras no 2T25, dado que o consenso de mercado mirava US$ 8,2 bilhões do consenso.

Além disso, o balanço veio acompanhado de um Capex ‘marginalmente mais alto’ segundo a XP, de US$ 4,1 bilhões ante US$ 3,8 bilhões do consenso.

“Em nossa opinião, a diferença no CFO não é facilmente explicada pelo capital de giro, já que os principais culpados parecem ter sido itens como depósitos judiciais, abandono, impostos sobre vendas e ‘outros’. Em nossa opinião, a conversão do EBITDA em CFO será um tema a ser observado nos resultados futuros.”

A XP tem recomendação da compra para os papéis da petroleira, com preço-alvo de R$ 46.

Analistas do Itaú BBA também mantiveram recomendação de compra para as ações da Petrobras, destacando que os resultados do 2T25 ficaram em linha com as estimativas e próximos ao consenso, ainda que o EBITDA ajustado tenha recuado frente ao mesmo período do ano anterior, impactado por preços mais baixos do Brent e custos operacionais mais altos.

Na política de dividendos da Petrobras, o BBA avalia que a empresa cumpriu as regras internas, mas os proventos ‘decepcionaram’ e o espaço para pagamentos extraordinários será reduzido dado o cenário atual para as cotações do petróleo Brent.

O banco vê como riscos principais a volatilidade do petróleo, interferências políticas na política de preços e mudanças no câmbio.

“O fluxo de caixa livre (e, consequentemente, os dividendos) ficou aquém das expectativas”, diz a casa.

Segundo a casa, o problema no fluxo de caixa veio por conta de um consumo de capital de giro não antecipado e um Capex em caixa maior que o esperado.

“Como resultado, os dividendos ordinários do trimestre somaram US$ 1,6 bilhão (yield de 2,1%), abaixo da nossa estimativa de US$ 1,9 bilhão. Como a previsibilidade e a constância no pagamento de dividendos têm sido fatores importantes para os investidores na tese de investimento da Petrobras, antecipamos uma reação negativa do mercado”, disse o BBA em relatório enviado a clientes na quinta-feira, 7.

O BTG, que manteve sua recomendação de compra para ADRs da Petrobras, destacou que a empresa mostrou uma força operacional no balanço, mas alertou que a alavancagem subiu e que, com o Brent abaixo de US$ 75, há pouco espaço para dividendos extraordinários no curto prazo.

A expectativa é de produção acima do plano de negócios, o que poderia levar a revisões positivas de lucro, e o banco vê as ações negociando com desconto injustificado frente aos pares na América Latina.

“A alavancagem aumentou, com a dívida líquida agora em US$ 58,6 bilhões, reduzindo a flexibilidade financeira. Embora os dividendos permaneçam dentro dos limites da política, um possível aumento do Capex pode afetar a visibilidade dos pagamentos. Acreditamos que a Petrobras poderia aceitar temporariamente uma alavancagem de curto prazo mais alta para preservar os dividendos ordinários sob sua política vinculada ao fluxo de caixa livre.”

Cotação das ações da Petrobras

Por volta das 15h40 os papéis preferenciais da companhia, negociados sob o ticker PETR4, recuam 5,2% a R$ 30,82. No ano, as perdas são de 16,1%.

Já os papeis ordinários, PETR3, recuam 7,1% a R$ 33,08. No acumulado de 2025 a queda é de 18,3%.

Dados do balanço x projeções

Veja abaixo o comparativo das últimas linhas do balanço trimestral da companhia ante as projeções do consenso Bloomberg:

  • Lucro de R$ 26,7 bilhões X projeções de R$ 15,07 bilhões
  • Receita de R$ 119,1 bilhões X projeções de R$ 111,8 bilhões
  • Ebitda de R$ 53,257 bilhões X projeções de R$ 56,6 bilhões
  • Dividendos de US$ 1,6 bilhão X projeções de US$ 2 bilhões

CEO celebrou dados operacionais

Mesmo aquém nos dividendos e em alguns indicadores financeiros, a CEO da empresa, Magda Chambriard, celebrou os dados operacionais da empresa.

No mês de julho, a produção média apenas de petróleo da Petrobras no Brasil somou 2,47 milhões de barris por dia (bpd), representando um incremento de 380 mil bpd ante o trimestre imediatamente anterior.

“Nós estamos no guidance da produção, nós estamos chegando no topo do guidance para este ano e nós estamos absolutamente dentro do guidance em termos de produção e em termos de investimento”, disse Magda Chambriard, em teleconferência com analistas.

“Estamos acelerando as nossas entregas, vocês estão sendo testemunhas disso”, completou a CEO da Petrobras.