O presidente da Cielo, Eduardo Gouveia, avaliou como desafiador o ano passado e vê 2017 como um exercício de transição, com retomada da economia brasileira. De acordo com ele, volumes mais fortes de transações com cartões serão possíveis apenas em 2018. “Esperamos uma melhora mais para o final do ano e recuperação mais forte em 2018, porém estamos focados no lucro da companhia”, disse ele, em sua primeira teleconferência com jornalistas após ter assumido a presidência. De acordo com Gouveia, as projeções (guidance) para 2017 indicam um ano “consistente” de volume. A Cielo espera que o volume financeiro da sua operação Brasil cresça de 4% a 6% neste ano. Em 2016, o volume financeiro da companhia, considerando o produto agro, chegou a R$ 584,937 bilhões, 6,7% maior em relação a 2015, de R$ 548,152 bilhões. Sobre o desempenho do mercado, o presidente da Cielo explicou que a companhia ainda não fez projeções porque não foram divulgados os números do ano passado. A credenciadora esperava que o setor tivesse expansão de 7% a 9% no ano passado. Até setembro, conforme a companhia, foi registrado aumento de 7,6%. Gouveia reforçou ainda que a Cielo manteve o mesmo patamar de investimentos para este ano, de R$ 400 milhões, em relação a 2015. No ano passado, porém, a companhia desembolsou R$ 277,6 milhões. O presidente da Cielo acrescentou ainda que a adquirente segue focada em rentabilidade e que lucro líquido passou a ser o incentivo de colaboradores e executivos para efeito de bonificação e prêmios. A Cielo anunciou na segunda-feira, 30, após fechamento do mercado, lucro líquido de R$ 1,012 bilhão no quarto trimestre, avanço de 18,6% em relação ao mesmo período de 2015, de R$ 852,7 milhões. No ano passado, o lucro da Cielo foi a R$ 4,006 bilhões, crescimento de 14,1% em relação a 2015, de R$ 3,511 bilhões. Recebíveis A Cielo espera que a penetração do produto “aquisição de recebíveis” fique entre 19% e 21% neste ano, de acordo com Gouveia. Segundo ele, o produto é um ponto importantíssimo da estratégia da companhia que deve compensar a queda dos juros, que impacta essa receita, com maior volume. “Estamos investindo fortemente e o plano é fazer uma conversão de venda para clientes ativos de pequeno porte”, explicou ele, em teleconferência com jornalistas, nesta manhã. No ano, porém, o indicador que mede a penetração do produto de aquisição de recebíveis no volume financeiro de crédito ficou em 20,3%, ante 19,4% em 2015. Já o volume financeiro alcançou R$ 66,713 bilhões, elevação de 7,6% na comparação com 2015, quando foi de R$ 62,029 bilhões. Prazo Sobre a possibilidade de redução do prazo de pagamento aos lojistas, que poderia afetar o produto de antecipação de recebíveis, Gouveia disse que acredita que será possível uma análise detalhada do tema, mas que ainda não tinha nenhuma informação ou determinação sobre quaisquer mudanças. De acordo com o executivo, a Cielo segue atuando de modo bem próximo para ajudar o mercado e o regulador a mostrar impactos e consequências de possíveis alterações no modelo atual. Desde o ano passado, a discussão sobre a redução do ciclo de pagamento ao lojista voltou à pauta do setor de cartões e do atual governo. Na mesa, está a possibilidade de equiparar o Brasil aos Estados Unidos, onde o prazo, diferentemente daqui que é de 30 dias, é de apenas dois dias. No entanto, a adaptação ao novo rotativo, que foi limitado em 30 dias, teria postergado essa discussão. Uma eventual redução do prazo ao lojista poderia impactar em aproximadamente 8% o lucro líquido da Cielo, de acordo com Gouveia. O número considera, conforme ele, o fato de o crédito à vista representar 40% do volume antecipado e a operação de compra de recebíveis responder por cerca de 20% do resultado da companhia. “É um tema (antecipação de recebíveis) complexo, delicado. Esperamos que o regulador possa fazer análise detalhada e rigorosa, junto com a indústria”, disse Gouveia, destacando que ainda não há nenhuma decisão sobre o tema. O executivo ressaltou que a Cielo adotou um plano “muito agressivo” para melhorar a rentabilidade do produto de aquisição de recebíveis neste ano. “Estamos trabalhando na maior conversão e rentabilização da aquisição de recebíveis que é uma ponta importante do nosso negócio”, destacou. Desalavancagem A Cielo segue focada em um processo de desalavancagem neste ano, assim como esteve em 2016, mas olhando oportunidades de captação de recursos, de acordo com o vice-presidente executivo de Finanças e diretor de Relações com Investidores da companhia, Clovis Poggetti Junior. O endividamento líquido da adquirente em relação ao seu Ebitda ficou em 1,0 vez ao final de dezembro, ante 1,1 vez em setembro. Na passagem de 2016 ante 2015, o indicador diminuiu em 0,6 vez. “Quando fizemos o negócio com a Cateno, anunciamos que o foco seria desalavancagem da companhia. Já pagamos uma tranche das debêntures, de R$ 1,5 bilhão em abril do ano passado. A segunda será em abril desse ano e a última, em abril do ano que vem. Existem oportunidades de captação de recursos, mas estamos no movimento inverso”, explicou Gouveia, em teleconferência com jornalistas, nesta manhã. Como exemplo, citou operação de crédito junto ao Banco Tokyo-Mitsubishi no valor de US$ 297,3 milhões, equivalente a R$ 1,0 bilhão, que a Cielo fez em dezembro do ano passado. O presidente da Cielo, Eduardo Gouveia, disse que a possibilidade de elevar o patamar de dividendos pagos aos acionistas está sempre em pauta, mas que não há nenhuma mudança prevista no curto prazo. Atualmente, a Cielo paga 30% do seu lucro. Historicamente, o patamar era de 70% e um pouco antes da Cateno, a adquirente reduziu a marca para 50%. Elo A Cielo espera compensar a perda da receita que tem a partir da exclusividade da captura da bandeira Elo com outras bandeiras menores, mas de maior rentabilidade. Isso porque, como explica o presidente da Cielo, a Elo é mais focada em transações de débito, cujo retorno é menor, enquanto as outras duas bandeiras que a Cielo passa a capturar são mais focadas em operações de crédito, cujo ganho é maior. No ano passado, o volume financeiro da bandeira Elo alcançou R$ 89,8 bilhões, aumento de 49,5% comparado com 2015. Deste total, conforme a Cielo, R$ 7,3 bilhões ou 15,1%, foram capturados por outros adquirentes sob o modelo multivan, que contempla apenas a captura das transações. Em relação ao volume total, o montante capturado sob o modelo multivan representou 8,1%, de acordo com a companhia. Sobre participação de mercado o presidente da Cielo disse que o foco da adquirente é entregar um resultado sustentável. “Share por share não vale. Share é importante, dá escala, mas nossa prioridade é resultado sustentável. Por isso, fizemos uma mudança na companhia, tornando o lucro líquido o principal motivador, que bonifica e premia o desempenho dos executivos”, reforçou Gouveia. Em relação à estratégia da Cielo por grupo de clientes, ele disse que as grandes contas são importantes, uma vez que dão visibilidade, escala e poder de negociação com fornecedores, mas que a companhia não privilegia sua base por um determinado segmento. De acordo com o executivo, sua gestão será focada nos seguintes pilares: inovação e transformação digital, proximidade comercial e gestão de pessoas e eficiência. POS O presidente da Cielo afirmou, em teleconferência com jornalistas, que o parque de terminais (POS) da Cielo tem se reduzido, mas que a receita de aluguel segue resiliente. “Temos uma base de POS mais rentável, com terminais com valor agregado um pouco melhor”, explicou ele, citando, por exemplo, as máquinas sem fio e ainda a LIO, terminal que combina adquirência e outros serviços como gestão do negócio. Ao final de dezembro, a máquina sem fio (WiFi/GPRS) representava 71,0% da base instalada da Cielo, aumento de 3,3 pontos porcentuais em um ano e 0,6 p.p. em relação a setembro. Já a base de clientes ativos da adquirente, considerando os que fizeram ao menos uma transação nos últimos 60 dias, totalizou 1,756 milhão de outubro a dezembro, diminuição de 6,5% em um ano e de 1,6% ante os três meses anteriores. A base instalada de POS diminuiu 9,3%, para 1,946 milhão de terminais, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e 3,9% ante o terceiro trimestre. Clovis Poggetti Junior destacou que o volume financeiro e o parque de máquinas da Cielo no ano passado foram impactados pelo cenário econômico desafiador. “A redução de parque do POS reflete a mortalidade de empresas e concorrência”, acrescentou Gouveia.