Um senhor de mais de 70 anos caminha pela Cracolândia de São Paulo segurando um saco com cerca de 30 pães. Escondidas no miolo, os policiais encontram várias pedras de crack. Com o enrijecimento do cerco policial que resultou na prisão de mais de 1,2 mil pessoas em um ano, traficantes têm recorrido à criatividade para abastecer o fluxo, um ano após a área ser alvo de uma megaoperação policial. Para driblar abordagens, também aliciam usuários a atuarem como “mula”, ou seja, transportando droga.

Segundo a Polícia Civil, a maioria do crack que chega à região é fabricada no exterior, principalmente em laboratórios do Paraguai onde há forte presença do Primeiro Comando da Capital (PCC), e tem no Mato Grosso uma das portas de entrada. No Brasil, o transporte da droga é feito por vias terrestres, com veículos que são trocados a cada nova operação para dificultar o monitoramento da polícia.

Na cidade de São Paulo, o crack é armazenado em entrepostos da zona leste e na Favela do Moinho, que fica no centro, a pouco mais de um quilômetro de distância da Cracolândia. De lá, a droga tem ido em quantidades menores para o fluxo – estratégia adotada pelos traficantes desde que a presença policial aumentou.

Em um ano, 1.207 pessoas foram presas em flagrante na Cracolândia, além de 243 adolescentes apreendidos, segundo balanço da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Os agentes encontraram 652,3 quilos de drogas – 74,2 deles de crack. Entre os flagrantes realizados pela Polícia Militar e pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), já acharam pedras escondidas em embalagem de remédio, alimentos e até em carrinho de bebê.

Antes, os traficantes levavam “tijolos” de crack, cada um pesando de 2 a 3 quilos, e estocavam em hotéis que funcionavam dentro do quadrilátero, segundo afirma a Polícia Civil. De lá, distribuíam entre barracas ao ar livre.

Facção

Investigações em curso indicam que, ao contrário do que acontecia recentemente, o PCC tem atuado a distância na Cracolândia. Segundo a Polícia Civil, o comércio direto da droga foi “terceirizado” e passou para mãos de “traficantes independentes”. À facção, cabe o papel de autorizar quem pode fazer negócio no território. Para isso, cobra uma taxa dos criminosos ou os obriga a revender o crack fornecido pela facção.

Entre 2015 e 2017, a atuação do PCC na Cracolândia era direta. Era a facção quem controlava a “feira da droga”, entre a Alameda Dino Bueno e a Rua Helvétia, área em que até agentes de saúde e assistentes sociais eram proibidos de entrar. O modelo parecia com o de franquias: a facção cobrava de R$ 70 mil a R$ 80 mil por ponto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.