25/02/2019 - 17:08
O árduo trabalho de arqueologia que vem sendo feito nos escombros do Museu Nacional rendeu frutos. Será inaugurada nesta quarta-feira, 27, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, uma exposição com 103 peças resgatadas do incêndio que destruiu o Palácio São Cristóvão, prédio principal da instituição, em setembro passado.
Outras 77 peças que estão na mostra foram preservadas por estarem fora da área do fogo ou emprestadas. No lobby do CCBB, recepcionando os visitantes, está o meteorito Santa Luzia, que caiu em Luziânia, em Goiás, em 1922. É uma menção ao lobby do Museu Nacional, onde os visitantes eram recebidos por um outro meteorito importante da coleção, o Bendegó.
Uma grande sala no segundo andar do CCBB apresenta a exposição Arqueologia de Resgate, em que as peças recuperadas dos escombros do incêndio guiam o percurso ao lado de outras que foram preservadas. A mostra contempla todas as áreas de pesquisa da instituição: Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia.
“O que poderia ter sobrevivido às gigantescas e intensas labaredas que destruíram grande parte do palácio? Graças a um trabalho intenso e heroico de servidores da instituição é que hoje podemos ver parte do material resgatado. Felizmente, ainda há muito mais por vir”, afirmou o paleontólogo Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional.
O crânio de um jacaré-açu resgatado por inteiro dos escombros é um dos destaques da mostra. Pequenas esculturas do Antigo Egito, de 1380 a.C., se salvaram do fogo, que consumiu todas as múmias da coleção. As estatuetas eram colocadas nas tumbas representando os servos dos mortos.
Também foram salvas algumas peças das coleções regionalistas, como as pedras em forma de ave e peixes (zoólitos) de Santa Catarina, cerâmicas marajoaras, elementos ligados a rituais dos orixás africanos, como flechas, argolas e búzios, bonecas carajás e panelas do Xingu.
Da biblioteca, que não foi atingida pelo fogo, a exposição apresenta a publicação Meteorito de Bendegó, de José Carlos de Carvalho, de 1888. Trata-se do relatório apresentado pela comissão formada por ordem de d. Pedro II para a remoção e transferência da rocha para o Museu Nacional.
O crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos, foi parcialmente preservado. O fóssil original, no entanto, não está na exposição; somente uma réplica. Até o fim de março, está prevista a conclusão dos trabalhos de estabilização da estrutura do Palácio São Cristóvão e a instalação de uma cobertura provisória.
Já foi lançado um edital para a contratação da obra de recuperação do telhado, estruturas de sustentação e a fachada do prédio, tombadas pelo Iphan. A licitação, contratação e início dos trabalhos estão previstos para o segundo semestre deste ano e serão financiados em grande parte pelos recursos alocados pelo Congresso Nacional, no valor de R$ 55 milhões.