Poucas empresas ou instituições conseguem completar um século de existência. Especialmente aquelas baseadas no chamado Mundo Novo, que passou a figurar no mapa múndi somente após ao desembarque da frota liderada pelo navegador genovês Cristóvão Colombo, em 1492. O desafio se torna maior ainda, quando a instituição em questão tem no trabalho voluntário e nas doações as suas principais fortalezas. E este é exatamente o caso da Junior Achievement (JA), criada em 1919 por três grandes empreendedores americanos: Horace Moses e Winthrop Crane, que fizeram fortuna no ramo de papel, além de Theodore Newton Vail, cofundador da Bell Telecom (atual AT&T), ao lado de Alexander Graham Bell.

Desde então, o propósito de ajudar a formar jovens para o mundo do trabalho e aptos a desenvolver a economia de seus países, a partir do espírito empreendedor, tem sido renovado. Prova disso é que a ONG não apenas se manteve ativa como se transformou numa plataforma global com ramificações por 100 países, incluindo o Brasil. E a mola propulsora deste processo tem sido o sentimento de pertencimento e o desejo de construir uma sociedade melhor.

E isso pode ser conferido por este colunista, na terça-feira (28 de maio), ao longo do The JA Gourment Experience, evento realizado no restaurante La Mar, pertencente ao estrelado chef peruano Gastón Acurio e que funciona dentro do hotel Mandarin Oriental. Tudo começa no coquetel na varanda à beira mar e de onde é possível enxergar alguns dos imponentes edifícios que imprimem um ar futurista ao skyline da cidade. Rapidamente se formam descontraídas rodinhas de bate papo, onde jovens ligados à Junior Achievement Americas, a promotora do evento, trocam ideais com executivos de potencias globais, tais como Delta Air Lines, ManpowerGroup, SAP, FedEx e LLYC.

Luciano Macagno, gerente-geral da Delta Air Lines para a América Latina e Caribe

Estes jovens representam os cerca de 1,28 milhão de meninos e meninas, dos 5 aos 24 anos, beneficiados anualmente pelos treinamentos e demais atividades ministradas por voluntários nas Américas. Os programas cobrem desde educação financeira, ética e liderança comunitária, até aulas práticas para a criação de uma miniempresa. O fundador do Subway, Fred De Luca, a ex-secretária de Saúde dos Estados Unidos, Donna Shalala, e o premiado jornalista Dan Rather foram alunos da JA Americas. Leo Martellotto, o atual presidente da ONG, é outro que integra essa lista.

Segundo Martellotto, a experiência foi importante para definir sua trajetória no mundo empresarial, além de ter impactado sua formação cidadã. “Hoje, nosso desafio é preparar o jovem para o mercado de trabalho, numa nova perspectiva na qual diversas profissões estão desaparecendo e outras tantas estão surgindo”, diz. Neste contexto, ele destaca que um dos principais legados do programa é proporcionar uma visão diferenciada do mundo, focada na capacidade de se adaptar às circunstâncias.

Ganhos para toda a sociedade

E foi por compartilhar este desejo de contribuir para uma sociedade melhor que a Delta Air Lines, principal patrocinadora do jantar, se tornou parceira global da ONG, dando suporte a projetos além das fronteiras dos Estados Unidos, onde fica sua base de atuação. “O investimento em educação é capaz de impactar positivamente todos os setores de qualquer sociedade”, pontua Luciano Macagno, gerente-geral da companhia aérea para a América Latina e Caribe. De acordo com o executivo, a atuação mais abrangente na área social foi possível graças à decisão tomada há três anos, pelo board da companhia, que passou a destinar 1% do lucro líquido anual para a área de Responsabilidade Social Corporativa. “A Delta sempre valorizou as ações de voluntariado em benefício das comunidades nas quais atua”.

Ajudar a formar cidadãos melhores continua sendo um dos pilares do programa elaborado em 1919 pelo trio Moses-Crane-Vail. No entanto, pesquisas conduzidas por consultorias independentes indicam que a filosofia da Junior Achievement assumiu uma nova dimensão, funcionando como um vetor de desenvolvimento econômico, nos países nos quais ela é implantada. O estudo realizado pelo Boston Consulting Group mostrou que cada dólar investido por empresas e cidadãos canadenses na ONG proporcionaram um retorno de 54 dólares para a sociedade.

A conta se baseia, por exemplo, no faturamento das empresas, nos impostos pagos e nos empregos gerados por negócios comandadas por pessoas que descobriram sua veia empreendedora ao participar dos programas da ONG. “Nossa maior contribuição é dar aos jovens à possibilidade de sonhar e se tornar o responsável por seu próprio destino”, diz Claudio Maruzabal, presidente da SAP América Latina e Caribe. “Contudo, é bom que fique claro que o papel da família e da escola formal continuam sendo vitais neste processo de desenvolvimento humano e social”, destaca.

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Mas, voltemos ao jantar.

Tanto do ponto de vista gastronômico quanto econômico, o evento foi um sucesso. A arrecadação total atingiu US$ 60 mil, dos quais US$ 16 mil resultaram do pequeno leilão de brindes, como pacotes de viagem. O restante veio da venda dos convites e das doações depositadas nas pequenas caixas de papelão espalhadas estrategicamente sobre cada uma das mesas.

Em cada uma delas, mensagens de agradecimento escritas por jovens de diversas regiões dos três continentes, expressando sua alegria em fazer parte da JD Americas. No ano passado, os desembolsos de empresas e doadores pessoas-físicas ultrapassaram a marca de US$ 30 milhões, nos 30 países, onde a ONG atua.

*O jornalista viajou para Miami a convite da Junior Achievement Americas