Especialistas da ONU pediram nesta quarta-feira (22) uma investigação sobre o roubo de informações do celular do fundador e presidente de Amazon, Jeff Bezos, que teria sido hackeado após receber uma mensagem no WhatsApp de uma conta atribuída ao príncipe saudita Mohamed bin Salman, alegação que Riad considera “absurda”.

A invasão que ocorreu há dois anos, gerou a publicação de imagens íntimas do presidente da Amazon, também proprietário do jornal The Washington Post para o qual trabalhava Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico do governo saudita, assassinado em 2 de outubro de 2018 no consulado de seu país em Istambul.

Em uma declaração, Agnès Callamard, relator de execuções extrajudiciais, e David Kaye, relator sobre liberdade de expressão, consideraram que “a suposta invasão de Bezos e de outras pessoas pedem uma investigação imediata das autoridades americanas e outras também”.

Os relatores da ONU indicam que receberam informações que “sugerem o possível envolvimento do príncipe herdeiro na estreita vigilância sobre (a intimidade de) Bezos, com o objetivo de influir no enfoque do Washington Post no que se refere à informação sobre a Arábia Saudita, e inclusive tentar silenciar” o jornal.

Esses especialistas são nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, mas não falam em nome da ONU.

Eles pediram que a investigação se concentrasse principalmente no envolvimento direto ou indireto do príncipe herdeiro em ações cujo alvo eram supostos opositores”.

Classificando estas acusações de “absurdas”, a embaixada da Arábia Saudita em Washington também pediu uma investigação “para que se lance toda a luz possível sobre estes fatos”.

– Khashoggi e um divórcio –

Ambos especialistas tiveram acesso às conclusões da análise técnica do iPhone Bezos, realizada em 2019, que revelou que o aparelho poderia ter sido hackeado em 1º de maio de 2018 através de um arquivo de vídeo MP4 enviado de uma conta usada pelo príncipe herdeiro saudita.

Segundo as conclusões desta análise, o príncipe herdeiro e o dono da Amazon haviam trocado seus números de telefone no mês anterior à invasão.

Poucas horas depois de receber o arquivo de vídeo, vários dados foram extraídos do telefone de Bezos, de acordo com os especialistas, que apontaram que esse vazamento de informações continuou imperceptivelmente por vários meses.

A análise também revelou que os hackers usaram um tipo de spyware (programa automático intruso) usado em outros casos de invasão saudita, como o ‘malware’ Pegasus-3 do grupo NSO.

Bezos contratou a empresa Gavin da Becker & Associates para tentar descobrir como mensagens e fotografias particulares chegaram ao National Enquirer.

O jornal publicou informações sobre um relacionamento extraconjugal do dono da Amazon, provocando o fim do casamento do empresário com Mackenzie Bezos.

Em março, a empresa já havia apresentado indícios contra as autoridades sauditas, mas sem identificar o responsável dentro do governo de Riad ou fornecer detalhes de como havia chegado a essa conclusão.

Para os relatores, a suposta pirataria “reforça as informações de um programa de vigilância direcionado àqueles que são percebidos como oponentes e/ou com importância estratégica” aos olhos de Riad.

Eles solicitaram a abertura de uma investigação profunda e minuciosa sobre as “acusações que o príncipe herdeiro ordenou, fomentou ou, pelo menos, estaria ciente dos preparativos” da operação para assassinar Jamal Khashoggi.

Em dezembro, um tribunal saudita eximiu os assessores de Mohamed bin Salman de qualquer responsabilidade pelo assassinato de Khashoggi, uma decisão denunciada como uma paródia da justiça por todo mundo, com exceção de Washington.

A CIA, bem como o relator especial das Nações Unidas, Agnès Callamard, vincularam diretamente o príncipe Mohamed bin Salman a esse assassinato, que o reino saudita nega veementemente.