30/03/2020 - 12:14
Estamos vivendo uma mudança drástica na forma de trabalhar e na convivência familiar e social. A história será narrada em dois momentos: Antes do Coronavírus (ACV) e Depois Coronavírus (DCV). No mundo corporativo, uma das consequências da crise é a prática do home office, adotada pela maioria das empresas nesse período de confinamento. Assim, surgiu um novo desafio que tem angustiado muitos gestores acostumados à liderança presencial: como estar presente e “perto”, mesmo estando fisicamente “distante”?
Grande parte das pessoas não está acostumada a trabalhar a distância, tendo que administrar todos os demais impactos em suas casas. Desta forma, essa “supervisão a distância” exige, mais do que nunca, um papel fundamental dos líderes e gestores no que tange a gerenciar, motivar, dar suporte e manter o maior nível de produtividade possível de suas equipes. Novas competências, habilidades e atitudes se tornam necessárias.
Tenho feito uma pergunta em comum aos líderes com os quais mantenho contato frequentemente. Qual o maior desafio enfrentado no gerenciamento remoto de sua equipe? As respostas identificam, de forma recorrente, alguns obstáculos:
- Motivar as pessoas sem a convivência presencial
- Contribuir a distância para o desenvolvimento e capacitação dos liderados
- Compatibilizar afazeres profissionais, tarefas do lar e convivência com a família
- Manter as equipes produtivas e comprometidas com os resultados desejados
O conceito de “supervisão” tradicional parece superado. A própria etimologia da palavra, que significa super + visão, foi criada quando chefes, coordenadores e capatazes monitoravam o trabalho de suas equipes presencialmente, medindo a eficiência dos tempos e movimentos de cada empregado, na execução de tarefas da linha de montagem dos produtos de uma empresa.
Nesta nova realidade precisamos oferecer, em curto prazo, o mínimo de tecnologia e ferramentas para que consigam lidar com essa atual demanda. E o momento é agora, não dá para postergar.
Logo em seguida, precisaremos investir na capacitação e desenvolvimento dos liderados, disponibilizando programas, cursos e workshops relevantes e customizados, evitando os genéricos, para aproveitar o tempo antes desperdiçado em deslocamentos. Esse foco em treinamento ganha ainda maior importância considerando que a agenda das equipes estará mais apertada quando todos voltarem às atividades presencialmente.
Aproveitem o tempo disponível das suas equipes nesse período de confinamento e isolamento social para promover a capacitação customizada. Além disso, evite o desperdício de tempo em noticiários infindáveis e lives supérfluas e improdutivas. Essas são boas formas de engajá-los no foco necessário e nas competências que precisam adquirir para o “day after”. Engaje sua equipe.
Assumir adequadamente o papel de líder demanda, pelo menos, cinco “deveres de casa” para gerenciar sua equipe a distância:
1- Defina com clareza o propósito e mostre aonde a equipe precisa chegar. Procure dar sentido ao rumo proposto, com foco no direcionamento e benefícios que podem ser extraídos da situação delicada vivenciada por todos. Continue sonhando com o futuro do País, da empresa, de sua família e da sua vida.
2- Cuide do todo e não apenas da parte. Ou seja, integre a equipe e não atue somente no um a um. Integração e sinergia são chaves para o sucesso. Não os deixe dispersar.
3- Faça mais que o combinado, com foco no resultado e não apenas nas tarefas. Surpreenda-os.
4- Inspire pelos valores da empresa e não apenas por hierarquia ou pelo carisma.
5- Reconheça o valor de cada colaborador e da equipe como um todo. Dê orientação para que esse movimento ocorra em cascata, com cada um que precisa cuidar dos seus liderados.
Esse momento de confinamento, crise, angústia e incertezas exige, além de todas as providências de higiene e limpeza já exaustivamente divulgadas por médicos, especialistas e mídia, um conjunto de atitudes junto aos familiares (presencial) e aos colegas de trabalho (remoto). Assim, recomendo aos líderes:
- Estejam pertos, mesmo que a distância fisicamente. A “pedagogia da presença” não precisa ser física. Conversas via vídeo, WhatsApp, Instagram, entre outros recursos digitais, são muito úteis com a equipe.
- Coerência entre discurso e prática. Não adianta, por exemplo, dizer aos filhos que limpar as mãos ou se hidratar é importante, se você não dá o exemplo e faz o mesmo.
- Inteligência emocional: momento de respirar fundo e controlar irritações advindas de adversidades, receios e frustrações. Demonstre maturidade no trato com o outro. Ter medo e ansiedade é natural e lidar com esses sentimentos é importante. Se necessário, procure meditar alguns minutos por dia.
- Aja com velocidade. Não é momento de postergar e “empurrar com a barriga” assuntos como o controle total do orçamento e das despesas, seja na empresa ou em casa.
- Otimismo saudável: acreditar que as coisas serão resolvidas e lutar pelas soluções, difundindo, de forma responsável, a esperança de que novos ventos voltarão a soprar.
- Tenha coragem para tomar decisões difíceis e delicadas, bem como para se posicionar claramente frente a temas polêmicos. Liderados, amigos, familiares e colegas precisam de assertividade e devemos evitar ficar “em cima do muro” e assumir posicionamentos que possam gerar dubiedades e inseguranças pessoais.
- Disciplina, determinação e perseverança. É momento de evitar desperdícios de tempo e energia, assim como de procurar cumprir rotinas simples, mas saudáveis, incluindo hora para o home office e exercícios físicos, além da definição de momentos para se alimentar, dormir etc.
- Além dessas sete atitudes, é importante desenvolver a criatividade, evitando que a situação acabe conduzindo a um ambiente de chatice e tristeza. Por exemplo, celebrar aniversários de liderados, familiares e amigos via Zoom, assim como fazer happy hour, de vez em quando, via vídeo conferência. Também é muito relevante cultivar a empatia pelo outro, demonstrando compreensão e generosidade.
Não esqueça de se divertir um pouco com a família, ouvindo boas músicas; vendo ou revendo bons filmes; assistindo peças teatrais e musicais online; “visitando” virtualmente os melhores museus do mundo; colocando a leitura em dia; conduzindo sessões de ginástica improvisada com familiares e agregados.
Finalmente, lidere pelo exemplo. Mais do que palavras, instruções e tecnologias, é importante que você não apenas dê, mas seja o exemplo para seus liderados nesse momento delicado que todos atravessamos. É preciso se transformar para ser o agente da transformação que sua empresa necessita e que o momento exige!
César Souza é o fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia Empresarial, Desenvolvimento de Líderes e na estruturação de hubs de inovação. É autor de Seja o Líder que o Momento Exige.