25/06/2020 - 12:44
Maio entrará para a história como mês em que palavras como racismo, inclusão, exclusão, diversidade e justiça foram mencionadas mundo afora, rompendo fronteiras, tanto quanto covid-19. E o nome George Floyd ecoou como sinônimo de um basta nas desigualdades raciais de qualquer ordem, mas, principalmente, o institucionalizado, na sua face mais visível e perversa nas ações da polícia, seja nos Estados Unidos, no Brasil ou em outras partes do Planeta.
As imagens que correram o planeta fizeram eclodir uma série de questões mal resolvidas, tirando várias pessoas da zona de conforto, tensionadas por uma frase que ganhou força por aqui: “Não basta não ser racista, tem que ser ANTIRRACISTA”. E em meio a este questionamento e também à pandemia, muitos criaram coragem, romperam o silêncio – e até o confinamento – e foram para as ruas para dizer basta de racismo.
Acompanhando de perto esses acontecimentos, nas imagens das manifestações nos Estados Unidos, Europa, Ásia e até mesmo aqui, como espectador ou analista de diversidade e inclusão na CNN Brasil, pude perceber uma evolução nessa discussão do antirracismo; uma mudança de patamar que, talvez, jamais havíamos atingido: houve a tomada das ruas, não apenas e somente pelas vítimas do racimo, negros e negras, mas também por brancos que de braços unidos disseram: essa é uma luta muito maior, é a luta pela dignidade humana.
Mas quais ações devem ser tomadas de forma prática para combater esse mal que nos assola há séculos? No calor das manifestações, uma série de iniciativas passou a ser praticada, desde o questionamento da conduta da abordagem policial nos Estados Unidos até a derrubada de estátuas e monumentos a personagens racistas de séculos atrás. O mundo corporativo não ficou atrás. Novamente os exemplos mais contundentes vieram de fora: Reed Hastings, cofundador e CEO da Netflix, juntamente com a esposa Patty Quillin, ambos brancos, doaram 120 milhões de dólares à formação universitária de negros e negras. A Apple lançou uma iniciativa de 100 milhões de dólares, cerca de 90 milhões de euros, para promover a igualdade racial. Tim Cook explica que esta iniciativa vai desafiar as barreiras do sistema, que existem à volta das oportunidades e dignidade das comunidades de cor, especificamente para a comunidade negra, para citar apenas dois exemplos.
Agora, ao olharmos para o maior país negro fora da África, onde as desigualdades são gritantes e o racismo expõe suas garras, não só na polícia, mas também em todas as estruturas de poder, não temos um negro no alto escalão do governo federal, como há nos Estados Unidos. Da mesma forma, também não temos um governador ou governadora negra. Lá também é ínfima a representação política no legislativo, não há nenhum negro no Supremo Tribunal Federal e apenas 4.6% em cargos estratégicos das 500 maiores empresas nacionais.
É de se perguntar: quanto as empresas – além de prestar contas em redes sociais, de criar eventos na semana da consciência negra, de criar grupos de afinidades, que são essenciais e muito importantes também – estão investindo verdadeiramente na inclusão de negros e negras no Brasil para a construção de mundo melhor.