30/07/2020 - 12:32
O PIB em queda livre, bilhões de dólares perdidos para empresas de petróleo, fabricantes de aviões e automóveis: a economia global mostrou, nesta quinta-feira (30), a fatura da pandemia, enquanto muitas incertezas pairam sobre uma possível nova onda.
Os números são vertiginosos.
A Alemanha, economia mais forte da Europa, revelou hoje uma queda histórica de seu PIB de 10,1% no segundo trimestre. E, nos Estados Unidos, o Departamento de Comércio anunciou uma contração de 32,9% do PIB, o pior desempenho da história desde o início dos registros em 1947.
“O PIB é o espelho retrovisor, nos mostra o fundo da onda, o buraco negro da crise”, diz à AFP o economista-chefe da Allianz Ludovic Subran.
Nas explosões de resultados divulgados nesta quinta, os pilares econômicos do “Velho Mundo” mostram grandes abalos, enquanto os gigantes da tecnologia americanos (Apple, Alphabet, Facebook e Amazon) ainda devem revelar seus resultados em algumas horas.
As empresas de petróleo revisaram para baixo o valor de seus ativos, devido ao colapso duradouro dos preços do petróleo e a uma queda histórica na demanda. A consequência foi de perdas abismais no segundo trimestre, de US$ 8,4 bilhões (cerca de 7,15 bilhões de euros) para a Total, e de US$ 18,1 bilhões, para a anglo-holandesa Royal Dutch Shell.
– “Sem precedentes”, mas “sem apelo” –
A aeronáutica também paga um preço esmagador pela crise, enquanto se espera que o tráfego aéreo recupere a normalidade apenas em 2023.
A construtora de aviões europeia Airbus anunciou hoje uma perda líquida de 1,9 bilhão de euros (US$ 2,23 bilhões) no primeiro semestre do ano: “queimou” 12,4 bilhões de euros (US$ 14,56 bilhões) em “cash” (dinheiro) durante esses primeiros seis meses do ano e reduziu seu ritmo de produção em 40%.
Sua grande rival norte-americana, a Boeing, planeja reduzir ainda mais seu ritmo de produção, demitir mais funcionários e parar de fabricar o lendário “Jumbo Jet” 747 em 2022. No segundo trimestre, perdeu um total de US$ 2,4 bilhões.
A indústria automobilística também estagnou, entre fábricas e revendedores de portas fechadas durante o confinamento.
A montadora francesa Renault sofreu a maior perda líquida de sua história no primeiro semestre do ano, a 7,3 bilhões de euros (US$ 8,58 bilhões), sobrecarregada por sua sócia japonesa Nissan e pela depreciação de ativos. No final de maio, anunciou a supressão de 15.000 empregos.
A gigante alemã Volkswagen anunciou hoje uma perda, antes dos impostos, de 1,4 bilhão de euros (US$ 1,64 bilhão) nos primeiros seis meses de 2020.
“Essa situação não tem precedentes, mas também não tem apelo”, afirmou o CEO da Renault, Luca de Meo, que prometeu uma recuperação.
Mas como? A normalização será lenta, e o automóvel, assim como o transporte aéreo, ambos mal sustentados pelos Estados Unidos, estão sob pressão, devido a crescentes preocupações ambientais.
– “Crise darwiniana” –
Na indústria siderúrgica, também existem balanços sombrios. A produtora de aço ArcelorMittal, por exemplo, teve uma perda líquida no segundo trimestre de US$ 559 milhões.
A indústria alimentícia resistiu um pouco melhor, com a gigante suíça Nestlé divulgando um lucro líquido semestral de 18,3%.
Os raros relâmpagos vieram da indústria “high-tech” (alta tecnologia) e da indústria farmacêutica.
A coreana Samsung, líder mundial de celulares e cartões de memória, teve um aumento trimestral de lucro líquido de 7,3%, enquanto o laboratório francês Ipsen revelou um lucro líquido no primeiro semestre de pouco mais de 1%.
“Esta crise é muito darwiniana, afeta países e setores de maneira muito diferente”, afirma Subran.
Após o primeiro “choque” nas atividades, “os setores já prejudicados em termos de rentabilidade terão que se adaptar a uma mudança mais lenta do entorno”, acrescentou.
Segundo especialistas, alguns não vão superar o golpe.