A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu fortemente nesta sexta-feira (28) sua decisão de deixar entrar dezenas de milhares de migrantes na Alemanha há cinco anos, causando uma crise migratória e uma queda na popularidade da qual ela se recuperou espetacularmente.

“Eu tomaria as mesmas decisões essenciais” da época, declarou Merkel durante sua tradicional coletiva de imprensa no início do ano político, invocando o dever humanitário.

“Quando as pessoas estão na fronteira austro-alemã e austro-húngara, é preciso tratá-las como seres humanos”. “Essa é a minha convicção”.

Em meados de 2015, Angela Merkel permitiu que dezenas de milhares de migrantes, sírios, afegãos e iraquianos, fugindo da guerra e da perseguição, entrassem na Alemanha para se refugiarem na Europa pela rota dos Balcãs, que levou-os para as fronteiras da Áustria e Alemanha.

“Teremos sucesso”, prometeu a chanceler na ocasião, tentando encorajar a população diante do desafio daquele fluxo de migrantes. Um milhão deles foi acolhido na Alemanha entre 2015 e 2016.

A decisão, entretanto, fortaleceu a ascensão da extrema direita e causou crises internas no país, o que enfraqueceu Merkel, antes de sua gestão da nova crise de saúde do coronavírus, que a impulsionou de volta a um nível recorde de popularidade.

Atualmente ela ostenta o recorde de 71% de opiniões favoráveis ou muito favoráveis, de acordo com uma pesquisa recente do Infratest Dimap.

Esse retorno à popularidade se deve à sua gestão “soberana” da nova crise do coronavírus, estima o professor de teoria política da Universidade de Dresden, Hans Vorländer, entrevistado pela AFP.

“Geralmente, as crises são um teste para os governos” e Angela Merkel conseguiu “encontrar o tom certo”, entre firmeza e empatia para fazer os alemães aceitarem as restrições à liberdade necessárias para combater o vírus.

– Momentos difíceis –

Passaram-se cinco anos desde aquela crise migratória e “desde então, fizemos muitas coisas bem”, afirmou a chanceler esta sexta-feira, incluindo nesse plural as pessoas que ajudaram os migrantes.

A mensagem de recepção do migrante foi inicialmente bem recebida, mas por um curto período de tempo. O escritório de migração alemão foi rapidamente sobrecarregado, e a chanceler considerada responsável pela situação “caótica” gerada pelo fluxo de migrantes.

As agressões sexuais contra mulheres, atribuídas aos norte-africanos no ano novo de Colônia em 2016, lançaram dúvidas sobre a opinião pública.

A Alternativa para a Alemanha (AfD), inicialmente antieuropeia, explorou medos e incitou o ódio contra os imigrantes, em sua maioria muçulmanos.

“Merkel deve sair!” tornou-se um slogan repetido.

A política de acolhimento de migrantes foi endurecida, mas a chanceler foi sancionada na legislatura de 2017, considerada um marco pela entrada da extrema direita no parlamento pela primeira vez desde o fim do regime nazista.

As eleições europeias e várias eleições regionais em 2018 confirmaram o declínio eleitoral de Merkel e de seu partido, o CDU.

Cinco anos depois, o equilíbrio da política de imigração alemã é considerado globalmente encorajador por especialistas.

Metade dos refugiados adultos encontraram trabalho, de acordo com a agência de empregos.

A Alemanha envelhecida “se tornou mais diversa, mais colorida, mais jovem”, diz Pro Asyl, a associação alemã para a defesa dos migrantes.

A implementação de uma política europeia de migração é uma das prioridades da presidência alemã da UE, lembrou Merkel nesta sexta-feira. Para ela, há muito o que fazer nesse sentido. “Se quisermos, também podemos conseguir”, garantiu.