Três homens embriagados, com latas de cerveja nas mãos em um Tesla a 100 quilômetros por hora em uma rodovia, cantam uma música de Justin Bieber em alto volume. No banco do motorista, ninguém.

Compartilhado na rede social TikTok em setembro de 2020, o vídeo intitulado “O Tesla foi o motorista designado” foi compartilhado mais de 100.000 vezes e “curtido” por quase dois milhões de usuários da internet.

Muitos vídeos do mesmo estilo, vistos pela AFP, circulam nas redes sociais mostrando como é fácil dirigir um Tesla equipado com sistema de assistência ao motorista sem ter que sentar ao volante.

No entanto, a prática é ilegal e fortemente desencorajada pela montadora, que lembra em seu site que “a atenção total do motorista e as mãos no volante” são necessárias em todos os momentos.

Para prevenir abusos, o fabricante forneceu mecanismos de proteção para suas tecnologias de assistência ao motorista Autopilot (que podem adaptar a velocidade do carro ao tráfego) e Full Self Driving (estacionar, mudar de faixa, parar no semáforo). Outras opções ainda estão em versão de teste.

O Tesla alerta o motorista, por exemplo, e para se o cinto de segurança não estiver mais colocado ou se as mãos do motorista não estiverem em contato suficiente com o volante.

– Enganar o veículo –

Porém, as redes sociais estão cheias de vídeos detalhando maneiras de “enganar” o veículo hipertecnológico quando o assistente é acionado.

A associação de defesa do consumidor Consumer Report demonstrou recentemente que é possível operar um Tesla sozinho por meio de um simples subterfúgio.

“Os idiotas sempre permanecerão idiotas tentando enganar o sistema”, protestou “Dirty Tesla”, presidente do Tesla Owners Club de Michigan, em um vídeo em sua conta no YouTube com 55.000 seguidores.

Segundo ele, “a culpa não é da Tesla. A empresa pode apresentar inovações, mas sempre tentarão evitá-las”. Ele não respondeu aos questionamentos da AFP, nem a Tesla.

Apesar de seus frequentes lembretes das regras, a empresa é vítima de sua própria mensagem dupla.

Em uma conferência em janeiro, seu presidente, Elon Musk, disse que a autonomia total se tornaria “evidente … dentro de um ano”. Em 2015, o bilionário disse que dentro de dois anos um veículo totalmente autônomo estaria disponível.

“Alguns fabricantes são mais cuidadosos com a forma como anunciam do que outros”, disse Andrew Kun, professor da Universidade de New Hampshire que se especializou em interações de tecnologia humana em veículos autônomos.

“O problema é o excesso de confiança, pensar que o sistema pode fazer mais do que realmente é capaz. Claro, esse é o problema de chamá-lo de ‘piloto automático’ quando na verdade não é”, continua.

– Acidentes fatais –

Ao mesmo tempo em que esses vídeos divertidos circulam na internet, vários acidentes fatais envolvendo carros da Tesla também são registrados, sem poder excluir a responsabilidade do assistente do motorista.

Em 17 de abril, um Tesla bateu em uma árvore nos arredores de Houston, Texas, matando os dois ocupantes do veículo. Em um relatório preliminar, o National Transportation and Safety Board (NTSB) não deixou claro se alguém estava ao volante no momento do acidente.

Após a morte em 5 de maio de um homem perto de Los Angeles, a polícia não soube dizer se o piloto automático foi ativado no veículo do jovem de 30 anos que se mostrava entusiasmado -o que a imprensa norte-americana identificou em sua conta no Instagram- com o conforto de dirigir sem as mãos graças, precisamente, ao piloto automático.

Apesar dos bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento ao longo dos anos, não existe um veículo totalmente autônomo até o momento.

A Tesla está na categoria 2 da escala de autonomia estabelecida pela organização profissional Society of Automotive Engineers, longe do quinto nível que seria sinônimo de autonomia total.

Além disso, as leis da Califórnia proíbem anunciar a autonomia de um veículo caso não o seja e o Departamento de Veículos Motorizados (DMV) disse à AFP que está atualmente “examinando” o caso Tesla.