27/09/2021 - 11:40
A campanha de vacinação de bilhões de pessoas em um ano ofuscou a pesquisa de outros tratamentos contra a covid-19, que avançam muito mais devagar, mas apresentam novas esperanças.
O que funciona
– Corticoides: Foi o primeiro tratamento oficialmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em setembro de 2020, mas apenas para os pacientes em estado grave.
A partir dos dados dos testes clínicos disponíveis, a OMS recomenda “a administração sistemática de corticoides” aos pacientes que sofrem uma “forma grave ou crítica” da covid-19.
Desta maneira é possível reduzir a mortalidade, combater a inflamação detectada nos casos mais graves e o risco de necessidade de respiração artificial, segundo a OMS.
– Tocilizumab e sarilumab: estes medicamentos são anticorpos sintéticos, chamados “monoclonais”, que integram uma família conhecida como “antagonistas da interleucina 6 (anti IL-6)”. A OMS recomenda seu uso para os caso mais graves desde julho de 2021.
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A organização aconselha que estes pacientes “recebam corticoides e anti IL-6”.
Desenvolvidos a princípio para combater a poliartrite reumatoide, uma doença inflamatória, o tocilizumab (vendido pelo laboratório Roche com os nomes de Actemra ou RoActemra) e o sarilumab (comercializado pela Sanofi como Kevzara) são imunossupresores.
Assim como os corticoides, estes medicamentos inibem a reação do sistema imunológico, que está por trás das formas mais graves de covid-19.
– Ronapreve: A OMS abriu na sexta-feira a porta para esta combinação de dois anticorpos monoclonais (casirivimab e imdevimab), mas apenas para dois tipos de pacientes:
Em primeiro lugar, “os que apresentam formas menos graves do coronavírus, mas que tenham risco elevado de hospitalização”, pessoas mais velhas, com o sistema imunológico frágil (por um câncer ou após um transplante, por exemplo).
Em segundo lugar, os pacientes “com uma forma grave ou crítica que não tenham anticorpos” do vírus após uma infecção ou com as vacinas. Como pode acontecer com os imunodeprimidos, nos quais a vacinação não é eficaz.
Este tratamento desenvolvido pela empresa de biotecnologia Regeneron, em associação com o laboratório Roche, tem um preço por dose muito alto (2.000 dólares, segundo as ONGs), algo que a OMS espera conseguir reduzir.
O que está em testes
– Antivirais por via oral: vários laboratórios trabalham na pista de antivirais administrados por via oral.
Um dos mais avançados é o molnupiravir, desenvolvido por uma aliança do laboratório MSD e da empresa de biotecnologia Ridgeback Biotherapeutics.
Testes clínicos estão acontecendo com pacientes (hospitalizados ou não) e em pessoas que tiveram contato com enfermos de covid-19. Os resultados podem ser conhecidos até o fim do ano.
A Atea Pharmaceutical, empresa de biotecnologia, e o laboratório Roche estão estudando a eficácia de um tratamento comparável, o AT-527.
A Pfizer está desenvolvendo um medicamento combinando duas moléculas, incluindo o ritonavir, que já é usado contra o vírus da aids.
Estes tratamentos “fáceis de tomar e eficazes nas formas precoces de covid-19”, têm um mercado “potencialmente enorme”, destacou recentemente a infectologista Karine Lacombe.
A cientista, no entanto, alerta contra os “anúncios impactantes” da indústria, porque, de maneira geral, estes remédios não apresentaram resultados convincentes contra o coronavírus.
– Anticorpos de nova geração: outros laboratórios estão trabalhando em anticorpos monoclonais de longa duração.
A Comissão Europeia considerou um deles, o sotrovimab, desenvolvido pela GSK, como um dos cinco tratamentos mais promissores.
Outro, o AZD7442, é um coquetel de anticorpos elaborado pela AstraZeneca, cujos resultados provisórios foram divulgados no fim de agosto. O laboratório afirma que pode ser eficiente contra a doença em pacientes em situação frágil.
Por fim, a empresa francesa Xenothera trabalha em outro tipo de anticorpos sintéticos, chamados “anticorpos policlonais”. Seu produto, o XAV-19, com anticorpos de origem suína, está na fase final de testes clínicos.
O que não funciona
Desde o início da pandemia, vários tratamentos se revelaram inúteis.
A hidroxicloroquina, o remdesivir (que parecia muito promissor em um primeiro momento), a ivermectina e a associação entre lopinavir e ritonavir (nome comercial Kaletra), que é usada contra o vírus da aids.
Estes medicamentos são todos “reposicionados”, ou seja, a princípio estavam destinados a outro uso, mas foram feitos testes para a luta contra a covid. A OMS foi progressivamente desaconselhando seu uso contra esta doença.
Após o fracasso de todos, com exceção dos anti-IL-6, “entramos em uma etapa de medicamentos específicos contra o SARS-CoV-2”, o vírus da covid-19, explica Karine Lacombe.