28/12/2021 - 9:20
Os bancos centrais em diversos países começaram a endurecer a política monetária no segundo semestre de 2021. No Brasil, esse movimento começou antes. A taxa de juros referencial Selic subiu de 2% ao ano em janeiro para 9,25% ao ano em dezembro. E, segundo a última edição do ano do Relatório Focus, divulgada na segunda-feira (27), o Banco Central (BC) deve continuar elevando a Selic em 2022, até a taxa chegar a 11,50% ao ano.
Os juros nos Estados Unidos ainda não subiram, mas isso é questão de tempo. Desde outubro, o Federal Reserve (Fed), o BC americano, vem reduzindo os estímulos à economia, que incluíam a injeção de US$ 120 bilhões por mês no sistema financeiro por meio da compra de títulos públicos e hipotecários. E os Fed Funds, equivalentes à Selic, podem começar a subir já em março de 2022. Atualmente em zero, essa taxa pode chegar a 2,5% ao ano em algum momento de 2023.
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Já na China a situação é inversa. Assim como vem sendo a regra desde a explosão da Covid em 2019, as coisas tendem a acontecer primeiro no país asiático. Em um comunicado divulgado no sábado (25), enquanto os países ocidentais comemoravam o Natal, o Banco do Povo Chinês (BPC), o BC da China, anunciou algumas mudanças. Informou que dará mais apoio à economia real, que vai promover o crescimento “saudável” do setor imobiliário e proteger os direitos dos compradores de imóveis.
Não foi a primeira medida nesse sentido. No início de dezembro, o BPC reduziu os depósitos compulsórios de modo a injetar 1,2 trilhão de renminbis (US$ 188 bilhões) na economia. Ele também permitiu que os bancos comerciais reduzissem a taxa básica de juros em cinco pontos-base e reduziu os juros para pequenas empresas. E pode fazer mais em 2022.
No anúncio do Natal, o BPC informou que vai criar programas de empréstimo para pequenas empresa e para financiar a redução de emissões de poluentes. Os bancos serão incentivados a financiar empresas de pequeno porte e projetos ecologicamente sustentáveis.
Para o governo, a economia chinesa está enfrentando três choques: queda da oferta, queda da demanda e piora das expectativas dos agentes econômicos. Essa situação deve ser agravar, especialmente se os problemas do mercado imobiliário e a desaceleração do consumo privado continuarem.
Movimentos de redução dos juros e novos afrouxamentos das políticas monetárias podem se espalhar pelas demais economias em 2022. Durante todo o ano que está se encerrando, os banqueiros centrais ficaram tentados a elevar os juros para conter a alta da inflação global e a explosão dos preços dos ativos financeiros e das commodities.
No entanto, a continuidade desse processo de aperto depende de uma variável que pode não se confirmar, o fim das contaminações pela Covid. Só isso tornará desnecessárias novas medidas de isolamento social. Não é o que está ocorrendo. Ao contrário, o surgimento da Ômicron e a preocupação com outras variantes que ainda possam surgir eleva a probabilidade de restrições e lockdowns. É o que o governo chinês está tentando antecipar. Ou seja, poderemos ver uma guinada de 180 graus nas políticas monetárias durante o começo de 2022.