13/01/2022 - 0:49
Eles moravam à beira do Rio Xingu, no Pará. Criavam cágados, aquelas tartaruguinhas típicas do Norte do País, e os soltavam na natureza. Viviam, nos mais amplos sentidos, a floresta e a defendiam com ideias, ações e com a própria vida. E, por isso, foram sumariamente assassinados. Covardes, os criminosos atiraram, deixaram os corpos a céu aberto e foram embora, como se nada de mais tivessem feito. Não é de se duvidar que depois tenham encontrado alguma cadeira para “tomar umas” e celebrar o trabalho feito. Esse é mais um na lista dos crimes que estão sendo cometidos diuturnamente na Amazônia brasileira sem qualquer punição… sem que haja, sequer, perspectiva ou medo de punição.
A morte de Zé do Lago (pai), da Márcia (mãe) e da Joene (filha), na propriedade da família em São Félix do Xingu (PA), é mais um fato que escancara para o Brasil e para o mundo o descaso do atual governo com o meio ambiente e o desprezo com a vida humana. Palavra do presidente a respeito? Nenhuma. Do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite? Tampouco. A bem da verdade, melhor ficar calado do que espezinhar a família já morta com frases que dificilmente fugirão do “Não sou coveiro, tá?”, proferida por Jair Bolsonaro no dia 20 de abril de 2020 quando o Brasil registrava 2.575 mortes e 40.580 casos confirmados de Covid-19. Hoje já são 621 mil mortes e 22,6 milhões de infectados. Mas não é essa a estatística que a família de Zé do Lago engrossa.
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Os três cidadãos brasileiros assassinados devem ser contabilizados na próxima publicação intitulada Last Line of Defense (A Última Linha de Defesa, em tradução livre) da ONG Global Witness, com o ranking dos países que mais matam ambientalistas. Na última edição do relatório (referente a 2020 e divulgado em 2021), o Brasil estava em 4º lugar, com 20 das 227 pessoas que lutavam pelo meio ambiente assassinadas no mundo. Qual será o lugar do Brasil no próximo? Não há como saber. E mesmo que dados dessa natureza sejam extremamente relevantes para uma compreensão da realidade, no fim das contas dizem muito pouco para quem está na linha de frente batalhando pela preservação de um patrimônio que é de cada um dos 212,6 milhões de brasileiros: os 6,7 milhões de km2 da Floresta Amazônica. Papel que deveria ser do governo federal. Deveria.