07/03/2022 - 15:13
Apoiadores e aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) viram na controvérsia envolvendo o deputado estadual Arthur do Val, do Podemos, uma oportunidade para enfraquecer a campanha do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, do mesmo partido, à Presidência. Críticos do presidenciável destacam que ele ajudou a divulgar a viagem de membros do Movimento Brasil Livre (MBL) – incluindo o parlamentar que teve seus áudios vazados – à Ucrânia e exploram sua proximidade com integrantes do grupo para desqualificá-lo.
Nesta segunda-feira, 7, tem tração nas redes sociais um movimento que cobra de Moro que ele preste contas sobre o valor arrecadado pelo grupo para ajudar os refugiados ucranianos. Na semana passada, Arthur do Val, Renan dos Santos e outros nomes do MBL fizeram publicações afirmando ter arrecadado centenas de milhares de reais para as vítimas do conflito. Eles também publicaram fotos e vídeos de sua atuação na fronteira do país invadido pela Rússia.
Por meio da hashtag “MoroAbreMBL”, bolsonaristas reeditam a pressão sofrida pelo ex-juiz para divulgar seus ganhos na consultoria americana Alvarez & Marsal, no início do ano. Desta vez, o pedido é para que ele abra as contas do MBL. O ex-juiz revelou sua remuneração na consultoria em uma live ao lado do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), que faz parte do grupo. Moro, por sua vez, nunca foi um integrante do MBL, embora tenha aceitado dividir palanque com políticos ligados ao movimento.
O deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) é um dos que mais têm mobilizado seu perfil na campanha contra Moro. Ele compartilhou publicações feitas por Felipe Martins, assessor de assuntos especiais da Presidência, com críticas ao presidenciável do Podemos. Martins classificou a viagem como “obscura” e usou a proximidade do ex-ministro com o MBL para argumentar que ele apoia “gente capaz de explorar o sentimento alheio para obter prazer”. O assessor também usou a situação para elogiar a postura do presidente Jair Bolsonaro diante do conflito.
“Tenho certeza que os ucranianos preferem ações concretas a palavras vazias. Enquanto o PR (presidente) está enviando ajuda humanitária e acolhendo refugiados, você ostenta virtudes nas redes sociais e apoia uma viagem obscura de gente capaz de explorar o sofrimento alheio para obter prazer”, publicou Martins.
Além dos áudios do deputado paulista, considerados misóginos, bolsonaristas também revisitam a recente polêmica envolvendo o deputado federal Kim Kataguiri, que disse considerar errada a criminalização do nazismo. Eles também dão destaque a um vídeo em que Do Val, dias antes de seus áudios virem à tona, diz que Bolsonaro “acabou com a imagem do Brasil” no exterior.
“O ‘Mamãe Falei’ preocupado com a imagem do Brasil? Não, ele quis dar uma de herói pensando nas eleições e cometeu o suicídio eleitoral. Acabou de sepultar o que havia restado de sua própria imagem”, publicou o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
Fora do âmbito bolsonarista, políticos de esquerda também repudiaram o comportamento do deputado do MBL, mas as associações a Moro foram menos evidentes. Em vez do ex-juiz, alguns políticos ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preferiram usar a ocasião para desqualificar o presidente Jair Bolsonaro.
“Puro cinismo Bolsonaro classificar fala de Arthur do Val como ‘asquerosa’, sendo ele o representante maior do machismo, sexismo e misoginia no Brasil”, publicou a deputada Erika Kokay (PT-DF).
Já o senador Humberto Costa (PE-PT) escreveu: “Bolsonaro, que agora repudia as falas do seu ex-aliado Arthur do Val, já disse que uma mulher não ‘merecia ser estuprada porque era feia’ e incentivou o turismo sexual no país ‘quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade’. Hipocrisia que fala, né?”.
Em nota a respeito das declarações de Arthur Do Val, o MBL disse repudiar o teor das falas do deputado, mas reforçou que o objetivo da viagem, segundo o grupo, foi arrecadar dinheiro para os refugiados. “Aos aproveitadores, lulistas e bolsonaristas, que viram nessa ocasião apenas um motivo para nos atacar, devemos reiterar que nada impedirá o trabalho do MBL em prol da terceira via”, diz a nota.
Na última sexta-feira, 4, quando os áudios foram divulgados, ele condenou as declarações do deputado e disse que “jamais dividiria palanque” com pessoas que têm aquele comportamento. A reação de Moro se deu pouco antes de Arthur do Val retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ao Estadão, o presidenciável afirmou que não tem “compromisso com o erro” e que “Os críticos da vez deveriam se preocupar com a proximidade do presidente da República com políticos condenados e envolvidos em casos de corrupção”.