08/03/2022 - 20:55
Tribunal considera partido ultradireitista uma ameaça à democracia e vê indícios de aspirações anticonstitucionais. Líderes de facção radical banida ainda exercem influência sobre a legenda, disseram os juízes.Um tribunal alemão autorizou nesta terça-feira (08/03) o Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV), a agência de inteligência interna do país, a exercer vigilância sobre o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).
O tribunal concluiu que existem indícios suficientes de aspirações anticonstitucionais dentro do partido. A legenda populista de direita é considerada uma ameaça à democracia alemã.
Uma facção radical da AfD conhecida como Der Flügel (“A Ala”) foi formalmente dissolvida pela Justiça alemã, mas seus líderes continuam a exercer influência sobre o partido, informou a corte da cidade de Colônia, onde fica a sede do BfV.
Um dos objetivos dessa facção, assim como da ala jovem da AfD, é proteger a “integridade étnica” da Alemanha e afastar do país os estrangeiros, afirmou a corte, ressaltando que isso vai diretamente contra a Constituição democrática da Alemanha.
O Tribunal afirmou ainda que foram detectadas ações contra estrangeiros por parte do partido, que mantém uma postura abertamente anti-imigração.
A decisão é um duro golpe para a AfD, que já havia recorrido duas vezes ao tribunal e conseguiu restringir temporariamente a vigilância do BfV, alegando que as ações da agência colocam o partido em desvantagem e constituiriam uma violação do Estado democrático.
De eurocético a ultradireitista
Criada inicialmente como um partido eurocético, a AfD passou a tomar posições cada vez mais à direita no espectro político alemão. Em 2017, a legenda conseguiu eleger representantes no Bundestag (Parlamento) pela primeira vez, ao se beneficiar da oposição de parte da população à política migratória do governo da ex-chanceler Angela Merkel.
Em 2015, a crise dos refugiados impulsionada pela guerra civil na Síria levou mais de um milhão de migrantes para a Alemanha. Merkel decidiu abrir as fronteiras para acolher refugiados em busca de acolhimento no país, uma vez que muitas dessas pessoas fugiam de conflitos e da pobreza em seus países de origem.
Embora a maioria dos alemães tenha apoiado a decisão da chanceler, parte do eleitorado sucumbiu à campanha do medo perpetrada pela extrema direita, que resultou na ascensão da AfD.
Nas eleições do ano passado, a AfD recebeu 10,3% dos votos, registrando uma pequena queda em relação ao pleito anterior. Recentemente, o partido se associou às campanhas contra as restrições impostas pelo governo para conter a pandemia de covid-19.
rc (AP, Reuters)