Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A safra de café do Brasil em 2022 deverá superar as expectativas iniciais, após chuvas em momentos importantes no desenvolvimento dos cafezais, avaliou nesta quarta-feira o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o que deve trazer alívio ao setor após um longo período de restrição da oferta e alta de custo.

Segundo Ricardo Silveira, falava-se que a safra de 2022 no maior produtor e exportador global não chegaria a 50 milhões de sacas de 60 kg. Mas agora, a poucas semanas do início da colheita, várias instituições e analistas indicam produção de mais de 60 milhões de sacas, comentou ele.

“A expectativa do mercado foi desfeita, e isso resulta em preço. O café não alavancou como muitos imaginavam, o preço caiu razoavelmente, as chuvas ajudaram em muito, tivemos chuvas na hora certa, no momento exato, o que beneficiou muito as lavouras”, disse Silveira a jornalistas, em teleconferência.

Os preços do café na bolsa de Nova York atingiram os maiores níveis em mais de dez anos em fevereiro, perto de 2,60 dólares por libra-peso, mas recuaram cerca de 12% desde então. No mercado interno, os valores caíram cerca de 20% ante as máximas do ano, com o arábica cotado em São Paulo a cerca de 1.250 reais por saca, segundo acompanhamento do Cepea.

Ele disse que o Brasil terá uma safra “bem razoável” e citou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que projetou em janeiro a colheita brasileira em 2022 em 55,7 milhões de sacas de 60 kg, um acréscimo de 16,8% em relação ao ano passado.

A produção, contudo, ficará abaixo do recorde de 2020, quando superou 63 milhões de sacas, segundo os números da Conab.

“Tem bancos trabalhando com mais de 60 milhões de sacas, o cenário para o industrial no momento é um pouco melhor, ele consegue ver um horizonte melhor, porque há seis meses o cenário estava ruim, com o mercado dizendo que faltaria café”, acrescentou Silveira.

“Acredito que teremos menos dificuldades até o final do ano”, disse.

Desde novembro de 2020, segundo o Índice de Oferta de Café para a Indústria (IOCI), a situação “se mantém abaixo da normalidade, indicando que as empresas, de todos os portes, não têm a oferta regular de café em grão, com o abastecimento sendo gradual e seletivo”, disse a Abic.

Essa situação foi refletida nos preços do café verde, que ficaram 155% mais altos para a indústria torrefadora no período de dezembro de 2020 a dezembro de 2021, enquanto reajuste no varejo foi de 52%.

Mas isso tende mudar, reiterou Silveira. “O cenário é de oferta dentro de 60 dias, já teremos cafés novos no mercado, e as indústrias já começam a talvez fazer promoções junto com o varejo para beneficiar o consumidor e alavancar o consumo”, disse.

CONSUMO EM ALTA EM 2021

O presidente da Abic destacou que, diante de todas as dificuldades em 2021, com alta de custos, baixa oferta e economia ainda afetada pela pandemia, o crescimento de 1,7% no consumo anual de café no Brasil é “algo para ser comemorado”.

O Brasil, segundo consumidor global de café, consumiu 21,5 milhões de sacas de 60 kg no último ano, segundo pesquisa divulgada pela Abic nesta quarta-feira.

A pesquisa anual mediu o consumo entre novembro de 2020 e outubro de 2021, apontando ainda que o Brasil está 4,5 milhões de sacas atrás dos Estados Unidos, o maior consumidor global.

Apesar do crescimento, o Brasil (maior produtor e exportador global de café) ainda está 500 mil sacas distante do recorde de 2017, de 22 milhões de sacas. Em dez anos, o consumo no país cresceu mais de 1 milhão de sacas, segundo dados da Abic.

Quando analisado o indicador per capita em 2021, o consumo atingiu 6,06 kg/ano de café cru e 4,84 kg/ano de café torrado.

“O bom desempenho na mesa do consumidor teve impacto direto na indústria: as empresas associadas à Abic registraram um crescimento de 2,77% no período”, afirmou a entidade, cujas indústrias filiadas respondem por 72,9% da produção do café torrado em grão e/ou moído e 85,4% de participação no mercado nacional.

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