24/06/2022 - 11:08
Um vem da Península de Setúbal. O outro, do Alentejo. São diferentes em tudo, das uvas ao preço final, passando pela escala e método de produção. E talvez por isso mesmo se complementem. Ambos são produzidos por famílias cujas histórias se confundem com a dos vinhos portugueses. E, cada qual à sua maneira, merecem ser conhecidos e apreciados.
Começando pelo João Pires, elaborado com a casta autóctone Moscatel de Setúbal. Sua produção teve início na década de 1970 e desde então conquistou espaço pelos aromas únicos, marcados por notas florais intensas, sobretudo a flor de laranjeira, e pelo paladar fresco e equilibrado. Atualmente, a produção é de 900 mil garrafas por ano.
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A safra 2021 já está no mercado brasileiro pelo atraente preço de R$ 99,99 (Interfood) e pôde ser degustada na companhia de António Maria Soares Franco, pertencente à sétima geração da família proprietária da vinícola José Maria da Fonseca, fundada em 1834. Dona de 650 hectares de vinhedos, a empresa tem no portfólio mais de 30 marcas, entre elas a Periquita, cujo tinto é o mais vendido do Brasil. Com apenas 11,5% de álcool, boa acidez e frescor, o João Pires Branco pode ser bebido sem muita moderação.
ESPORÃO – Já do Alentejo vem o mais inusitado e surpreendente dos brancos portugueses, o Esporão Private Selection 2020. Ele é provavelmente o único do país a ser 100% produzido com a casta francesa Sémillon, a mesma que dá origem aos deliciosos Sauternes em Bordeaux. A variedade foi introduzida na região pelo enólogo australiano David Baverstock, que por décadas foi responsável pelos rótulos do Esporão.
Lançado em 2001 com o nome Garrafeira, denominação que em Portugal se refere a vinhos que passam mais tempo em madeira. Neste caso, a fermentação foi feita em barricas de 500 litros de carvalho francês e o vinho permaneceu mais seis meses em barricas menores e outros na garrafa.
Segundo Rui Falcão, consagrado jornalista português especializado em vinhos que hoje responde pelo marketing da Esporão e esteve na última semana em São Paulo, o intuito da empresa ao lançar esse rótulo foi desafiar o perfil clássico dos grandes vinhos do Alentejo. A uva Sémillon se adaptou perfeitamente ao clima quente da região.
Hoje, a maturidade das vinhas, aliada ao tipo de solo (predominantemente argiloso), permitem extrair uma matéria-prima superior. Com aromas de limão maduro e amêndoa, é rico e exuberante no paladar. A safra 2018 obteve 95 pontos da Wine Enthusiast. A agricultura é biológica e o vinho é certificado no Brasil como orgânico. Chegará por aqui ainda em julho pela Qualimpor, empresa de João Roquette, da mesma família proprietária do Esporão. O preço para o consumidor final será R$ 299,00.