30/06/2022 - 8:37
Declarados, filmados, fotografados. Os casos de assédio sexual, moral e de violência física praticada contra mulheres em ambientes corporativos expõem o despreparo de alguns homens e, mais grave ainda, das corporações e instituições públicas em garantir a segurança de mulheres em ambientes onde elas estão para trabalhar. De nada adianta colocar metas de inclusão no quadro de funcionários, no C-level ou nos Conselhos de Administração se a profissional ainda tem que se submeter, aceitar, se calar ou se masculinizar para continuar empregada, crescer na hierarquia ou, mais básico ainda, não se ver no papel de culpada quando é a vítima.
Dois casos recentes ganharam espaço na imprensa nos últimos dias e mostram que a violência pode vir de todos os lados: de chefes, pares ou subordinados. Em uma série de vídeos que circulam pelas redes sociais e telejornais, funcionárias da Caixa acusam o agora ex-presidente da entidade Pedro Guimarães de atrocidades que vão desde falas desrespeitosas até toques em partes íntimas. Perder o emprego para quem comete tal violência é pouco. No Brasil, assédio sexual é crime estabelecido no Código Penal pelo Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. A pena varia de um a dois anos de prisão.
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Vamos combinar, porém, que o Código Penal brasileiro não anda valendo muita coisa, ao menos quando se trata de crimes contra mulheres. Quem não se lembra do deputado de São Paulo, Fernando Cury, que foi gravado apalpando a também deputada Isa Penna a olhos vistos na plenária da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Sua pena? Suspensão do mandato por 180 dias e expulsão do partido Cidadania. Julgamento? Prisão? Nada disso. Não se fala mais no assunto.
Já o procurador Demétrius Oliveira Macedo, que espancou a procuradora-geral de Registro (SP), Gabriela Samadello Monteiro de Barros, foi afastado do cargo, teve o salário suspenso e — ao menos um — está preso em São Paulo. Deveriam estar os três na mesma cela, eles e todos que agridem mulheres em ambientes corporativos, públicos ou domésticos.
Se há um aprendizado nesse horror todo para as empresas, é que estas estatísticas não valem nada se a inclusão não for seguida de uma mudança cultural de respeito à mulher. Não adianta reagir só em caso de repercussão midiática. Recursos humanos que gostam de surfar na onda do chamado RH estratégico precisam estar preparados para agir com autonomia em casos de violência corporativa, seja ela física ou psicológica, moral ou sexual.
Mas não venha falar em canais específicos para denúncias. Essa estratégia, como mostram os fatos recentes, não são suficientes se a estrutura inteira é construída para punir o mensageiro e a vítima.