25/08/2022 - 10:34
Criticada por sua aparente frieza diante da morte da princesa Diana, a família real britânica desde então trabalhou duro para mudar sua imagem, um empreendimento no qual teve sucesso, mas foi ofuscado por escândalos recentes.
Em contraste com a tristeza que dominou a população ao saber da morte de Diana em 31 de agosto de 1997 em um acidente de carro em Paris, os membros da família real pareciam distantes em um primeiro momento.
As críticas a essa atitude foram o estímulo para a família da rainha Elizabeth II revisar sua comunicação e tentar virar a página de uma década marcada por divórcios, disputas e vários escândalos.
Um quarto de século depois, a família está mais reativa e presente nas redes sociais e conseguiu organizar grandes eventos populares, como o jubileu de platina da soberana em junho, por seus 70 anos no trono.
Mas os esforços foram abalados por polêmicas recentes, como os vínculos do príncipe Andrew (terceiro filho da rainha) com o pedófilo americano Jeffrey Epstein e as acusações de racismo no Palácio de Buckingham feitas pelo príncipe Harry e sua esposa Meghan Markle.
“A morte de Diana foi um turbilhão que obrigou a monarquia a reorientar sua imagem, a adotar um perfil mais moderno e expressivo para agradar ao público”, disse à AFP o historiador Ed Owens.
No entanto, o especialista vê alguns perigos no afastamento de Harry de seu pai Charles (herdeiro do trono) e de seu irmão William (segundo na linha de sucessão), bem como na gestão do caso do príncipe Andrew. Por isso, prevê “tempos difíceis” para a coroa.
– Mudanças “imperceptíveis”, mas “firmes” –
Após a morte de Diana, o Palácio de Buckingham contratou um número maior de especialistas em relações públicas.
Robert Hardman, autor de “Queen of Our Times: The Life of Elizabeth II”, explica que a monarquia empreendeu uma “evolução” comedida, numa época marcada pela intensificação da informação contínua e pelo surgimento das redes sociais.
A monarquia “muda lentamente, imperceptivelmente, mas de forma constante e não sem razão”, diz ele.
A ideia era mostrar uma imagem mais “humana” da rainha, que às vezes parecia mais preocupada com seus cães e cavalos do que com seus súditos.
A imagem do príncipe Charles, que foi criticado por sua arrogância, também foi trabalhada, segundo ex-funcionários da casa real britânica.
Harry e William, “com a idílica relação fraternal que mostravam”, conquistaram os corações britânicos, assim como sua mãe.
“Isso realmente ajudou a colocar a monarquia de volta nos trilhos”, lembra Owens.
– Príncipe Andrew, o “grande erro” –
Hardman ressalta que, em vez de se esconder “e esperar a tempestade passar”, a monarquia britânica agora está muito mais reativa diante das polêmicas.
Diante das acusações de racismo feitas por Harry e Meghan, a rainha respondeu rapidamente em um comunicado de que “as memórias podem variar”.
O exílio nos Estados Unidos de Harry e Meghan em 2020, no entanto, prejudicou, porque “privou a monarquia de um dos seus salvadores”, diz Owens, que considera que a saída de Harry foi “uma grande perda”.
Meghan, uma ex-atriz americana negra, “também incorporou algumas das virtudes que Diana tentou projetar”, acrescenta, como a maneira de expressar suas emoções e ser “sensível às preocupações das pessoas comuns”.
Mas o maior dano foi causado pela gestão da crise em torno do príncipe Andrew, muitas vezes apresentado como o filho favorito da rainha. Acusado de agressão sexual em um desdobramento do caso Epstein, Andrew encerrou o litígio pagando milhões de dólares em um acordo extrajudicial.
Um mês depois, a rainha foi criticada por permitir que ele a acompanhasse em uma cerimônia em homenagem ao seu falecido marido, o príncipe Philip.
Segundo Ed Owens, esse foi “o grande erro” da monarca de 96 anos nas últimas duas décadas, que lembra os fracassos da época de Diana.
“A rainha pode não ter aprendido a lição do final dos anos 1990 tão bem quanto poderia”, considera.
O historiador acredita que “armadilhas” semelhantes estão à espreita de Charles, criticado por suas controversas doações a associações ou por declarações consideradas pouco condizentes com as de um futuro monarca.
Ao contrário de sua mãe, Charles carece de “sutileza” e “isso trará problemas”, diz Owens.