Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) – A petroleira francesa TotalEnergies anunciou nesta quarta-feira a criação de uma joint venture avaliada em 12,6 bilhões de reais com a elétrica brasileira Casa dos Ventos, em mais um movimento da indústria de óleo e gás para descarbonizar seus negócios e acelerar a transição energética.

A joint venture, com participação de 34% da TotalEnergies e de 66% da Casa dos Ventos, desenvolverá e operará um robusto portfólio de projetos de geração de energia renovável, que deverá chegar a 12 gigawatts (GW) de potência.

Pelo negócio, a petroleira pagará contraprestação em dinheiro de 550 milhões de dólares (2,92 bilhões de reais) e até 30 milhões de dólares (159 milhões de reais) em earn-out para concluir a aquisição.

Além disso, a TotalEnergies terá a opção de adquirir uma participação adicional de 15% na joint venture após cinco anos.

No fechamento da transação, esperado para o final do ano, o valor “pre-money” da nova empresa foi estimado em aproximadamente 12,6 bilhões de reais, disse a Casa dos Ventos, uma das principais empresas brasileiras de geração eólica e pioneira em prospecção dos recursos da fonte no país.

A joint venture nasce com um portfólio de mais de 6 gigawatts (GW) em empreendimentos de geração renovável, sendo 700 MW estão em operação, 1 GW em construção e 4,5 GW em estágio avançado de desenvolvimento.

A elétrica fundada pelo empresário Mario Araripe manterá sua área de desenvolvimento de projetos integralmente vinculada aos atuais acionistas. Com isso, continuará independente na prospecção de oportunidades e à elaboração de empreendimentos renováveis “greenfield” (do zero).

A joint venture terá o direito de adquirir esses projetos em desenvolvimento pela unidade da Casa dos Ventos à medida que os empreendimentos atingirem determinadas fases de execução.

Com isso, o portfólio da nova empresa de renováveis poderá crescer pelo menos 6 GW, atingindo 12 GW no futuro.

RACIONAL ESTRATÉGICO

O negócio marca a entrada da petroleira francesa de forma mais agressiva no mercado brasileiro de energias renováveis, no qual já atuava com a Total Eren, seu braço próprio para o segmento.

Atualmente, a Eren do Brasil detém 300 megawatts (MW) de projetos solares e eólicos em exploração, segundo informações do site da empresa.

A transação se soma à movimentação das petroleiras de avançar com a descarbonização de seus portfólios.

A portuguesa Galp anunciou em maio acordos para aquisição de até 4,8 GW em projetos renováveis no Brasil.

Já Shell e Equinor, além da própria Total, vêm estudando o mercado brasileiro de energia eólica offshore, com empreendimentos já em licenciamento no Ibama.

Em nota, a TotalEnergies afirmou que apoiará o crescimento da nova empresa por meio de sua presença global no mercado de PPAs (contratos de compra e venda) corporativos, poder de compra, experiência comercial e forte balanço patrimonial, permitindo que a joint venture melhore seus custos de financiamento.

“Com esta transação, a TotalEnergies adquire nada menos que uma posição de liderança no mercado brasileiro de energia renovável, um dos mercados comerciais mais dinâmicos do mundo”, disse Patrick Pouyanné, presidente e CEO da TotalEnergies.

“Este mercado enquadra-se na nossa estratégia de aproveitar o crescimento dos negócios desregulamentados de energia, que é crucial para a transição energética”, acrescentou Pouyanné.

A TotalEnergies tem a meta de atingir 100 GW de capacidade de geração de energia com fontes renováveis até 2030.

Já para a Casa dos Ventos, a associação com a petroleira permitirá uma expansão mais rápida de seu braço de geração, área em que a empresa passou a atuar mais recentemente, quando voltou sua estratégia ao fornecimento de energia elétrica a grandes consumidores do mercado livre.

Segundo o fundador e presidente da Casa dos Ventos, Mario Araripe, a joint venture foi estruturada para maximizar as complementaridades e sinergias entre as empresas.

“Além de sua solidez financeira, a presença global da TotalEnergies contribuirá para a expansão de nossa carteira de clientes e aprimorará nosso conhecimento em novos campos da transição energética”, comentou Araripe.

A Casa dos Ventos começou a atuar em 2007 com uma campanha exploratória de recurso eólicos no Brasil, o que resultou no desenvolvimento de um extenso portfólio de projetos que foram posteriormente vendidos a grandes elétricas.

Nos últimos anos, com a expansão do mercado livre de energia, a Casa dos Ventos passou a estruturar parcerias de autoprodução de energia com grandes consumidores industriais, como Vale, Anglo American e Braskem. Com isso, conseguiu contratos para erguer grandes projetos eólicos no Nordeste.

(Por Letícia Fucuchima)

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