“Ao ver crianças, adultos doentes, desnutridos, sem qualquer tipo de amparo, é difícil não lembrar dos judeus presos em campos de concentração na Alemanha nazista”. A declaração do Instituto Brasil-Israel, assim como as imagens de povos yanomamis nos últimos dias, trazem à tona uma das tragédias já anunciadas no Brasil: a desnutrição da população indígena. O governo federal finalmente fala em genocídio, o que já é dito por associações e coletivos indígenas há anos no país. 

A visita de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Roraima, na região Norte, nos sábado (21), para avaliar a situação de saúde dos yanomamis, resultou em revolta nas redes sociais e notícias pavorosas na imprensa, com fotos de indígenas em estado desnutrição. No domingo, 22, uma senhora de 64 anos que foi fotografada na visita foi a óbito. 

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O ministro da Justiça, Flávio Dino, chamou o caso de genocídio e pediu investigação federal. “Em relação aos sofrimentos criminosos impostos aos Yanomamis, há fortes indícios de crime de genocídio e outros crimes, que serão apurados pela Polícia Federal”, escreveu em seu Twitter. A PF vai apurar os responsáveis pela morte de cerca de 500 crianças yanomamis.

Desnutrição e descaso: o que acontece com os yanomamis em Roraima?

Reportagens veiculadas no fim de semana mostram pessoas desnutridas, contaminadas por malária, respirando com a ajuda de máscaras de oxigênio e com as costelas à mostra, em total estado de desnutrição.

A região, cujo território tem mais de 30,4 mil habitantes, tem crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição, além de muitos casos de malária e infecção respiratória aguda (IRA), entre outros. Após o retorno da missão, que deverá ocorrer nesta quarta (25), a equipe irá apresentar um levantamento completo sobre a situação de saúde que os indígenas se encontram, informou o governo. 

As denúncias feitas não cessam. No Twitter, o advogado Ivo Aureliano Makuxi, afirmou que é a ponta do iceberg. “Muita gente comovida com as imagens das crianças Yanomami. Há anos as lideranças e organizações indígenas vêm denunciando isso. É apenas a “ponta do iceberg. Se descobrirem o número de crianças que nasceram com problemas de saúde por causa da contaminação por mercúrio…”, postou.

 

Ao portal Brasil  de Fato, Ivo declarou que há relatos, documentos e registros oficiais de que estava em curso um projeto de extermínio dos povos indígenas no Brasil, principalmente na Terra Indígena Yanomami. 

Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami, emitiu nota e pediu ajuda sobre o caso. “Estamos vivenciando uma crise humanitária, e sabemos que o governo se mobilizou buscando ações que ofereçam todo o suporte que a população necessita neste momento”, escreveu. 

Bolsonaro sabia e deixou crianças a beira da morte 

Após a visita, uma das medidas de Lula foi exonerar os responsáveis por comandar as equipes de 11 dos 34 distritos sanitários especiais indígenas (Dseis) do país. A decisão vem a partir da troca de governo, e portanto, de cargos de confiança. Vale lembrar que a gestão anterior, de Jair Bolsonaro, ‘abafou’ números de infectados e mortos em aldeias indígenas no país. 

Em outras denúncias, lideranças afirmam que os Distritos Sanitários Especiais Indígenas eram majoritariamente liderados por militares. “Das 39 coordenações regionais da Funai, somente duas eram chefiadas por servidores de carreira. As restantes, eram todas comandadas por milicos que não possuem experiência alguma com indígenas e política indigenista”, escreveu uma indígena artesã nas redes sociais.

Várias notas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) emitiu diversas notas afirmando haver possibilidade de genocídio a espreita. 

“Desde o início da pandemia, pesquisadores e entidades científicas vêm reforçando o alerta sobre a vulnerabilidade da população indígena brasileira. Vítimas da falta de políticas públicas de proteção de seus territórios contra o avanço de invasores, como do garimpo ilegal, madeireiros, grileiros, os diversos grupos ainda têm sua sobrevivência ameaçada pela disseminação de doenças, como a malária, e outros fatores como a insegurança alimentar, ou violências diversas”, dizia uma das notas da associação. Leia aqui na íntegra

Ainda ontem, colunistas do UOL afirmaram que o ex-presidente do Brasil sabia das atrocidades e escreveu a órgãos internacionais, como a ONU, que ‘integrantes do povo yanomami estavam sendo atendidos e que programas específicos sobre a saúde do grupo tinham sido implementados”. 

O que diz o Ministério Público?

Em nota, o Ministério Público Federal se manifestou sobre o caso e afirmou que se trata de ‘omissão do estado brasileiro’. 

“A grave situação de saúde e segurança alimentar sofrida pelos povos Yanomami resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras. Essa é a avaliação feita pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF), em nota pública divulgada nesta segunda-feira (23). 

O documento traz um resumo da atuação judicial e extrajudicial do MPF na busca por soluções efetivas para a proteção dos povos indígenas que habitam o território Yanomami, mas pondera que, apesar dos esforços empreendidos, “as providências adotadas pelo governo federal foram limitadas”.

Ainda na semana passada, o MP declarou emergência em saúde pública de importância nacional diante da necessidade de combate à desassistência sanitária dos povos que vivem no território Yanomami. Foi instalado também o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE – Yanomami).

SUS recebe inscrições para novos voluntários

O Ministério da Saúde mantém disponível o link de cadastro para inscrições de novos voluntários que queiram apoiar a Força Nacional do SUS. Neste momento, os acionamentos têm foco principalmente para serviços em território Yanomami, depois que o Governo Federal decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) na região diante da necessidade de enfrentamento à desassistência sanitária da população local. Acesse aqui o formulário de inscrição. 

Os voluntários já convocados prestarão atendimento direto aos pacientes localizados na Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami e assistência no hospital de campanha do Exército. A equipe é composta por médicos, enfermeiros e nutricionistas que atuarão de acordo com suas especialidades.