Entender, mapear, analisar e publicar. Essa é uma premissa metodológica comum no meio acadêmico, e necessária para compreendermos o objeto de estudo. Para o bom entendimento, clareza dos dados. Para confiabilidade, isenção. Essa é a receita capaz de rechear o mundo com dados, informações e mensuração. E com esses pressupostos nasce o Instituto ABBC de Estudos Acadêmicos do Sistema Financeiro (IEASF/ABBC), uma estrutura para o desenvolvimento de pesquisa fina do mercado de capitais brasileiro.

Encabeçado por Sílvia Scorsato, que também é presidente da Associação Brasileira de Bancos, o novo projeto promete filtrar microdados relativos ao Sistema Financeiro Nacional (SFN), e se colocar como arauto das informações que permeiam o setor. “Vivemos um momento de evolução sem precedentes. Pix, Drex e Open Finance são exemplos de como nosso mercado vive um tempo de revoluções. Estamos prontos para identificar novas tendências, fragilidades e melhorar a competitividade do segmento”, disse.

Para que os dados já saiam do forno amparados pela credibilidade, a instituição fará parcerias estratégicas com universidades e outros centros de pesquisa, como Ibmec e FGV, além de braços públicos — como o Banco Central e o IBGE. “Podemos falar de microcrédito, regulamentação, tendências e comportamentos, é uma forma de oferecer ao mercado contribuições relevantes e entrar em assuntos que os grandes números trazidos pelo BC não contemplam”, afirmou.

(Edgar Kendi Hayashida)

“Teremos estudos isentos, imparciais. Não é porque estamos fazendo via ABBC que vai ter interferência sobre o tema.”
Sílvia Scorsato, presidente da ABBC

O apoio do Banco Central, inclusive, ficou evidente no lançamento do instituto, que contou com a presença dos diretores Otávio Damaso (regulação), Diogo Guillen (política econômica) e Ailton Santos (fiscalização).

Segundo Damaso, a proposta do IEASF supre uma lacuna que o BC não consegue preencher. “Há muitos estudos em macroeconomia e nem tantos em microeconomia. Temos milhões de dados auditados, que poderiam render boas pesquisas”, disse.

De acordo com ele, temas como adaptação e aderência do empresariado às mudanças na lei e a regulação para o mercado financeiro virtual também são de profunda relevância. Sílvia acrescenta que olhar para as transformações digitais é um dos pilares do instituto. “Nascemos digital. Mapear o mundo online é imperativo”, disse a presidente da ABBC.

As pesquisas desenvolvidas pelo instituto devem abranger temas voltados a:
inovação,
segurança cibernética,
ativos digitais,
blockchain,
e inteligência artificial.

Os resultados serão apresentados aos órgãos reguladores do SFN para poder conectar a produção intelectual a questões políticas, econômicas e sociais.

POTÊNCIA MUNDIAL

Para Jorge Sant’Anna, conselheiro da ABBC e cofundador e CEO do BMG Seguros, apesar de possuir uma estrutura financeira altamente robusta e sólida, faltam respostas no SFN brasileiro.“Temos grandes dúvidas que não serão sanadas por bancos ou reguladores. Elas serão sanadas pelo mundo acadêmico”, disse.

Segundo ele, a economia brasileira passa quase integralmente pelo mercado financeiro. “Agora podemos levantar dados precisos sobre o comportamento das pessoas.”

Isso também permite que o capital estrangeiro entenda melhor o Brasil. “Só precisávamos organizar os dados para mostrar aos brasileiros e ao mundo a solidez do sistema financeiro”, afirmou. Com 120 associados, o conselheiro da ABBC afirma que o início das atividades IEASF/ABBC muda a categoria da entidade, que deixa de ser apenas de pleitos e se torna fornecedora de dados.

Sobre a possibilidade de desenvolver estudos que não agradem os associados, Sílvia afirma que não será problema. “Teremos estudos isentos, imparciais. Não é porque estamos fazendo via ABBC que vai ter interferência sobre o tema. Vamos mostrar pontos favoráveis e desfavoráveis sobre o assunto, analisando cada um deles”, disse. Munida da regra fundamental em uma imersão acadêmica (que determina que só tem vez e voz quem se aprofunda em um tema), a ABBC entra de vez no debate de qualidade.