O Nobel da Paz Muhammad Yunus, conhecido como “banqueiro dos pobres” por seu projeto de microcréditos, ficará à frente do governo interino em Bangladesh, após a fuga da primeira-ministra Sheikh Hasina.

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Yunus ficou conhecido mundialmente ao receber o Nobel da Paz em 2006 por sua contribuição para o desenvolvimento econômico do país. Ele já havia recebido o Prêmio Príncipe das Astúrias de Concórdia em 1998.

O economista contribuiu para a redução da pobreza extrema em Bangladesh ao oferecer microcréditos a milhões de mulheres nas zonas rurais com seu banco, Grameen Bank, também premiado.

“O ser humano não nasceu para sofrer com a miséria, fome e pobreza”, afirmou ao ser laureado.

Após a premiação, Yunus cogitou criar um partido, mas abandonou o projeto, despertando a antipatia de parte da elite no poder.

O governo de Hasina, cujo mandato durou 15 anos e terminou com sua renúncia e fuga na segunda-feira, 5, após semanas de protestos estudantis, intensificou a repressão à oposição, e a popularidade do economista o tornou um possível adversário.

A Presidência anunciou na terça-feira, 6, que ele lideraria um governo interino, uma das reivindicações da mobilização estudantil.

Yunus, que voltará para Bangladesh na quinta-feira, 8, escreveu nesta quarta na revista britânica The Economist que fará o possível para que aconteçam “eleições livres e justas nos próximos meses”.

Na terça-feira, o economista disse que estava disposto a assumir o cargo: “Sempre me distanciei da política (…) Mas hoje, se for necessário agir em Bangladesh (…) então o farei”, disse em comunicado enviado à AFP.

Tribunal absolve Yunus

Yunus foi alvo de centenas de processos judiciais e vítima de uma campanha agressiva de uma organização muçulmana estatal, que o acusou de promover a homossexualidade.

Em janeiro, foi condenado a seis meses de prisão juntamente com outras três pessoas de uma das suas organizações, sob acusações de violar a legislação trabalhista. Nesta quarta-feira, o seu advogado informou que foi absolvido dessas acusações.

O governo o obrigou a deixar a direção do Grameen Bank em 2011, uma decisão contra a qual Yunus recorreu, mas que foi confirmada pela principal jurisdição do país.

Seus apoiadores afirmam que por trás desta destituição estava a ex-primeira-ministra Hasina, que o acusou de “sugar o sangue” dos pobres.

Apoiadores de Yunus e ONGs como a Anistia Internacional afirmaram que estes processos judiciais tiveram motivações políticas.

Pobreza “flagrante”

Yunus nasceu em 28 de junho de 1940 em uma família rica em Chittagong, no sul. Seu pai era ourives. O economista conta que sua mãe, Sofia Khatun, que sempre ajudou os pobres, exerceu grande influência sobre ele.

Após concluir os estudos nos Estados Unidos, retornou ao país em 1971 e chefiou o departamento de Economia da Universidade de Chittagong.

“A pobreza era flagrante em todos os lugares, não podia virar as costas para ela”, disse em 2006.

“Foi difícil ensinar teorias avançadas de economia a uma turma de graduação […] tive que fazer algo imediatamente para ajudar as pessoas ao meu redor”.

Segundo a Fundação Nobel, sua primeira iniciativa foi emprestar seu próprio dinheiro a trabalhadores pobres. A ideia era facilitar o acesso a pequenos empréstimos a pessoas muito pobres para obterem empréstimos no sistema bancário tradicional. O projeto acabou virando o Grameen Bank, fundado por Yunus em 1983.

“Criamos um mundo sem escravidão, sem varíola, sem apartheid. Criar um mundo sem pobreza seria a maior de todas estas conquistas”, afirma Yunus.