O colete puffer virou referência de vestimenta de quem circula pela região da Faria Lima (Avenida Brigadeiro Faria Lima) em São Paulo e desbancou o terno e a gravata como padrão do mundo dos negócios. Mas, agora, a peça que tem ganhado popularidade é outra: a calça curta.

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A barra da calça está ficando mais longe do calçado, com a bainha mais ou menos entre a canela e o tornozelo. Algo parecido com aquela que no passado era chamada de “calça pescador” ou, mais popularmente, “pula brejo”, no caso dos homens. Mas agora, está mais próxima da versão feminina, mais elegante, conhecida como “cigarrete”.

O colete puffer segue presente, mas, em dias mais quentes, basta uma volta pela região que concentra empresas da área financeira, de tecnologia e jurídica para facilmente constatar o desfile de calças curtas (Veja mais abaixo galeria de fotos).

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O que explica a tendência

Muitas vezes a peça tem um corte alfaiataria mais justo e é combinada com o uso de sapatênis, tênis ou sapato social sem meias ou, pelo menos, sem meias aparentes. “Comprimento mais curto e exposição maior”, define a consultora de imagem e estilo Alexandra Bastos.

A consultora também destaca que, a calça mais curta ajuda na composição da calça alfaiataria com tênis a manter elegância. Ela diz ainda que, quem acha imprescindível usar meias, pode optar pelo modelo “invisível” ou “sapatilha”, em que a meia acompanha a altura do calçado, ficando escondida.

O mundo corporativo tem sua moda como qualquer outro grupo, e não seria diferente no mercado financeiro e afins, diz a consultora de moda e estilo Gloria Kalil: “Se entendem e se reconhecem pelo vestuário. Os clientes se acostumam com o visual, como qualquer uniforme, é estar de igual para igual”, diz.

Kalil, que tem seu escritório na região e pode observar bem os circulantes, já identificou a calça mais curta entre os membros do grupo, os chamados ‘Faria Limers’. “Em geral, são jovens, seguem as tendências da moda, e a calça mais curta e justa é bem da moda”, afirma.

‘Melhora a autoestima’

Alexandre Bertoso faz parte desse perfil citado por Gloria. Com 30 anos, trabalha como assistente jurídico na área trabalhista em um grande escritório de advocacia, que fica em um dos prédios mais icônicos da região. Ele conta que acompanha perfis de moda e estilo, como o de Gustavo Balbi e do italiano Mariano Di Vaio.

“Gosto da moda, acompanho. Gosto de me vestir bem, melhora a autoestima, dá mais confiança. Acho que a gente acaba se vestindo como o pessoal do [mesmo] círculo”. Segundo ele, no escritório em que trabalha, poucas pessoas que ainda usam o terno completo no dia a dia, reservando o traje apenas para os tribunais, onde é obrigatório o uso.

O advogado Alexandre Bertoso (Crédito:Gabriela Araújo)

‘Dica de ouro’

O próprio Balbi disse ao site de IstoÉ Dinheiro que esse estilo de calça mais curta realmente está popular, e que vem da moda italiana. E ele dá uma ‘dica de ouro’.

Segundo o especialista em moda masculina, a barra deve ficar cerca de 1 centímetro acima do maléolo, que é aquele ossinho na parte interna da perna, na altura do tornozelo.

Balbi também vê o terno e a gravata, principalmente a gravata, mais em segundo plano no mundo dos negócios, mas ainda não está aposentado. “O homem entendeu que fica tão bem-vestido quanto estando de gravata se usar uma camisa social que tenha um colarinho estruturado e esteja aberta na medida certa, por exemplo. É possível passar autoridade mesmo estando sem ela”.

Calças mais curtas e mais justas

As calças não estão apenas mais curtas, mas mais justas também. Assim como as camisas, ternos, blazer; todas as peças com corte mais ajustado ao corpo, o modelo chamado de slim fit. “Os cortes mais justos vem muito da estética italiana, eles gostam de algo mais alinhado ao corpo, diferente da proposta do francês ou do americano, por exemplo, que usam roupas com cortes mais tradicionais, mais soltos no corpo”, explica Balbi.

Além do fator modismo em si, esse estilo também coincide com outra moda que vêm há uns anos ganhando mais seguidores, que é a busca por um corpo maior – mais musculoso – e mais definido.

“Hoje, inclusive, os tecidos mais clássicos têm um pequeno grau de elastano porque acompanha melhor os movimentos do corpo, até porque, muita gente aqui vem de bicicleta ou patinete também”, lembra Gloria Kalil, citando outro modismo bem comum da região.

Kalil também aponta para um efeito ainda da pandemia, em que muita gente trabalhou em casa por muito tempo, usando roupas mais confortáveis e informais, e se distanciado da gravata, por exemplo. “Vejo essa tendência de que a gente está ficando mais informal, mais confortável. E já faz muito tempo que a moda jovem está nesse caminho para a informalidade”.

“Os mais jovens são mais abertos às mudanças, mas vejo os mais clássicos adaptando também”, reforça Alexandra Bastos. Ela cita duas referências – em diferente faixa etária – que usam bem este estilo: o empresário Roberto Justus e o analista financeiro e cofundador da Nord Investimentos Renato Breia. “Está sempre com modelagem perfeita. E em vídeo, tem movimentação natural, confortável”, diz Bastos sobre Breia.

Alexandra Bastos, que é egressa do mercado corporativo e hoje atua com consultoria de estilo, também diz que a modelagem mais próxima ao corpo “destaca a musculatura masculina, criando uma silhueta mais alinhada e forte”. Mas alerta: para estar elegante, a alfaiataria tem que estar “impecável sob medida”.

Mas se o modelo está diferente, as cores continuam as mesmas. Será que colorido não combina com um look masculino? “Homens são fãs da praticidade. E manter a cartela enxuta faz o dia a dia mais rápido. Não perdem tempo pensando se combinam”, acredita Bastos.

Gustavo Balbi reforça as dicas. Ele aconselha a escolher boas calças de alfaiataria, camisa social ou camiseta branca básica. “Que sejam bem alinhadas, que não esteja sobrando tecido, mas não apertada. O básico funciona, menos é mais. Sem muitos logotipos, sem muitos detalhes. Básico e bem feito”.

O consultor diz ainda que não desaconselha uma peça específica, o mais importante é saber o que vestir para cada ocasião. Por exemplo, ele diz que até pode usar camiseta de time de futebol, mas não para sair com a namorada. “No bar com os amigos em um dia de jogo”, deixa claro. E conclui com uma recomendação geral:

“Entendo que o homem precisa estar sempre alinhado, com barba feita, cabelo feito, cheiroso. O homem inteligente, cheiroso e bem-vestido é imparável”, diz Balbi.

Cenas de calças curtas na Faria Lima

Fotos: Gabriela Araújo e Davi Raiol