O discurso de posse, sem surpresas, do presidente Donald Trump nesta segunda-feira, 20, manteve o Ibovespa no campo positivo até o fechamento do dia, em alta de 0,41%, aos 122.855,15 pontos, com giro muito enfraquecido neste feriado nos Estados Unidos pelo Dia de Martin Luther King Jr. O índice oscilou de 121.511,13 até 123.171,63, em alta de 0,67% na máxima do dia perto do fim da sessão, em que saiu de abertura aos 122.348,99 pontos. O giro foi de apenas R$ 11,7 bilhões. Concluídos dois terços do mês, o Ibovespa acumula ganho de 2,14% em janeiro.

Em discurso mais curto do que na posse anterior em 2017, Trump reafirmou sua preocupação com a segurança interna, e prometeu levar adiante deportações como providência inicial do governo. Reafirmou também o compromisso de revitalizar a indústria de petróleo e gás, bem como o de ressuscitar setores manufatureiros tradicionais, como o automotivo. Não falou da Groenlândia ou do Canadá, mas apontou o dedo para o Canal do Panamá, que prometeu retomar para os Estados Unidos, sem especificar de que forma o fará. E fez alguns gestos simbólicos, inclusive um aceno a Elon Musk, da Space X, ao apoiar a intenção de uma missão tripulada a Marte logo no discurso de posse. Trump insistiu também que o Golfo do México seja rebatizado como Golfo da América, sem se alongar no assunto.

China foi um ponto tangenciado no discurso, mencionado quando Trump se referiu ao Canal do Panamá, que estaria sendo usado de forma vantajosa pelos chineses em detrimento de embarcações americanas – punidas, segundo ele, por tarifas injustas pelos panamenhos, que assumiram, por concessão dos EUA, a gestão do canal em 1999.

Sem a referência de Nova York na sessão, o retrato do Ibovespa antes e depois do discurso de posse foi semelhante. O índice da B3 manteve discreta alta, em sessão com poucos catalisadores domésticos para os negócios. Entre as principais ações do Ibovespa, Vale ON destoava desde cedo da orientação geral, em baixa de 0,37% no fechamento. O dia foi de variação contida para Petrobras, com a ON em alta de 0,72% e a PN, de 0,24%. Entre os maiores bancos, também prevaleceram ganhos, com destaque para Itaú (PN +0,96%) no encerramento.

Na ponta vendedora nesta segunda-feira, Cosan (-6,83%), Brava (-6,43%) e Raízen (-5,39%). No lado oposto, Braskem (+8,45%), Assai (+4,81%) e Yduqs (+3,61%).

A falta de detalhamento de Trump quanto a tarifas que havia prometido impor com rapidez a parceiros comerciais próximos, como Canadá e México, foi lida de forma positiva pelo mercado. A ausência de referências comerciais específicas contribuiu para reforçar a visão de que a atuação protecionista será feita de forma gradual, sem arroubos que afetem não apenas o fluxo de mercadorias e serviços como também a inflação – com efeito direto para a política de juros do Federal Reserve.

“Medidas anti-imigração podem ser inflacionárias porque imigrantes são parte relevante da força de trabalho dos EUA – cerca de 20% do total – e seus salários são, em média, o correspondente a 89% do que ganham americanos nas mesmas ocupações”, diz Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad.

“Será necessário esperar pelas primeiras ações para ver se algum movimento impacta diretamente o mercado”, observa Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Ele aponta que o discurso de hoje “seguiu a linha de vários pontos abordados durante a campanha” eleitoral do ano passado, ainda que “nenhuma medida nova” tenha sido anunciada.

Dessa forma, o ‘day one’ prometido por Trump no começo de janeiro se mostrou, até o momento, menos avassalador do que se temia, o que faz crescer a expectativa de que elementos tidos como pragmáticos na equipe – como o secretário indicado ao Tesouro, Scott Bessent – possam vir a desempenhar papel moderador neste segundo mandato do republicano.