26/10/2015 - 0:00
TÓQUIO – Nessa quarta dia 28 abre para a imprensa o 44o Tokyo Motor Show, que poderá ser visitado pelo público de 30 de outubro a 8 de novembro. Um dos temas mais debatidos no importante salão japonês — que se realiza a cada dois anos — é a mobilidade urbana nas grandes cidades. E é curioso que a capital do Japão lidere esse debate, pois Tóquio é uma metrópole gigantesca, com mais de 13 milhões de pessoas, que não tem congestionamentos! Com exceção das saídas e chegadas dos fins de semana nas estradas, o trânsito flui de forma incrível, apesar da gigantesca frota de cerca de 5 milhões de veículos que circula pela cidade.
Quem vive nas grandes capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e até Curitiba (que já foi considerada exemplo de mobilidade urbana), morre de inveja de Tóquio. Mas como a capital japonesa acabou com os congestionamentos há muitos anos? Investindo nas coisas certas. Junto com os 5 milhões de veículos que andam nas ruas existem nada menos que 15 linhas de metrô com centenas de estações e impressionantes 102 linhas de trem.
É verdade que Tóquio tem cerca de 2 milhões de automóveis a menos do que São Paulo, mas, ao contrário da Pauliceia, ela não é administrada por impulsos pessoais, não é infestada de faixas exclusivas de ônibus, não têm centenas de quilômetros de ciclovias (sem bicicletas) espremendo os carros (embora seja praticamente toda plana, ao contrário da montanhosa Sampa), não vive ao sabor do populismo de ocasião de cada prefeito eleito, não tem milhares de motoboys infernizando o trânsito (apesar de ser a cidade-sede da Honda) e investe apenas depois de estudar a fundo os problemas e as possíveis soluções.
Há alguns dias, finalmente, o governo brasileiro decidiu reduzir para zero o imposto de importação de veículos elétricos e que utilizam célula de combustível. Os híbridos plug-in permanecem com desconto de zero a 7%, dependendo da eficiência energética e do nível de importação (alguns são parcialmente montados no Brasil). O Toyota Prius, por exemplo, paga 4% de imposto de importação. Mas isso ainda é absolutamente nada diante do que se faz na capital do Japão.
Para se ter uma ideia, a Prefeitura de Tóquio vai investir até 2020 (ano em que a cidade sediará os Jogos Olímpicos) nada menos que 45,2 bilhões de ienes (cerca de R$ 1,45 bilhão) no incentivo de carros movidos a hidrogênio. Esse dinheiro está sendo aplicado na construção de estações de recarga e subsídios para a compra de carros zero km. Um modelo da Toyota que custa cerca de R$ 230 mil, sai por R$ 170 mil com os incentivos oficiais. Já resolvido o problema do trânsito, Tóquio agora mira na melhor qualidade de vida. A cidade se comprometeu a reduzir em 25% seus níveis de emissão até 2020, partindo dos números que tinha no ano 2000.
Por causa de práticas como essa, o Japão está avançadíssimo na utilização de carros elétricos, híbridos ou com células de combustível. Os números são espetaculares e têm muito a ver também com a educação, cultura e consciência do povo japonês (em Tóquio não se vê um único papel de bala jogado em qualquer rua ou calçada). Dos 4,657 milhões de carros vendidos em 2014 no Japão, quase 40% são elétricos, híbridos ou com células de combustível. E cerca de 50% das vendas da líder do mercado, a Toyota, já são de carros desse tipo.
O mais vendido é o Prius, com cerca de 102 mil unidades/ano (mas já passou de 315 mil em 2010, quando havia menos competidores). Dessa forma, com incentivos corretos e sem a gangorra de impostos que é de praxe de todos os governos brasileiros desde Juscelino Kubitschek, a indústria automobilística japonesa continua fortíssima. O mercado interno absorve 4,657 milhões de carros, mas a produção é muito maior: 8,277 milhões. O restante, claro, vai para a exportação, enriquecendo o país.
Isso sem contar as picapes, caminhões, vans e ônibus. Os chamados trucks (picapes e caminhões) têm uma produção de 1,357 milhão e uma venda interna de 851 mil. Já os ônibus e vans registram uma produção de 140 mil e uma venda interna de 12 mil veículos/ano.
Por causa disso, existem oito marcas gigantescas no Japão (algumas pouco conhecidas no Brasil). Segundo a Jama (Japan Automobile Manufacturers Association), o ranking de produção da indústria automobilística japonesa teve em 2014 a seguinte ordem: 1o Toyota (3,266 milhões), 2o Suzuki (1,059 milhão), 3o Honda (958 mil), 4o Mazda (934 mil), 5o Nissan (880 mil), 6o Daihatsu (782 mil), 7o Mitsubishi (744 mil) e 8o Subaru (695 mil). É uma pena que uma visita ao Salão de Tóquio não esteja no radar dos principais políticos, administradores e legisladores brasileiros.