11/07/2016 - 0:00
Nas minhas últimas postagens, tenho discorrido com muito afinco sobre a preocupação de algumas corporações, principalmente as multinacionais, acerca das ações afirmativas no Brasil, um movimento sem volta quando percebemos que gigantes do mercado como Grupo Carrefour, Coca-Cola, Google, Microsoft, entre outros, se voltam decididamente ao tema.
Mais do que analisarmos como este movimento tem se dado e as vantagens decorrentes da adoção de ações afirmativas para as organizações empresariais – sejam relacionadas ao lucro ou no reforço de marca – é importante medir também como esta mobilização impacta e envolve os consumidores e as instituições da sociedade civil e sobretudo qual é o papel da área governamental – esta que, no final da contas, é a que cumpre a função regulatória e tem a responsabilidade de agir por uma maior igualdade seja nos mercados ou na sociedade como um todo.
Para entender um pouco disso é importante saber como o Brasil entrou oficialmente nessa luta. Há quase duas décadas em Durban, África do Sul, esta história começou a mudar. Reunidos naquela cidade, dezenas de países propuseram deliberações de enfretamento ao racismo e alternativas de desenvolvimento em direção à igualdade racial. A conferência sofreu boicote dos Estados Unidos e Israel, mas nosso país contou com a maior delegação do encontro: para lá se dirigiram mais de 200 pessoas de toda parte do Brasil.
Em contrapartida ao nosso esforço e empenho, ganhamos a relatoria do fabuloso encontro, ocasião em que firmamos o compromisso de fazer a lição de casa e aplicar políticas de ações afirmativas em todos os âmbitos do estado brasileiro fazendo com que nos tornássemos referência nas Américas e no mundo em politicas de igualdade racial.
Depois disso, vieram para cá ativistas do mundo inteiro para entender, por exemplo, o funcionamento do Ministério da Igualdade Racial, órgão inédito no planeta, até sua criação. Também nossas leis de cotas nas universidades, nossas secretarias e outras instâncias de organismos promotores da igualdade racial passaram a servir de modelo para outros países, principalmente na América Latina, onde mais de 200 milhões de pessoas se autodeclaram afrodescendentes.
O setor privado brasileiro começa a dar sinais de que vai entrar pesado neste tema. A iniciativa vem agora do Itaú – que está entre os maiores bancos do país e do mundo – que acaba de criar um grupo que irá trabalhar fortemente na inclusão de negros nos seus quadros. O grupo, que já se preocupava com outras minorias, como portadores de mobilidade reduzida, ajusta seu foco agora para os afrodescendentes. Um grande exemplo para outras empresas nacionais.