11/11/2016 - 0:00
Protecionismo é a palavra mais em voga desde que o magnata do mercado imobiliário, Donald Trump, foi guindado à Casa Branca. Trump, embora republicano – partido que tradicionalmente tem uma visão menos cerceadora das relações comerciais – prega a retaliação aos parceiros competitivos, China principalmente, e a implosão de tratados como o Nafta e o recém assinado acordo do Transpacífico que une os EUA ao Japão e a outros dez países e que ainda não foi ratificado pelo Congresso.
O pendor do empresário (agora presidente eleito) a uma diplomacia econômica mais belicista, digamos assim, pode levar seu país a seguidos embates nos tribunais da OMC e a conflagração do ambiente aonde antes a globalização reinava. Guerras comerciais despontam no horizonte como nunca antes, avaliam analistas de várias vertentes. Os EUA de Trump, que segue por enquanto como maior comprador do planeta, está prestes a erguer um muro simbólico de resistência às importações em massa. A intensidade dessa tendência é que vai delimitar a reação dos demais.
A elevação de tarifas a produtos estrangeiros e o aumento de embaraços na alfândega americana são algumas das medidas previstas que podem representar um retrocesso perigoso nos entendimentos em vigor até aqui. Os EUA flertam com o espectro sinistro da instabilidade financeira. Pode viver, segundo a plataforma de governo de mr. Trump, uma onda de medidas isolacionistas. E o mercado teme uma era de incertezas daí para frente. Já precificou o risco. Bolsas seguem em queda desde a confirmação de sua vitória. A possível maior cooperação com a Rússia de Putin também não ajuda a reverter as expectativas pessimistas da praça.
Para o Brasil, que nos últimos anos experimentou um crescente distanciamento do parceiro americano e que desde a posse de Temer procura uma reaproximação, as consequências do chamado Efeito Trump ainda não estão claras. Pode ocorrer algum tipo de cerceamento de encomendas no setor do agronegócio, mas nada significativo. De maneira geral, o Brasil – como o restante da América Latina – não estava no eixo de prioridades dos EUA e a campanha de ambos os candidatos refletiu esse desinteresse para com a região. Por isso mesmo, também as perdas e eventuais retaliações devem ser de menor monta que as esperadas no México e entre os tigres asiáticos.
Há, ao contrário, um terreno vasto para negociações bilaterais em áreas ainda inexploradas com o parceiro Brasil. Trump pessoalmente tem negócios por aqui (sociedade em hotel, além de marca licenciada para edifícios) e conhece as necessidades e potenciais locais, o que pode dar margem a futuras aberturas. O diálogo frágil do Brasil com os EUA marcou as gestões petistas (voltadas basicamente para o Mercosul) e agora pode ocorrer uma reviravolta. Neste caso, o “efeito Trump” será até benéfico.
(Nota publicada na edição 993 da revista Dinheiro)