02/01/2017 - 0:00
Sempre me causou estranheza o fato de que, ao passar em grandes shoppings center em locais nobres da cidade, há pouca presença de negros, tanto do ponto de vista da existência de lojas com temáticas étnico-raciais como da empregabilidade, ou seja, o número de atendentes negros é extremamente reduzido, quase inexistente. Mas o que há por trás disso?
A Folha de S.Paulo publicou, pela primeira vez, o número de empreendedores negros que superou o de brancos no Brasil. A pesquisa feita pelo Sebrae apontou que, entre 2002 e 2012, o percentual de micro e pequenos empresários que se autodeclaram pretos ou pardos subiu de 44% para 50%. A mudança reflete transformações econômicas e culturais. A ascensão da chamada nova classe C – 80% negra, segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência – significou tanto a expansão do mercado consumidor como do empresariado negro. Então, gostaria de relatar aqui um movimento silencioso, mas não menos importante, que vem acontecendo no segmento do afroempreendedorismo.
No fim do ano passado, o Shopping Light promoveu, pela segunda vez consecutiva, o Natal da Igualdade. Empreendedores afrodescendentes tiveram a oportunidade de expor seus produtos em um espaço dentro do shopping, no 3º Piso. A ação procura estimular o desenvolvimento socioeconômico da população negra, por meio da valorização do afroempreendedorismo. A primeira edição aconteceu em dezembro de 2015 e foi um sucesso de público. Por isso, o período de exposição foi ampliado na segunda edição. Nove empreendedores que integram a Associação Cultural de Afroempreendedores, lançada em 2016, ofereceram artigos de artesanato, moda, decoração e acessórios diversos com a temática étnico-racial.
Em 2013, houve um chamamento público convocando os empreendedores e empreendedoras da capital e seu entorno para participar da seleção da 1ª Feira da Consciência Negra. A apresentação de produtos relacionados com a temática afro-brasileira e o fato da feira ser realizada no Largo do Paissandu, onde está localizada a Igreja Nossa Senhora dos Rosários dos Homens Pretos. Além da valorização do trabalho realizado e contribuição para o desenvolvimento econômico da população afrodescendente, essa ação resultou em outros desdobramentos positivos, como a “retomada” do Largo do Paissandu, reafirmando a ocupação de um espaço histórico e legitimamente negro.
Com a alta adesão e a repercussão positiva do evento, foi solicitada ao poder público a continuidade dessa ação. Assim, novas parcerias e oportunidades foram criadas nos anos seguintes no âmbito privado e público para esses empreendedores, tais como ações no Shopping Light e no Aristocrata Clube, entre outras instituições.
Pensando na organização e constituição legal desses empreendedores, foi proposta a formação de uma associação, para que se ampliasse o rol de negociação e exposição de seus produtos. A Feira de Afroempreendedores, realizada periodicamente no Largo do Paissandu, passou a contar, então, com sua própria associação. Atualmente, são 101 empreendedores cadastrados, dos mais variados segmentos, que atuam nas feiras num sistema de revezamento (cada feira tem disponibilidade para 30 barracas). A entidade civil, sem fins lucrativos, trabalha para promover o desenvolvimento econômico e social dos empreendedores negros, por meio da viabilização e comercialização de seus produtos, oportunidades de trabalho e incentivo aos negócios da população afrodescendente.
O lançamento da Associação Cultural dos Afroempreendedores integrou a programação especial do curso Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a Década Internacional de Afrodescendentes, que aconteceu também em 2016, em parceria com a Câmara Municipal de São Paulo, na Escola do Parlamento.