14/09/2011 - 21:00
O americano Reed Hastings teve de pagar, certa vez, US$ 40 de multa a uma locadora por ter atrasado a devolução de Apollo 13, longa-metragem estrelado por Tom Hanks. Depois de lamentar a perda de uns tostões por conta do ocorrido, ele resolveu fazer do limão uma limonada: e se existisse uma empresa que não cobrasse multa dos clientes por atraso na entrega dos vídeos? Seguramente atrairia uma boa clientela, a começar por ele próprio, pensou. Esse foi o estalo para que Hastings, à época um empreendedor da área de software, fundasse alguns meses depois, em 1997, a Netflix, uma locadora online que funcionaria de um modo diferente. O modelo desenhado era o seguinte: o cliente paga uma módica assinatura, atualmente a partir de US$ 8, que lhe dá o direito de fazer um determinado número de locações por mês. Tudo sem sair de casa.
“Quero dar às pessoas a possibilidade de assistir ao que quiserem, na hora que preferirem” -
Reed Hastings, fundador da Netflix
O pedido é feito pela internet. Já a entrega e a devolução são realizadas pelo correio. E adeus tarifas por atraso: o cliente devolve o filme apenas quando quiser trocar por outro. A sacada de Hastings reinventou o mercado de aluguéis de filmes e deixou à beira da falência a Blockbuster, a rede que um dia reinou absoluta nesse setor e que chegava a obter algo próximo de US$ 1 bilhão por ano só com multas cobradas dos clientes. “Naquele dia em que atrasei a devolução, percebi que havia um grande mercado para um serviço de aluguel de filmes que não cobrasse multas”, diz Hastings, em entrevista à DINHEIRO. Quase uma década e meia depois, o empresário viu a sua Netflix registrar uma receita em 2010 de US$ 2,2 bilhões. Foi com a imponência desses números que ele desembarcou em São Paulo, na semana passada, para lançar a operação brasileira da Netflix. Além do Brasil, a empresa estreou simultaneamente em outros 42 países latino-americanos. “Queremos ser uma empresa global”, afirma.
Responsável por uma companhia avaliada em cerca de US$ 11 bilhões, o empresário veio ao Brasil com uma estratégia agressiva: o primeiro mês do serviço é grátis. Daí por diante, basta pagar uma assinatura mensal de R$ 14,99. O modelo que está à disposição dos brasileiros é diferente daquele que marcou o começo da Netflix, com envio de DVDs pelos correios. Isso porque, após ver o sucesso do YouTube, Hastings percebeu que era hora de reinventar o seu negócio. Em 2007, Hastings passou a oferecer a possibilidade de ver filmes via streaming, uma tecnologia que permite a transmissão de vídeos pela internet, para acesso por meio de computadores. Hoje, o serviço da Netflix já chegou à televisão, ao videogame e a smartphones e tablets.
“Queremos dar às pessoas a possibilidade de assistir ao filme que quiser, na hora em que desejar e no aparelho preferido”, diz Hastings. Essa ambição deixa as empresas de tevê a cabo de cabelo em pé. É fácil entender a razão. Segundo um estudo do banco Credit Suisse, dentre os clientes da Netflix com até 34 anos, 37% abandonaram a tevê paga. Diante da investida da companhia americana, a concorrência no Brasil se movimenta. A brasileira Netmovies, que nasceu inspirada no modelo da Netflix, também está oferecendo um mês grátis aos novos clientes. Já o portal Terra anunciou a expansão, para a América Latina, do seu serviço Video Store. Como se percebe, a vinda ao País de Hastings, que foi eleito em 2010 o CEO do ano pela revista Fortune, já chacoalha o mercado. Pode ser o empurrão que faltava para fazer deslanchar de vez o mercado de transmissão de filmes pela internet no Brasil.