O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reafirmou nesta quinta-feira, 29, que o processo de flexibilização monetária vai continuar, caso as condições da economia permaneçam como estão hoje. No entanto, ele considerou que parece necessária uma pausa em junho para que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa avaliar essas condições e assegurar a permanência no futuro dos benefícios de inflação e juros baixos.

“Se as condições permanecerem como estão, continuaremos a flexibilização monetária”, disse Ilan Goldfajn.

Segundo o presidente do BC, o Copom decidiu dar mais estímulos no curto prazo diante da inflação baixa. Além disso, o juro real hoje está entre 2% e 2,5%, o que é um estímulo adicional para garantir que a inflação retorne à meta em velocidade adequada.

“Mas estamos olhando outra dimensão, que é assegurar que conquistas de inflação e juros baixos se perpetuem”, afirmou.

O presidente do BC ressaltou que, em meados deste ano, o Copom já vai estar olhando majoritariamente para o cenário da economia em 2019. Por isso, caberá a reavaliação do cenário, o que significa possivelmente uma pausa no ciclo de redução de juros. “A pausa parece ser necessária para avaliar, nessa dimensão de garantir o futuro, o que o Copom fará mais adiante (na reunião de junho)”, afirmou. Assegurar esse futuro de inflação e juros baixos, segundo o presidente do BC, é a “parte mais difícil que vai começar”.

Segundo Ilan, há hoje incertezas sobre a defasagem dos efeitos da política monetária como estímulo à economia. “Pode levar mais ou menos tempo que o esperado. Será que o Copom já deu estímulo suficiente e inflação vai convergir tanto ou mais, ou vai levar mais tempo do que imaginamos?”, questionou.

No cenário base, a inflação sai do patamar baixo em que está hoje e vai convergindo para a meta “ao longo do tempo”. “Vemos hoje essa recuperação como consistente. Portanto, inflação migra para convergência à meta”, disse.

Sinalização anterior

O presidente do Banco Central afirmou que não considera precipitada a sinalização feita anteriormente de que haveria uma pausa agora no ciclo de flexibilização monetária. Na última reunião, porém, o Comitê de Política Monetária decidiu cortar a Selic para 6,50% ao ano e indicou nova redução em maio.

Agora, o Copom repete a sinalização de pausa no ciclo, mas a partir de junho. “De fato as condições mudaram desde última reunião, não só nós continuamos com essa trajetória, mas se mudarem as condições vamos mudar a nova indicação”, disse Ilan. “Não considero precipitada sinalização anterior, faz parte da nossa transparência, antecipar o que Copom pode fazer.”

Segundo o presidente do BC, o Copom reage em função de mudanças de cenário, e esse movimento é inclusive antecipado por analistas, que já sabiam qual seria a trajetória dos juros diante da queda da inflação. “Olhamos e chegamos à conclusão de que, para assegurar volta da inflação à meta, deveríamos sinalizar mais queda de juros na próxima reunião. Vamos ser transparentes de novo agora dizendo que achamos que nova queda é possível, até provável, se as condições se mantiverem, mas também colocamos que dependem das condições”, afirmou.

Ilan Goldfajn ressaltou que novos cortes estão sujeitos ao comportamento da economia e às condições do cenário básico.

Juro neutro

O presidente do BC afirmou também que o juro neutro da economia depende de fatores distintos, que englobam a realização de reformas, dos ajustes e de incertezas. “Temos que balancear, de um lado inflação mais baixa no curto prazo e de outro necessidade de garantir que inflação permaneça baixa. O juro neutro será inferido com base nessas duas dimensões”, disse.

Reformas

O presidente do Banco Central disse que as projeções do Comitê de Política Monetária (Copom) embutem a continuidade de reformas da economia brasileira. Ele citou a reforma da Previdência e a questão da autonomia do BC entre as reformas consideradas pelo comitê ao fazer suas expectativas.

“Precisamos que a economia brasileira continue com ajuste e reformas. As projeções do Copom embutem a continuidade de reformas. Não é uma questão de curtíssimo prazo, mas é uma questão que precisa ser implementada”, afirmou Ilan.

O presidente ressaltou que o risco é que uma possível interrupção das reformas e do ajuste venha em um cenário internacional mais adverso do que o existente hoje, que ele avaliou como benigno.

Ilan ressaltou que o Banco Central está em um mundo diferente do passado, em que tem que balancear, de um lado, a necessidade de garantir a volta da inflação para a meta em velocidade adequada e assegurar que a conquista da inflação baixa perdure mesmo diante de incertezas e possíveis choques futuros, mesmo recado dado na ata do Copom. Ele disse que o Copom tem flexibilidade para atuar com essas duas dimensões e reagir a riscos para os dois lados.

Inflação mais baixa

O presidente do BC lembrou que a inflação veio mais baixa do que o esperado no começo do ano e que houve uma surpresa desinflacionária de quase 0,40 p.p.. Além disso, existem projeções para 2018 ainda abaixo da meta e que a inflação ao longo de março ainda deverá continuar baixa. “Temos que assegurar que as conquistas da inflação baixa se mantenha por tempo prolongado e que seja uma mudança estrutural e não conjuntural. Existe risco que isso aconteça.”

Ilan classificou o RTI divulgado nesta quinta-feira como o “melhor relatório que leu nos últimos tempos”.

A entrevista do presidente desta quinta-feira inaugura uma nova sistemática do Banco Central em que ele falará com a imprensa quatro vezes ao ano, nos momentos em que o relatório de inflação for divulgado junto da ata do Copom. “Isso é feito em vários bancos centrais do mundo e consideramos um avanço em nossa comunicação e transparência. Acreditamos que é um passo bem vindo.”

Taxas bancárias

A trajetória dos juros bancários tem sido compatível com o ciclo de flexibilização monetária, mas seria desejável que houvesse queda mais pronunciada dessas taxas, sinalizou Ilan Goldfajn. Segundo ele, o BC vai continuar trabalhando em medidas regulatórias para tentar acelerar esse processo.

“Os juros bancários mais ou menos estão compatíveis com outros episódios do passado. Isso não significa que não gostaríamos que houvesse queda mais rápida nas taxas bancárias, e estamos trabalhando para isso, com medidas ligadas a custos e concorrência. Nós vamos continuar fazendo isso”, disse o presidente do BC.

Caso a Selic e a inflação continuem baixas “por um bom tempo”, haverá uma “revolução” no sistema financeiro, afirmou Ilan.

É por isso que o BC precisa de tempo para avaliar se as condições atuais de juros e preços são estruturais ou conjunturais. “A prudência recomenda dizer ‘se as condições se mantiverem’, porque temos que avaliar isso”, disse.

Meirelles

Apesar de dizer que não comentaria a provável saída do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, do cargo na próxima semana para disputar as eleições de outubro, o presidente do Banco Central disse que não haverá mudanças na política econômica e na política monetária.

“Não tenho comentado até agora, não é nessa última semana que vou comentar”, afirmou. “Política econômica não muda, política monetária não muda”, concluiu Ilan.

Questionado também se permanecerá à frente do Banco Central até o fim do ano, ele respondeu: “Claro, estou aqui.”

Meta de inflação

O presidente do Banco Central afirmou que a autoridade monetária tem sido contrária a mudanças em metas de inflação já estabelecidas. A meta já está fixada em 4,25% em 2019 e 4,00% em 2020. “Temos sido contra mudar meta estabelecida, somos a favor de olhar a próxima meta, que é 2021, e tomaremos decisão para 2021 em junho”, disse.

Inflação futura

O presidente do Banco Central avaliou como adequada a trajetória da inflação esperada pelo Banco Central para 2019 e 2020. Ele ressaltou, como já comunicado pelo Comitê de Política Monetária, que será feita uma pausa para avaliar os riscos envolvidos nessa trajetória. “Para 2018, consideramos que havia a necessidade de garantir uma queda adicional de juros.”

Na entrevista, o presidente do BC foi perguntado sobre os riscos para a política monetária no curto prazo dada as prisões nesta quinta de pessoas próximas ao presidente Michel Temer e das eleições de outubro. “Vamos sempre olhar todos os riscos que existem”, afirmou.

De acordo com o presidente, foi retirada a referência à desinflação dos alimentos no balanço de riscos que a autoridade monetária considera nas decisões de política monetária porque o processo está disseminado na economia. “A ideia principal é que não é só alimento, é uma coisa mais ampla.

Perguntado sobre as previsões do Banco Central para o câmbio, Ilan Goldfajn, disse que não caberia à autoridade monetária comentar a trajetória do câmbio, que é afetado por muitos fatores. “A previsão do câmbio torna os economistas mais humildes”, brincou.

Mesmo após a surpresa desinflacionária de 0,39 p.p no primeiro semestre, o Banco Central não mudou a metodologia para suas projeções de curto prazo. Em relação ao aumento na projeção de investimento de 3% para 4,1% em 2018, o diretor de Política Econômica, Carlos Viana, disse que se trata de um ajuste feito em reação aos novos dados recebidos pelo Banco Central desde dezembro, como as condições financeiras mais favoráveis.

Compulsório

O presidente do Banco Central disse que a instituição vê o compulsório exclusivamente como uma forma de afetar o custo de crédito e de melhorar a eficiência do sistema. “Não levamos o compulsório como uma medida de política monetária. Para nós, é algo independente”, afirmou.

Ilan Goldfajn comentou que o BC está tentando atacar todos os itens que reduzam os custos do sistema financeiro, inclusive o de competição. “Tem várias medidas que avaliamos ao longo do tempo e que, se conseguirmos manter, vai levar a uma queda contínua e mais rápida do spread ao longo do tempo”, afirmou.

As discussões do projeto que trata sobre a autonomia do Banco Central estão, segundo ele, “andando bem” no governo, que está trabalhando a melhor forma legislativa de encaminha-lo. “Está indo de acordo com o esperado”, afirmou. Segundo ele, a expectativa é que seja votado ainda neste ano.

Ilan disse ainda que as mudanças em relação ao cheque especial devem ser divulgado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), até abril.

O presidente comentou ainda que o Banco Central não se manifestou sobre a legalidade dos empréstimos da Caixa a Estados. “Nada muda, nosso foco tem sido prudencial de risco, não nos manifestamos sobre legalidade”, afirmou.

O diretor de Política Econômica, Carlos Viana, disse que não há um indicador direto entre inflação e geração de emprego, e que a reforma trabalhista torna ainda mais desafiador quantificar essa relação.