Na manhã desta terça-feira, 21, era incomum o cenário na tenda da Operação Acolhida, em Pacaraima, na fronteira entre Roraima e a Venezuela. Em vez das costumeiras filas de refugiados, que até pouco chegavam a dar voltas do lado de fora do equipamento do Exército, responsável por receber e fazer triagem dos imigrantes, havia diversos bancos de espera vazios.

Segundo agentes do local, o fluxo de chegada de venezuelanos caiu de forma brusca desde sábado, 18, quando um grupo de moradores de Pacaraima destruiu objetos e incendiou barracas de refugiados. Se antes cerca de 1,2 mil pessoas cruzavam a fronteira, nesta terça não passavam de 300.

“Queimaram todos os meus documentos, só me sobrou a roupa do corpo”, diz o engenheiro de sistemas Raul León, de 36 anos, um dos venezuelanos atacados no sábado. Havia cruzado a fronteira na véspera. “A triagem demorou mais de um dia”, conta.

Desempregado, León saiu da Venezuela para fugir da falta de comida e de remédios. “Já passei três dias sem comer”, diz. “Sei operar redes de comunicação, câmeras de segurança… Me recomendaram trabalhar em Manaus, mas não sei quando vou conseguir ir.”

Após as agressões de sábado, León pensou em voltar. “Senti medo, mas depois as coisas foram se acalmando”, relata. “Os brasileiros pensaram que foram venezuelanos que agrediram o comerciante. Entendo. Mas nenhuma violência se justifica.”

Ao lado da mulher e de cinco filhos, a mais nova de dois anos e o mais velho de 12, o comerciante Gregorio Bello, de 37 anos, estava com a passagem comprada para o Brasil quando recebeu a notícia do incêndio no acampamento. “Não podia devolver, então pensei: ‘vamos em nome de Deus’.”

O desejo, segundo conta, é chegar a Boa Vista e matricular as crianças na escola. “Até o momento, os brasileiros me atenderam muito bem”, diz. “Espero que dê tudo certo.”