No ano passado, a enóloga Almudena Alberca se tornou a primeira mulher espanhola a conquistar o título de Master of Wine. Confesso que a informação do pioneirismo de Almudena chamou mais a minha atenção do que o anúncio do nome dos 14 aprovados. Como que a Espanha, tão tradicional nos vinhos e um dos poucos países a considerar o vinho um alimento, não tinha ainda uma mulher MW entre os seus pares? Às vezes, a estatística revela muito sobre as coisas.

Formada em engenharia agrícola e com especialização em enologia e viticultura, Almudena é a diretora técnica da Viña Mayor desde 2015. A vinícola é uma das maiores na elaboração de vinhos na Ribera del Duero, Rueda e Toro. Atualmente, o time de MW é formado por 384 profissionais, de 30 países diferentes. Desde total, pouco mais de 1/3 são mulheres: exatas 132 pessoas. A primeira MW foi a inglesa Sarah Morphew Stephen, em 1970, exatos 17 anos depois do título ser concedido pela primeira vez. A inglesa Jancis Robinson obteve o seu MW em 1984 e foi a primeira mulher, então fora do mercado do vinho, a conquistar este título.

Ainda sobre este tema, o Instituto do Master of Wine informa que 1979 foi o primeiro ano em que foram aprovados o mesmo número de homens e mulheres. Até então o número de homens aprovados era sempre superior ao de mulheres. E, em 2001, pela primeira vez, mais mulheres foram aprovadas do que homens. Mais recentemente, em 2014 e em 2015, novamente a quantidade de mulheres aprovada foi maior do que o de homens.

Não é fácil ser um MW, estas duas letrinhas mágicas que acompanham o nome dos profissionais do vinho. O título máximo do mundo do vinho requer anos de estudos e muitas viagens pelos vinhedos em todos os continentes. As provas finais incluem difíceis degustações às cegas (quando não se sabe o que está nas taças) e trabalhos escritos, avaliados pela banca inglesa. A propósito, não há brasileiras com este título. O único MW brasileiro é Dirceu Vianna Júnior, que vive em Londres. Ele conquistou o título em 2008.

As mulheres e o vinho

Durante todo o mês de março posto aqui as mais diversas histórias de mulheres no mundo do vinho. Em 2018 foram 23 textos de personalidades e épocas diferentes e em 2019 continuo a tradição. Adorei pesquisar e conhecer mais sobre estas pessoas e seus desafios. Confira, a seguir, quais foram estas mulheres.

2019

2018

– Dona Antónia Ferreira, a querida dona Ferreirinha, que tanto fez pela região do Douro e, por que não, por Portugal

– Barbe-Nicole Clicquot, mais conhecida como a Veuve Clicquot

– Jancis Robinson, a inglesa mais influente do mundo do vinho com o seu www.jancisrobinson.com

– Laura Catena, a argentina que investe nas pesquisas para conhecer e elaborar vinhos de qualidade, na vinícola Catena Zapata

– Lalou Bize-Leroy, a polêmica e competentíssima produtora da Borgonha

– Serena Sutcliffe e os leilões de vinho

– Maria Luz Marín, a chilena pioneira no vale de San Antonio, no Chile.

– Mônica Rossetti, brasileira que atualmente trabalha na Itália. Ela tem papel primordial na história da vinícola gaúcha Lidio Carraro

– Natasha Bozs, uma das primeiras enólogas negras da África do Sul, da Nederburg

– Elena Walch, a arquiteta que virou enóloga e hoje tem sua própria vinícola no Alto Adige

– Véronique Drouhin-Boss, a francesa da quarta geração da domaine Drouhi

– As associações de mulheres e vinhos já existem em 10 regiões francesas

– Lorenza Sebasti, proprietária da vinícola italiana Castello di Ama

– Fabiana Bracco, da Bracco Bosca, que tanto faz pelo vinho uruguaio que pode ser considerada a embaixadora do país

– A portuguesa Filipa Pato, dos vinhos da Bairrada

– Lis Cereja, a brasileira que mais e melhor levanta a bandeira do vinho natural no Brasil

– Féminalise, um concurso de vinhos francês que só tem juradas

– Albiera Antinori, a primeira mulher a dirigir a tradicional vinícola italiana

– Susana Balbo, a pioneira nos vinhos argentinos

– Cecília Torres, a primeira mulher nos vinhos chilenos com o Casa Real

– Ludivine Griveau, que dirige os vinhos do Hospice de Beaune, na Borgonha

– A dupla de amigas e enólogas portuguesas Sandra Tavares e Susana Esteban

– Patricia Atkinson, e a sua aventura de elaborar vinhos franceses