08/06/2019 - 21:53
A nota enviada anteriormente continha uma incorreção: A reportagem classificava incorretamente as doses de tratamento emergencial como “vacinas”. A informação foi corrigida.
O Ministério da Saúde teve de encomendar emergencialmente 1,2 mil doses de tratamento contra difteria de um laboratório internacional, por causa de problemas na produção do insumo pelo Instituto Butantã, único fabricante nacional. A baixa nos estoques do soro vem no momento em que a Venezuela vive um surto da doença e o Brasil registra, nos últimos três anos, sucessivas quedas nos índices de cobertura vacinal.
Desde o fim da década de 1990, a doença bacteriana que afeta principalmente amígdalas, faringe, laringe e nariz, podendo causar dificuldade de respirar, não exigiu alerta. Nos últimos cinco anos, por exemplo, foram apenas 32 casos no País.
A ameaça voltou em 2016, quando a crise na Venezuela se intensificou e fez doenças controladas reaparecerem. Depois disso, o país vizinho já registrou 1.688 casos e 284 mortes pela doença. Ao mesmo tempo, no Brasil, o índice de cobertura da vacina DTP, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, caiu de 95% para 80%.
Só com 12 frascos no estoque, o Ministério da Saúde iniciou o processo de compra das 1,2 mil ampolas por meio de uma parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que intermediou a compra com o fabricante internacional. Mas as ampolas só devem chegar ao País no segundo semestre.
Para Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), embora o número de casos de difteria ainda não tenha aumentado no País, a situação é preocupante. “A volta do sarampo, com 10 mil casos no ano passado na Região Norte, nos mostrou o que pode acontecer quando a cobertura vacinal cai”, diz.
O ministério afirma que reforçou a importância da vacinação de rotina com os Estados e ofertou todas as vacinas do calendário nacional aos venezuelanos que chegam ao Brasil pela fronteira com Roraima. Questionado sobre os problemas no processo de produção, o Instituto Butantã afirmou que continua a fornecer o insumo para os casos solicitados, conforme acordo feito com o Ministério da Saúde, que prevê que, embora a entidade não esteja em condições de produzir toda a demanda da pasta federal, ela pode entregar frascos diretamente aos Estados sob demanda. O Butantã destacou ainda que “vem realizando esforços no sentido de ampliar a sua produção para atender a toda a demanda do Ministério da Saúde e, eventualmente, até fornecer para outros países”.
Reforço
O esquema vacinal contra a difteria deve ser feito com três doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade, e dois reforços (1 ano e 3 meses e 4 anos). O que muitos não sabem, porém, é que o imunizante exige reforços a cada dez anos até o fim da vida. Eles são feitos com a vacina dupla adulto. “Poucas pessoas vão buscar esses reforços. A maioria só descobre a vacina quando é exposto a algum risco e tem de tomar a de tétano, que é dada na mesma vacina”, diz Cunha. Ele explica que os adultos vacinados, que não tomaram o reforço, ainda estão parcialmente protegidos, mas não de forma ideal.