A COVID-19 não é a única calamidade deste ano: as infestações de gafanhotos migratórios devastaram cultivos em várias regiões do mundo, um fenômeno ligado a um feromônio irresistível, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (12).

Individualmente, este gafanhoto é bastante inofensivo, mas pode se transformar, mudar de cor e se juntar a seus congêneres em nuvens de milhões de indivíduos.

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Segundo um estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature, o segredo desta metamorfose está relacionado a um feromônio: quase como um perfume irresistível, a substância química é emitida pelo inseto assim que está perto de um punhado de seus semelhantes.

Em um efeito bola de neve, o feromônio atrai outros indivíduos que se juntam ao grupo e também começam a emitir essa substância, a 4-vinilanisol ou 4VA.

Esta descoberta ocorre em um momento em que as infestações de gafanhotos devastaram cultivos na África Oriental e ameaçam o abastecimento de alimentos no Paquistão.

O estudo permite prever algumas aplicações, como a criação de gafanhotos geneticamente modificados que estariam privados do detector de feromônio, ou a instalação de armadilhas para atrair os insetos.

Os pesquisadores experimentaram armadilhas de feromônio, instalando-as em locais controlados e em campos, o que realmente atraiu os gafanhotos.

É “relativamente eficaz”, até mesmo “se for necessário uma otimização e ajustes para passar do experimento para uma aplicação prática”, comentou um dos autores, Le Kang, da Academia de Ciências da China.

Uma modificação genética desses gafanhotos poderia permitir também “um controle sustentável e verde” dessas infestações, destacou o cientista. Mas isso iria exigir esforços a longo prazo e uma “avaliação rigorosa da segurança biológica antes de sua aplicação”, acrescentou.

Para Leslie Vosshall, pesquisadora da Universidade Rockefeller, que não participou do estudo, a perspectiva mais entusiástica seria encontrar uma substância química que bloqueasse a recepção da 4VA.

“A descoberta de tal molécula proporcionaria um antídoto químico ao agrupamento dos insetos e devolveria a vida pacífica e solitária aos gafanhotos”, comentou.

No entanto, ela destacou que existem muitas incógnitas, especialmente saber se este feromônio é o único responsável pelo comportamento grupal desses insetos.