27/08/2020 - 18:55
O superintendente-geral do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), Humberto Casagrande, foi o convidado da live da IstoÉ Dinheiro. Na entrevista ao editor da revista Klester Cavalcanti, ele conta sobre a sua carreira de executivo, de mais de três décadas no mercado financeiro, detalha como o CIEE faz para selecionar, formar e empregar os jovens aprendizes e estagiários e abriu o “livro-caixa da instituição”.
“O dono do CIEE é a sociedade brasileira. Somos a maior ONG do Brasil. Temos alma filantrópica e braços empresariais”, diz. Os números da instituição são robustos. Registrou no ano passado receita de R$ 348 milhões, 20% a mais que em 2018, dá guarida a 300 mil jovens, emprega 1.100 instrutores distribuídos por mais de 600 centros espalhados pelo País. “Temos uma fila de 3 milhões de jovens buscando oportunidade”, diz.
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Na live, Casagrande também analisou o comportamento dos jovens brasileiros diante do mundo do trabalho, citou pesquisas que comprovam suas teses e apresentou sua grande aposta para que o País minimize os estragos econômicos feitos pela crise sanitária da covid-19, criando oportunidades para que os jovens entrem no mercado de trabalho. “Cerca de 70% dos jovens que passam pelo CIEE deixam de ser nem-nem”, afirma.
Para ele, a questão do emprego está ligada às condições para a sobrevivência das empresas, das famílias e da preservação da capacidade de investimentos públicos, como alavanca da recuperação da economia no pós-pandemia.
Pela lei, diz ele, os aprendizes devem ser contratados pelo prazo máximo de dois anos, recebendo como remuneração um salário mínimo proporcional às horas trabalhadas, o que resulta num custo total de R$ 30 mil por aprendiz, somados os 24 meses contratuais. “Com 0,5% do orçamento do combate à covid-19, nós empregaremos, por dois anos, 400 mil jovens”, diz.
Instituição de assistência social dedicada a promover o acesso ao primeiro emprego sem prejuízo do estudo escolar, com 56 anos de atuação, o CIEE se debruçou sobre o desafio da empregabilidade dos jovens, com o objetivo de identificar propostas de solução, a partir da utilização e do respeito aos instrumentos legais que disciplinam os programas de inserção socioprofissional dos jovens. “Não precisa mais de novas leis, inventar soluções, programas e projetos para empregar jovens. O CIEE é uma experiência comprovada de sucesso”, afirma.
Antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, a situação de jovens procurando emprego já era crítica. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos, no primeiro trimestre deste ano, ficou em 27,1%. Índice bem acima da média geral, de 12,2%, no País.
A sugestão para implementação do projeto de empregar quase meio milhão de jovens, de acordo com Casagrande, é que o governo federal divida o custo do projeto – que foi apresentado ao governo federal há três meses – com as pequenas e médias empresas. Ele explica: “O governo assume o pagamento de metade do salário do jovem, investindo R$ 625 por mês em cada aprendiz e a empresa com o restante, o que seria de grande ajuda para famílias de baixa renda”, avalia.
O impacto direto e indireto dos aprendizes na economia é de R$ 5,6 bilhões anuais, de acordo com levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pelo CIEE. Com cerca de três mil funcionários e uma cartela de 35 mil clientes – entre eles, gigantes como Bradesco, Magazine Luiza e Souza Cruz, além de diversos órgãos públicos -, o CIEE já beneficiou mais de 5 milhões de pessoas no Brasil.
A lógica de Casagrande para as empresas e governo investirem na contratação de jovens aprendizes e estagiários do CIEE é que não adianta querer gerar emprego se, ao seu redor, está tudo destruído. “Filantropia é estratégia de negócios, estratégia empresarial e de evolução da sociedade.”